Ou: como parece que é preciso estar ao lado de milhares de pessoas para encontrar justamente alguns de seus amigos mais queridos. ISSO é Comic Con.
Há quem diga que ser nerd significa nunca envelhecer – afinal, estar rodeado pelos mais diversos mundos de fantasia, por super-heróis, cavaleiros medievais e guerreiros espaciais, ajudaria a manter o espírito ainda jovem. Pode até ser. Mas, por mais que a gente não queira, a vida força a gente a envelhecer. E, mais do que os cabelos brancos, a vista cansada e aquela barriguinha marota, ela nos impõe responsabilidades. Nem tudo é mais apenas gibis, jogos de RPG, sessões de filmes ou séries de TV até de madrugada. Surgem os relacionamentos, que se tornam namoros, noivados, casamentos. Então veem os empregos, os filhos, as contas para pagar, as responsabilidades.
E por mais que você continue curtindo aqueles mesmos filmes, aquelas mesmas séries, ainda dedique um tempo aos seus jogos de videogame e aos gibis de todo mês, é fato que a coisa mais gostosa que vem com tudo isso acaba se tornando aquela que fica cada vez mais rara: a oportunidade de compartilhar estas nerdices com os amigos. Conforme a gente envelhece e a vida passa a nos cobrar mais, a gente passa a ver estes caras e estas minas cada vez menos. Você ama todos eles e sabe que, diabos, não tem preço passar umas boas horas rolando dados e comparando números que indicam quantos orcs vocês mataram – ou, quem sabe, apenas tomando uma cerveja enquanto desfilam uma discussão sem fim a respeito do resultado de luta entre o Superman e o Thor ou sobre quem tem a melhor mira: Arqueiro Verde ou Gavião Arqueiro?
Mas estes momentos, queridos colegas trintões e quarentões, vão ficando cada vez mais escassos. E a gente tem que saber aproveitá-los.
Para fazer a cobertura da Comic Con Experience que vocês estão vendo aqui no JUDÃO, passei dias inteiros enfurnado no São Paulo Expo, correndo de um lado para o outro, fazendo entrevistas, ouvindo as pessoas nas filas, nos estandes. E naquele sábado (6/12), depois de um papo com o diretor e o produtor de Big Hero 6 (sobre o qual você lê por aqui, em breve, aliás), dei um pulo no Artists’ Alley para dar um abraço em dois grandes amigos que estavam ali expondo. Encontrei mais outro que passou por lá, vejam só, com a mesma intenção. Fomos tomar um café e, no meio daquela multidão, boom, eis que surgem outros dois. Éramos uma multidão saída de uma multidão.
Quando me dei conta, em volta de uma mesa, estava uma verdadeira máfia da nerdice santista. Caras que fizeram juntos um lendário curso de quadrinhos na cidade de Santos. Que colocaram para rodar um website de entretenimento que, nos primórdios fez a sua própria história (caso não tenham notado, estamos falando DESTE SITE).
E amigos, obviamente. Amigos que a nerdice uniu. E ajudou a reunir.
Amigos que, isoladamente, claro, você acaba encontrando meio que eventualmente. Mas reunir praticamente todo mundo assim, em volta de uma mesa, para tomar um café, chega a ser uma oportunidade única. Para falar, claro, de como anda a vida. De como vão as namoradas, as esposas, os filhotes. Para falar também sobre como vai o trabalho, sobre como estão os projetos paralelos. Afinal, dois deles estavam lá lançando seus gibis próprios, outro está encaminhando um projeto de animação, tem mais um que a gente está tentando convencer a continuar escrevendo com mais regularidade pro JUDÃO (cof, cof). E, claro, para jogar conversa fora.
Porque, nestas oportunidades, parece que falta tempo pra tudo que você quer comentar. Para falar sobre o trailer do novo Exterminador do Futuro, que foi divulgado no dia anterior – mas, afinal, que timeline seria aquela, em nome de Odin? Um T-800 encontrando com a sua versão mais jovem? Para comentar sobre a preocupante notícia de que a DC está de fato considerando um Cavaleiro das Trevas 3, escrito pelo Frank Miller em parceria com o Scott Snyder. Mas depois daquela tenebrosa continuação, será que a gente precisa de outro mesmo? Para falar sobre como o Hobbit 3 esticou uma trama que não tinha qualquer necessidade de ser, assim, tão estendida e que poderia, facilmente, ser contada em um único filme de três horas e meia. Ou seriam quatro?
O estande da Marvel estava lindo, o de Star Wars estava deslumbrante. As lojas de colecionáveis estavam de encher os olhos, as lojas de quadrinhos davam vontade de encher um carrinho de compras e levar tudo pra casa. Mas, pra mim, o momento mais memorável desta Comic Con Experience foi aquela mesinha da Casa do Pão de Queijo. Foi poder dedicar pelo menos 45 minutos do meu sábado a reencontrar este bando de gente querida – que a vida coloca longe mas que, porra, vai estar sempre no meu coração.
Isso, rapaz, não tem gibi no mundo que pague. Nem mesmo uma Action Comics # 1, original, de 1938.