O Clamor dos Anjos conduzido por Andre Matos | JUDAO.com.br

Vocalista revisita clássico do Angra em mais de duas horas de show no Rio de Janeiro

Ninguém pode negar que a história do metal brasileiro passa por nomes como Viper e Angra. E ninguém pode negar que, cada qual em seu momento, fez mais e melhor do que a concorrência, cuja música permaneceu restrita aos círculos mais cult e obscuros. Por ter feito parte de ambas as bandas, Andre Matos pontua em dobro e, em momento oportuno da carreira, resolve olhar para o passado e trazer de volta aos palcos parte de seu legado. Começou em 2012, com a reunião do Viper pelos 25 anos de Soldiers of Sunrise; depois, foi a vez de assoprar a vigésima velinha de Angels Cry, do Angra — ideia, segundo Andre, “copiada” pelo Angra de Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro, que resultou no lançamento de um DVD e deu pano pra manga fora dos palcos. Foi esta turnê que chegou aos palcos cariocas nesta última semana.

Só que Andre parece compreender bem que o saudosismo fundamentalista não compensa, tanto que seu show é dividido em dois módulos; no primeiro, encarrega-se de fazer um apanhado geral da carreira, que inclui Viper (Living for the Night), Angra (Lisbon), Shaman (Fairy Tale) e material de seus três álbuns solo, Time to Be Free (2007), Mentalize (2009) e o mais recente, The Turn of the Lights (2012) enquanto que, no segundo, dedica-se exclusivamente ao repertório de Angels Cry, na ordem que as músicas aparecem no disco. Em resumo, o show atira para todos os lados e essa aleatoriedade previsível acaba valendo o preço do ingresso.

Ao meu redor, siderúrgicos de todas as faixas etárias — da molecada pré-vestibular que mede conhecimento musical em gigabytes a uma dupla de tiozões que juravam de pés juntos que estavam no show do Viper no teatro do Colégio Rio Branco (1987) e viram de perto um Andre Matos leite com pêra quase incendiar o local — viriam a empolgar-se proporcionalmente às músicas que mais lhe falavam ao coração, fechando os olhos num karaokê grupal que parece se dar em outro plano que não aquele do Teatro Rival, no último dia 9.

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Celulares a postos: a nova melhor forma de curtir um momento único com seu ídolo, através de uma tela.

A interação com o público é total e se tem coisa que Andre sabe fazer é o uso do principal recurso do bom vocalista de metal: passar a bola para a plateia. Os dois saem ganhando: a voz é poupada em momentos cruciais e a galera se sente ajudando a fazer a noite. Pena que o som não tenha ajudado. Não foram poucas as vezes em que um paredão de frequências médias foi erguido e a sensação foi a de estar nadando em um emaranhado de algas marinhas. Era um tal de guitarra base comendo guitarra solo comendo baixo e tudo sendo engolido em seco pela bateria ultra-amplificada. As pontuais incursões do teclado em playback serviram, principalmente, para corrigir tais falhas.

A primeira parte, OK, teve seus picos, mas a segunda, tão ansiosamente aguardada, foi um espetáculo com todos os superlativos possíveis. Angels Cry é um grande disco, e a banda tocou-o com uma coesão absurda; ver canções como Stand Away e Streets of Tomorrow ganharem uma chance ao vivo foi de glorificar de pé o Deus Metal. E podem passar 2 mil vocalistas pelo Angra que nenhum deles cantará Carry On, Time, Never Understand ou Evil Warning como a Musa Nissei Sansei (bons tempos dos apelidos do Rock & Gol) que, em agradecimento ao carinho dos cariocas, ficou um tempão apertando a mão da galera e ainda parou para fotos com os que podiam se dar o luxo de voltar para casa sem ser de metrô.

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Vai, Dedé!

Enfim, o show de Andre Matos deixou claro que este sujeito ainda tem mana na pool (entendedores entenderão) para gastar e, principalmente, mostrou que não há argumentos de faixa-pretas de internet capazes de desconstruir a legitimidade da relação que existe entre o fã de metal e o metal; a exemplo do que se vê pelas ruas, jamais meia-dúzia de radicais comprometerá a proposta de um movimento. Segundo Andre, foi a última passagem pelo Rio em 2014. Se foi mesmo, 2015 “é logo ali”.

Fotos: Diogo Vasconcellos Fotografia (https://www.facebook.com/diogovfoto)