Mil maneiras de acompanhar a “grande festa do cinema”. E nenhuma delas é exatamente boa.
Cara, tudo seria tão mais simples se eu gostasse de futebol. Eu teria um gosto igual ao da maioria dos brasileiros e nunca correria o risco de ficar sem ver a Copa, por exemplo. Porque como é um evento que interessa a milhões de pessoas, é claro que a televisão não vai deixar de passar tudo e mais um pouco sobre ele.
Mas em vez disso eu gosto de cinema. E sou do time dos que nunca perdem uma cerimônia de entrega dos Oscars® (sim, eu fui no Google só pra copiar esse símbolo de marca registrada). Quer dizer, eu tento não perder, né... Porque você tem que decidir: ou você é pobre ou você gosta do Oscar. Os dois não dá. Eu bem que tento fazer essas minhas duas características serem compatíveis mas realmente não tem dado certo.
A minha vida inteira eu fui dependente da TV aberta pra ver o Oscar. É, cara... É totalmente justificável essa lágrima que tá caindo do seu olho esquerdo agora e eu agradeço pela compaixão.
Porque na melhor das possibilidades, é isso o que eu encontro quando eu ligo a TV em noite de Oscar...
Essa filhíssima da puta dessa Globo dá pro Oscar a mesma importância que dá pro Telecurso 2000. NEM POR UM CARALHO que eles vão mexer num dos principais programas da grade deles só pra agradar meia dúzia de cinéfilo pobre. E é por isso que, enquanto já rolou um monte de momentos fodas na cerimônia, vários prêmios já foram entregues e o Seth MacFarlane já cantou “We Saw Your Boobs”, eu tô vendo imagens imperdíveis da última festa da ~nave louca.
E aí só me resta ficar torcendo pra que os ~brothers demorem pouco no confessionário. Tipo, “vou indicar o fulano porque ele é feio, tchau”. E é claro que não é assim, os infelizes vão lá com uma calma, explicam os motivos deles de boinha, como se eu não estivesse aqui esperando. Olha, sério, em noite de Oscar, morte por empalamento é a coisa mais agradável que eu desejo pros participantes daquela porra.
Só que, como eu dizia, essa é a MELHOR das possibilidades, porque pelo menos quando a Globo finalmente acha que já dedicou tempo suficiente ao paredão você ainda consegue ver metade do Oscar. Mas esse ano vai ser diferente.
Vão passar um COMPACTO da cerimônia. NO DIA SEGUINTE. Com Fernanda Lima e Monica Iozzi. Por causa do carnaval.
Melhor que 2009, quando o máximo que mostraram foram uns flashezinhos nos intervalos do desfile das escolas de samba? Sim. Mas AH, filha da puta, sabe que não vai passar o negócio de forma decente e NÃO LARGA essas porras desses direitos de exibição. Porra. Porra. PORRA.
A vida é mais simpática com quem tem TV a cabo. Você liga lá na TNT às nove e já dá pra ver o tapete vermelho (é nessa hora que todo mundo no Twitter vira estilista). Depois assiste à premiação inteirinha numa boa... OK, às vezes o Rubens Ewald Filho resolve explicar as piadas dos apresentadores e tradução simultânea é uma coisa que dá uma certa aflição — meu deeeeeus eu fico com uma pena daquela mulher tendo que traduzir tudo na hora, eu precisaria de no mínimo dois cérebros pra conseguir fazer isso. Mas acho que ainda é a opção mais confortável pra acompanhar a GRANDE FESTA DO CINEMA, se você não sabe inglês, não tem SAP ou não tem uma puta grana pra estar lá dentro do Dolby Theater vendo e bebendo tudo junto com ~Hollywood.
De qualquer forma, há alguns anos a experiência de assistir ao Oscar se tornou mais legal e, ao mesmo tempo, mais trabalhosa. Hoje você já não fica só com a bunda no sofá assistindo a tudo impassivelmente – você divide a sua atenção entre a TV, o Twitter, o Facebook, comentários AO VIVO do JUDÃO, Skype, streaming, sei lá mais o quê...
É foda, eu fico me sentindo um funcionário da CTU que tem que fazer mil coisas ao mesmo tempo no computador o mais rápido possível pra ajudar o Jack Bauer. Aí você fica olhando pro PC e perde os melhores momentos da cerimônia. Jennifer Lawrence caindo? Não vi, tava escrevendo alguma besteira no Twitter. Mas o Oscar é sempre mais divertido com os comentários da pessoas na internet.
Ah, e aí surgem muitas opiniões porque em noite de Oscar todo mundo é crítico de cinema, todo mundo entende dessa merda. Vem a sua mãe e fala, “ai, aquele menino novo merece ganhar o Oscar, ele tá muito bem fazendo papel de gêmeos na novela”. Dizem que em época de Copa do Mundo o Brasil vira um país de 200 milhões de técnicos. Pois em noite de Oscar os habitantes do planeta todo se transformam em 7 bilhões de Josés Wilkers (esse é o plural de José Wilker porque assim eu determinei).
São especialmente peculiares as reações que surgem logo após o anúncio de algum vencedor. Em um segundo aparecem uns 20 tweets que dizem basicamente a mesma coisa da forma mais empolgada (e idiota) possível. “AEEEEE”, “PORRA AÍ SIM”, “MERECIDO”... Acho que é mesmo bem válido comparar com uma torcida de final de Copa do Mundo. A diferença é que em vez de gritar num estádio a galera só pode escrever bobagens em caixa alta e com uns dez pontos de exclamação.
O irônico é parar pra pensar que essa empolgação toda é dedicada a uma parada que, no fundo, é meio chata. Todos aqueles prêmios técnicos desinteressantes, todos aqueles filmes que você não viu, aqueles discursos de agradecimentos que só importam pras famílias dos vencedores. Depois que passam as primeiras duas horas eu já tô querendo que digam logo qual é o melhor filme pra eu poder ir dormir.
Mas é que o Oscar tem muito glamour e gente famosa de terno reunida, acho que por instinto a gente não consegue resistir a ver isso. E tem outra coisa também... as pessoas continuam assistindo ao Oscar porque ele só passa uma vez por ano. Com natal também é assim, eu sei que é sempre a mesma coisa, mas eu sempre me animo, aí no dia eu percebo, “ei, mas o natal é só isso”, só que no ano seguinte eu gosto do natal de novo, e o ciclo segue dessa forma.
É isso. Oscar é tipo natal.