“um dos melhores guitarristas de blues desde Stevie Ray Vaughan”. Exagero? Então debata com Steve “Krusher” Joule, da revista Kerrang…
Gwyn Ashton nasceu no País de Gales e migrou para o sul da Austrália ainda pequeno. Guitarrista iniciante na virada para os anos 70, iniciou sua jornada musical aos 16, tocando em bares e pequenos festivais. Lançou seu primeiro álbum, Feel the Heat, em 1993. De volta para a Europa em 1996, abriu shows de gigantes como B.B. King e Johnny Winter. Fez parte do cast da antenada Virgin Records que, sacando suas possibilidades comerciais, o promoveu para além das fronteiras do Reino Unido.
Gravou com os músicos de apoio de Rory Gallagher, foi eleito o terceiro melhor guitarrista do ano de 2001 pelos leitores da revista francesa Guitar Part e Prohibition, de 2006, venceu na categoria disco do ano da inglesa Guitar and Bass. Gwyn desembarcou em terras tupiniquins no último dia 24/7 para promover seu mais recente trabalho, Radiogram, lançado em 2012. O JUDÃO invadiu o ensaio e bateu um papo com o guitarrista, que falou sobre rótulos, parcerias, influências e a turnê que já está em andamento.
1) Radiogram abre com o que seria o som de uma agulha percorrendo os sulcos de um disco de vinil. A partir daí, conclui-se que o fio condutor do álbum é um retrocesso musical no bom sentido. Como você chegou neste conceito?
Muitos discos de rock e blues da atualidade pecam pela super produção. Meus discos favoritos são de uma época em que se gravava tudo ao vivo em estúdio. Minha intenção desde o começo foi que o álbum reproduzisse o som da banda tocando em estúdio.
2) A produção orgânica dá a impressão de que o disco foi gravado nos anos 70. Como você fez para obter essa vibe?
Fazendo o que Robert Johnson fez num quarto de hotel nos anos 30 e gravando por conta própria. Montei acampamento no quarto da casa de um amigo e gravei usando um notebook. Um amigo de Los Angeles se encarregou da mixagem e fez a gravação soar ainda mais autêntica e retrô.
3) Você concorda que essa abordagem retrô é uma tendência que vai e vem no rock e no blues?
Eu acho que a música percorre ciclos. O que é popular hoje em dia, eventualmente, deixará de ser popular um dia. Nesse revezamento, o importante é que a música soe sempre atual, atemporal, e isso independe do estilo.
4) Quais instrumentos você toca no disco?
Apenas guitarra e baixo. Contei com dois gaitistas. Um amigo meu tocou violão de 12 cordas e me ajudou com os backing vocals. Robbie Blunt, que tocou com Robert Plant, deu uma força com guitarras adicionais e Don Airey, do Deep Purple, gravou os teclados. Conheci Don quando tinha 17 anos e ambos estávamos em turnê na ocasião. Ele também participa de duas faixas de Prohibition.
5) Como você lida com o rótulo de guitarrista de blues?
Eu não sou o que se pode chamar de guitarrista de blues tradicional. Cresci na Austrália, numa região litorânea e o blues tradicional não representa isso. Reconheço que nele está a raiz de toda a música contemporânea, mas não posso fingir que sou algo que não sou. Meu fundamento é o rock.
6) Devo concordar que o seu lado roqueiro aflora com muito mais força em Radiogram. Quem são as suas influências no rock?
Definitivamente, Radiogram soa mais rock que os meus discos anteriores. Quando demos início às gravações, o batera e eu concluímos que este seria o melhor caminho a ser tomado. Minhas principais influências são Jeff Beck, Jimmy Page, Richie Blackmore, Rolling Stones, ZZ Top... enfim, todos esses deuses clássicos.
7) Você contará com três jovens músicos brasileiros na sua banda de apoio. Como vocês se conheceram e o que você tem a dizer a respeito do trabalho com eles?
Nos conhecemos num bar gay (risos). Na verdade, nos conhecemos pelo Facebook, que é por onde negocio boa parte das minhas turnês. Arthur Kauffmann é um dos melhores bateristas e percussionistas com quem tive o prazer de tocar. Bernardo Barbosa é um baixista que dá o sangue em cada nota e Fabrizio Iorio é o Jon Lord que eu nunca tive, trazendo o som de seu Hammond para a brincadeira. Sério, se esses caras tivessem peitos, eu casaria com todos eles! (risos)
8) Recentemente, perdemos o talento de Johnny Winter. Você se lembra de quando abriu shows dele num passado não muito distante?
Johnny foi um dos meus heróis, uma das minhas primeiras influências. Abri alguns shows de uma de suas turnês de retorno à Inglaterra e sua saúde já estava bastante deteriorada. Sempre tinha enfermeiros ao redor tomando conta. O reencontrei em Dallas e Los Angeles. Depois, excursionamos com Robert Cray pela Alemanha, mas nunca sentamos para conversar, pois ele só saía do seu quarto nos hotéis em cima da hora de subir ao palco e voltava assim que sua apresentação terminava.
FAIXA BÔNUS: você acredita que todo músico deva deixar um legado? Pelo que você gostaria de ser lembrado?
Nunca havia pensado nisso antes. Para mim, é mais importante estar em condições de acordar na manhã seguinte do que me preocupar em deixar algum tipo de legado. Fazer as pessoas felizes através da minha música é a maior recompensa que posso ter em vida, agora, legado... eu já estaria morto mesmo! (risos)