Se você olhar pra trás agora, forçar um pouco os olhos e conseguir enxergar um caminho de 20 anos até o seu passado, vai ver muita coisa que você fazia, achava legal e hoje sente uma certa vergonha, jamais repetiria... Mas não exatamente se arrepende — era, mesmo, uma questão de idade, outros tempos, outro mundo, outro tudo.

Não é que, nesse tempo até chegar onde você chegou hoje, você não pensava. Simplesmente você não tinha outros pontos de referência. Você costumava repetir tudo o que você ouvia, independentemente dos absurdos. Você pegou umas pessoas estranhas, fez parte do He-Man Woman Haters Club (todo moleque teve a sua fase “MENINAS LONGE!”), achava o Superman legal, foi pra formatura em Porto Seguro, experimentou Gudang Garam, levava a sério a briga de consoles de videogames, investigava a quantidade de listras dos bonés alheios, cujas abas costumavam ficar dobradas em copos, pra saber se era ou não FALSIÊ, achava Debi & Lóide o filme mais engraçado do mundo...

Aí chega Debi & Lóide 2.

Durante esses 20 anos, claro que algumas coisas se inverteram — hoje é aceitável e recomendável usar um boné de aba reta — e outras tantas se mantiveram (Mega Drive é, afinal de contas, o melhor o console que já existiu e Porto Seguro continua sendo um destino pra formaturas). Mas fato é que a gente vai crescendo, olhando pra outros lados, falando com outras pessoas e tudo muda — ou, pelo menos, deveria mudar. E é exatamente esse o problema de Debi & Lóide 2.

Não só porque a sequência é essencialmente o mesmo filme lançado em 1994, mas porque a audiência e o mundo são diferentes. Embora eu tenha dado boas risadas, durante uma boa parte do filme, HOJE eu consigo perceber o quão ruim Debi & Lóide 2 é. Tipo, uma bosta. Mas uma bosta engraçada. Sabe? :D

Tomar banho, se vestir, sair de casa, encarar adolescentes de aba reta, pagar caro por um ingresso, se enfiar quase duas horas num cinema, só pra assistir a esse filme não faz NENHUM sentido. É coisa pra um Tela Quente, um TELA DE SUCESSOS. MESMO que você esteja tomado pelo sentimento de nostalgia. Até porque, só mesmo nostálgico pra aguentar tudo até o fim.

Num filme como esse, qualquer coisa que eu diga sobre a história pode estragar as piadas. Mas, se você acabar assistindo a esse filme no cinema, NÃO SAIA de lá enquanto Harry e Lloyd (que a legenda chama mesmo de Debi e Lóide, foda-se) não pegarem a estrada. Resista. Se você assistiu ao original e gostou, segura as pontas. Vai ser algo muito parecido com uma tortura, um SHOW de vergonha alheia, mas resista. A graça chega quando os dois entram num carro, transformando o filme em um Road Movie. É aí que você vai começar a rir e bastante (e isso, claro, se você entender de inglês e fizer o possível pra evitar as legendas). Isso, claro, não significa que o filme fique bom. Melhora, você relaxa na poltrona, mas pra chegar a BOM, meu amigo... :D

Jim Carrey não consegue ser o velho e careteiro Jim Carrey, Jeff Daniels é Will McAvoy demais pra que ignoremos que aquele é o Jeff Daniels, vimos episódios de The Walking Dead demais pra ignorar que a Laurie Holden seja a Andrea. E vinte anos continuam sendo vinte anos aqui na Terra.

Só o pai do Chandler continua sendo o pai do Chandler. ;D

Era mais fácil ter feito só uma reunião pra uma revista, tirado umas fotos e lançar uma edição especial em Blu-ray do primeiro filme. Mas, é aquela coisa: mesmo crescendo, aprendendo outras coisas, vendo a vida de outra maneira, a gente continua fazendo merda, né? Então... :D