Ben Kingsley e a nova virada de mesa do Mandarim | JUDAO.com.br

Seja qual for a decisão tomada pela Marvel, tenho a ligeira impressão de que vamos voltar a ver o personagem em algum momento…

Mas parece que o ator Ben Kingsley gostou desta brincadeira de filme de super-herói, hein? Em um papo com o pessoal do IGN, o sujeito comentou, claro, o seu polêmico papel no filme Homem de Ferro 3 – no caso, o ator fracassado e beberrão Trevor Slattery, que se fazia passar pelo vilão de voz trovejante Mandarim. E disse que adoraria voltar ao Universo Marvel em algum momento, talvez até com a realização de uma teoria particular: Trevor seria, na verdade, o Mandarim.

“O Mandarim inventou Trevor ou foi Trevor que inventou o Mandarim? Qual é qual?”, afirmou ele. “O Mandarim poderia ser tão absolutamente inteligente que simplesmente poderia ter tido ‘quer saber, vou inventar este ator e ele será a minha máscara’. Você sabe, quem é quem aí? Quem está manipulando as cordas?”.

Olha, a gente ama o Kingsley. E tenho certeza que ele seria uma adição mais do que bem-vinda a um vindouro quarto filme do Homem de Ferro, caso ele saia mesmo do papel. Mas a teoria dele não faz lá muito sentido depois do curta-metragem Todos Saúdam o Rei (All Hail The King), presente nos extras do Blu-ray de Thor: O Mundo Sombrio. Na trama, o jornalista Jackson Norris (vivido por Scoot McNairy, que agora está no elenco de Batman v Superman) visita Slattery na prisão de Seagate para gravar uma entrevista em vídeo. Sabemos mais a respeito de seu passado em uma série de ação para a TV. E descobrimos, no final, que o Mandarim de fato existe e está diretamente ligado à tal organização dos Dez Anéis mencionada no primeiro filme do Ferroso. O Mandarim – que, obviamente, não aparece, é apenas mencionado – está puto da vida com Slattery por ver o camarada tripudiar de sua imagem e sua reputação em cadeia nacional. E resolve acertar as contas com ele. Seus capangas carregam o sujeito pra fora da cadeia. Corta. Fim do curta.

Mandarim2

Imagem do curta Todos Saúdam o Rei

“Imagine uma real organização terrorista cuja as crenças religiosas são mantidas por milhares de anos, e imagine um ator britânico bêbado chegando e essencialmente contando pro mundo que ele é a verdadeira face dessa organização”, afirma o roteirista do filme e do curta, Drew Pearce.

O Blu-ray já foi lançado há alguns meses, vai, gente. O aviso de spoiler nem se faz mais necessário, deixa de #mimimi.

O grande ponto desta história toda é que tem muita gente que insiste em dizer que Homem de Ferro 3 é o ponto mais baixo da trajetória da Marvel Studios nos cinemas justamente por conta do retrato feito do Mandarim – que eu, honestamente, achei delicioso e divertidíssimo, cortesia de uma interpretação leve e desencanada de Ben Kingsley. Sendo muito franco, apesar de ter gostado muito do curta, fico bastante decepcionado ao ver a Marvel se rendendo às reclamações dos fãs deste jeito. Bastou um bando de moleques chiar e a Casa das Ideias se dobrou. Não precisava. Eles tinham que ter colocado o pau na mesa, ter culhões para sustentar a sua decisão criativa. “Este é o Mandarim que criamos, gostem dele vocês ou não”. Porque, por mais que eles tentem me convencer do contrário, Todos Saúdam o Rei não estava previsto desde o começo nem por decreto. Foi uma reação. Exagerada e desnecessária. Mas uma reação.

O Mandarim de Homem de Ferro 3 é apenas um personagem, um ícone terrorista criado por Aldrich Killian (Guy Pearce) para amedrontar o povo americano. Todas as ameaças são, na verdade, gravações bem orquestradas nas quais um ator meio decadente e bêbado assume um papel. Afinal, o cientista quer ter um vilão em uma das mãos e, na outra, uma brilhante solução armamentista para o governo dos EUA. Ou seja, fechar o ciclo completo. Pra mim, uma excelente ideia. Divertida e bem amarrada.

Pra mim, seria óbvio optar por um chinês (como no original) ou um árabe, sei lá, no papel de um terrorista, líder de uma organização que quer acabar com o império capitalista estadunidense. Gosto mais da abordagem do homem da ciência capitalista, exatamente como o próprio Tony Stark, mexendo os pauzinhos por baixo dos panos em busca de poder. Simples assim.

Mandarim3

Trevor bancando de malvadão...

É engraçado toda esta horda de fãs do Mandarim ter aparecido assim, tão convenientemente, de uma hora para outra. Vamos ser completamente honestos? O personagem original, nas HQs, nunca foi lá grande coisa. De verdade. Podem chiar. Tony Stark sempre teve inimigos bem mais interessantes – e seus antagonistas mais legais são justamente aqueles ligados, de alguma forma, à sua faceta mais corporativa, como o Obadiah Stane/Monge de Ferro e o Homem de Titânio. O Mandarim era apenas um megalomaníaco, que se dizia descendente de Gengis Khan e andava por aí com dez anéis mágicos (na verdade, eles são de origem alienígena) nos dedos. Este conceito, se levado ao pé da letra, jamais funcionaria dentro do tipo de história que a Marvel está costurando em seu universo cinematográfico.

Se era para fazer uma interpretação, digamos, mais fiel do Mandarim, que fosse pensando na versão Ultimate. Lá, o Mandarim não é uma pessoa, mas sim uma organização. Um grupo que, no passado, ajudou Howard Stark a construir a Stark International e que, anos depois, resolve vir tomar a sua parte no império de Tony e seu papai. Pode ser até que a Marvel esteja pensando em algo similar, aliás, como o futuro da tal organização dos Dez Anéis. Quem sabe? Talvez o Mandarim seja algo, um conceito, e não necessariamente um alguém. Afinal, conforme sugeriu o todo-poderoso da Marvel Studios, Kevin Feige, Killian teria criado o Mandarim com base em lendas que ouviu no submundo. Faria sentido.

Engraçado ver que vocês aceitaram o Bucky ser um adulto e não uma criança; o Arnim Zola ser uma inteligência artificial ao invés de uma cara de gosma em um corpo robótico; o Caveira Vermelha ter sido uma espécie de criador da HIDRA; o Thor não ficar preso no corpo do Donald Blake – e está, inclusive, todo mundo levando na boa a mudança considerável que se avizinha, a respeito do pai de Peter Quill, o Senhor das Estrelas de Guardiões da Galáxia.

Mas no Mandarim, este grande ícone dos quadrinhos modernos (ironia mode: on), ninguém pode mexer, não é mesmo?

Filme é filme. Cinema é cinema. Vivam com isso, de uma vez por todas.