Já no terceiro episódio a série flerta com um marasmo que pode ser fatal
SPOILER! Existe um momento perigoso para uma série. Aquela fase que ela flerta com o marasmo, com a falta de criatividade, que fica na muleta das fórmulas e falha em motivar o público. Talvez – é difícil analisar uma série em andamento, sem ver o trabalho completo – seja algo pensado, mas se eu fosse produtor ou roteirista de Gotham, ligaria a luz amarela.
Não que a série esteja péssima, como vi alguns comentários pipocando por aí. Nos dois primeiros episódios, serviu bem para definir esse universo pré-Batman de Gotham City, com um Bruce Wayne ainda pequeno e um Jim Gordon novato entrando de cabeça no mundo da polícia corrupta da cidade. Vimos Don Falcone como o grande chefe do crime na cidade, a família Maroni disputando essa supremacia, Fish Mooney agindo para conseguir um espaço nessa briga, Oswald Cobblepot ~crescendo muito antes de ser o Pinguim, Selina Kyle sendo apenas uma “Gata” pelas ruas, Barbara Kean com um passado romântico com Renee Montoya, ela e Crispus Allen na cola do Gordon, mas... Em todos os episódios, foi basicamente isso que aconteceu.
Nos três.
Claro que esses subenredos andaram um pouco em The Baloonman, o terceiro episódio dessa primeira temporada. Tivemos algumas coisas novas, como a primeira aparição de Sal Maroni e a descoberta que a Babs gosta de um cigarrinho de artista, mas... Chegando nesse ponto, é pouco.
Ok, isso seria suavizado se o conflito principal do episódio fosse bom. Não é. O “Balloon Man” do título se provou apenas um cara que perdeu a crença em Gotham e resolveu fazer justiça com as próprias mãos colocando criminosos e corruptos em... balões meteorológicos. Sem saber levar o telespectador, o enredo coloca a solução do caso (literalmente) caindo do céu. E com o nome do Jim Gordon ali. Extremamente simplório.
Claro, a presença do personagem serviu pra marcar a primeira aparição de um vigilante, de um justiceiro, em Gotham. Alguém pra fazer Bruce Wayne pensar que “ele mata criminosos, então é igual a eles”, o que é um dos principais pilares que norteiam a existência do Cavaleiro das Trevas. Só que poderia ter nos feito (nós que estamos vendo e os detetives que estão ali) pensar um pouco mais.
Até mesmo o gancho deixado pelo fim do segundo episódio, com Selina Kyle revelando que sabe mais detalhes da morte dos Wayne (que é, aparentemente, o principal plot da temporada – ou melhor, da série) foi esquecido depois de alguns minutos. Realmente é muito cedo pra ter uma solução ali, mas o conflito poderia ser mais desenvolvido.
Conflito é, aliás, o que precisa ser rapidamente encarado pelos roteiristas. Temos histórias paralelas, alguns acontecimentos, mas não há um grande conflito que empolgue, que é algo que pode matar uma boa ideia. Veja, por exemplo, o caso de Alcatraz: a série prometia ser genial, com aquela coisa toda de bandidos terem sumido do presídio há décadas e estarem surgindo agora, mas a produção se revelou um simples e sem graça procedural. Foi cancelado antes de ter a primeira temporada completa e a chance de mostrar pra onde queria ir.
O mesmo parecia estar acontecendo com Agents of SHIELD. A série começou interessante, revirando fatos de Homem de Ferro 3, mas parecia não ter um conflito empolgante no começo – tanto é que muita gente desistiu da série. A Marvel e a ABC, sabendo de todo o projeto, não desistiram e a primeira temporada ganhou uma força depois que justificou aqueles primeiros episódios, além de revelar que tinha sim um conflito ali.
Talvez tudo isso aqui tenha uma solução: Arkham. O hospício foi citado nas duas últimas semanas como estando fechado e sabemos que há um grande projeto relacionado ao local – até porque, no futuro do Batman, ele está funcionado. O próximo episódio inclusive se chama Arkham e, pela sinopse, haverá uma luta entre os Falcone e os Maroni pelo distrito que tem o mesmo nome.
Pode ser que aí sim surja algo que realmente empolgue o público pra saber não onde essa história vai chegar (que será no Batman, como sabemos), mas sim COMO vai chegar lá. Que o público e o canal Fox – que tá pagando uma grana pela produção – tenham paciência suficiente.