Breaking Bad: o segredo do sucesso está em Darwin | JUDAO.com.br

Eu era do grupo da Olivia Wilde. Mas agora não sou mais. Agora sou descolado. :D

Em agosto de 2013, o mundo estava começando o ápice da febre de Breaking Bad, que começava a dar seus primeiros passos rumo à reta final. Eu, confesso, estava me sentindo perdido. Tinha visto pouquíssimos episódios, perdidos, isolados, e até tinha gostado. Mas tinha outras séries na fila, que eu acompanhava com mais fidelidade. E assim, num passe de mágica, me senti deixado de lado pelo mundo. Porque todas as pessoas que eu conhecia eram fanáticas por Walter White, Heisenberg, SAY MY NAME! e só eu não entendia muito bem o motivo da devoção. Fui tudo tão rápido que achei que eu tinha ficado em coma por alguns meses e nem sequer percebera. Finalmente entendi como meus amigos que nunca deram bola para Lost se sentiram conforme o final da série foi chegando e todo mundo só falava naquilo, só tinha teorias sobre aquilo, só conseguia discutir aquele assunto na mesa do boteco nerd.

Me sentia sozinho. Até que descobri Olivia Wilde.

É, ela mesma, a bela atriz de penetrantes olhos azuis que foi a Thirteen em House – uma série que acompanhei na íntegra, aliás. Quando, naquele mês de agosto, ela postou no Twitter “Nunca vi Breaking Bad (pausa para o susto coletivo). Me sinto como se todos tivessem ido para Woodstock e eu tivesse ficado trancada na droga do carro”, me senti aliviado. Alguém como eu. Ufa. Tínhamos um lance.

Mentira.

Ela é a Olivia Wilde e eu sou só este cara. Mas ela também não tinha visto.

Agora, com o box de Breaking Bad em mãos, a série completa em Blu-ray, sinto em dizer: Olivia, eu te traí. Quebrei o nosso laço. Porque agora eu vi Breaking Bad.

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Ainda não vi tudo. Estou curtindo o momento. Mas já dá para dizer que o principal segredo do sucesso da série, que agora finalmente eu entendo, está em Darwin. Na evolução. Na tal da seleção natural, no desenvolvimento de determinadas características por uma espécie para sobreviver em um determinada ambientação. É exatamente isso que acontece com a maior parte dos personagens de Breaking Bad. Mas, essencialmente, acontece de maneira brilhante com Walter White, o professor de química diagnosticado com um câncer de pulmão e imerso em uma vida fracassada que se torna um barão do tráfico de drogas, um poderoso e cruel produtor de metanfetaminas que chega a incomodar um cartel mexicano. Claro, boa parte do crédito precisa ser dado a Bryan Cranston, ator que faz um trabalho memorável neste papel principal. Mas não dá para tirar o mérito dos roteiristas. Estes souberam mostrar as mudanças pelas quais White foi passando de maneira sutil, delicada, envolvendo o espectador.

Não foi, em nenhum momento, um corte brusco e brutal de uma trama para a outra, de um episódio para outro, de uma temporada para a outra. Foi tudo gradativo e, justamente por isso, absolutamente crível e verdadeiro. Natural. Dava para ir sentindo cada momento de evolução. Como um trem desgovernado que foi perdendo seu rumo, aumentando a velocidade, assustando quem está do lado de fora e fazendo a gente prever a merda que vai dar lá no final, quando ele encontrar um obstáculo. Porque vai acabar encontrando. E vai bater. Quando se chocar, vai ser uma cacetada e tanto.

Desculpa, Olivia. :(

Desculpa, Olivia. :(

Walter White é um químico cuja personalidade é tão volátil quanto as coisas que ele cria em seu laboratório.

Conforme as temporadas passam, percebemos que vai ficando mais difícil para Walter esconder a verdade da esposa Skyler (Anna Gunn) não porque ele é um bom homem e está preocupado em manter seu casamento e sua família, mas porque vai ficando cada vez mais claro que a fera que habitava dentro dele está à solta. Assim como acontece com o Batman, que tem em Bruce Wayne uma farsa para se esconder do mundo, aqui Walter White é que é a mentira. A verdade é a persona de Heisenberg, nome com o qual o personagem ganha notoriedade no submundo, uma alcunha forjada para homenagear o físico teórico Werner Heisenberg, criador do chamado “Princípio da Incerteza”. Bem apropriado, aliás, já que à medida que a perseguição de seu cunhado Hank Schrader (Dean Norris), agente do departamento antinarcóticos, se aperta, é impossível prever o que vai acontecer. O futuro é incerto. E, por isso mesmo, delicioso.

Sem Meias Medidas

O box é tudo que qualquer colecionador sonharia. São mais de duas horas de conteúdo inédito e exclusivo, com cenas deletadas, sequências estendidas, uma porrada de vídeos de bastidores. Tem para todos os gostos. A surpresa mais incrível, no entanto, está na caixa da sexta e última temporada. E não, não estou falando do tal “final alternativo”, que é uma delícia, é divertido, mas é muito mais uma piada do showrunner Vince Gilligan com a antiga série estrelada por Cranston, a sitcom Malcolm In The Middle, na qual vivia o pai do personagem título. Não é isso. A cereja do bolo é mesmo Sem Meias Medidas, o deslumbrante e poderoso documentário que acompanhou todo o processo de desenvolvimento deste encerramento bombástico, episódio por episódio.

Bryan Cranston e Vince Gilligan no set de Breaking Bad

Bryan Cranston e Vince Gilligan no set de Breaking Bad

São 135 minutos documentando desde a primeiríssima leitura de roteiro, passando pelas despedidas de cada um dos atores no set de filmagens e chegando ao mágico momento no qual Cranston convida a câmera para a sala de sua casa, em Albuquerque, para a leitura particular que ele e Aaron Paul (intérprete de Jesse Pinkman, o jovem aluno que se torna seu sócio no império da nova droga que desenvolveram juntos) fizeram do script do capítulo final, batizado de Felina. “Bem, parece que não teremos uma continuação”, brinca Cranston. Nem precisaria. Quando o sujeito consegue levar um anti-herói politicamente incorreto ao panteão dos grandes personagens das séries de TV, bingo, é sinal de fez o seu trabalho direitinho. Não precisa de desnecessárias continuações caça-níquel para que a gente...se lembre do seu nome.

PS: Sim, eu pulei praticamente duas temporadas porque estava curioso para ver o episódio final e este documentário. Me julguem.