8 Perguntas para Mayra Dias Gomes!

Uma das maiores musas do universo e do imaginário judônicos está de livro novo e, claro, fomos bater um papo com ela pra saber um pouco mais a respeito da obra

Ela é linda. Mas a gente, aqui do JUDÃO, gosta pacas desta garota não apenas por isso. Ela é linda AND cheia de atitude, de personalidade. Porque é inteligente, divertida, sem papas na língua, sem frescuras. E a gente sabe que ela também gosta da gente, vai (pode perguntar pra ela, é sério!). Porque nós somos inteligentes, divertidos, sem papas na língua, sem frescuras. E, claro, nós também somos lindos. <3

Nesta segunda (15), Mayra Dias Gomes, filha do lendário dramaturgo baiano Dias Gomes (O Bem Amado, Roque Santeiro, O Pagador de Promessas, Saramandaia), completa 27 anos. E em plena atividade. Se ela, ainda adolescente, aos 17 anos, publicou Fugalaça, seu primeiro livro, como uma espécie de catarse para combater a depressão (Satine, a personagem principal que perde o pai na pré-adolescência, é seu alterego), hoje ela é uma pessoa muito diferente.

Mayra já é uma mulher, mais madura, agora morando em Los Angeles, encarando a vida de outro jeito, plenamente envolvida com a badalação social de uma cidade que respira música e cinema. E que, claro, se permite um outro tipo de experimentação literária. Casada com o músico Coyote Shivers, agora Mayra se arrisca com um romance diferente.

Sua terceira obra de ficção, Finalmente Famosa, tem toques de suspense e horror – funcionando, de alguma forma, como uma viagem ao passado. “Acredito que estou voltando à raiz do que eu escrevia quando era criança. As primeiras histórias que escrevi, ainda durante a infância, eram todas de terror. Aos oito anos de idade, eu já escrevia sobre assassinatos e assombrações”, revela.

Mayra_02Neste papo exclusivo com o JUDÃO, a escritora fala não apenas sobre seu livro, mas sobre cinema, sobre o pai famoso, sobre a relação com os fãs. Afinal, ela tem uma postura bastante ativa nas redes sociais. “O que eu escrevo não tem sentido até atingir a vida de outras pessoas. Sou muito grata ao público que tenho”.

Dá uma olhada na entrevista aí embaixo! :)

1 Sempre que entrevisto um autor, gosto de pedir para que ele apresente sua obra. Acho que fica mais humano e pessoal do que só reproduzir uma sinopse. Então... do que se trata o seu novo livro? Conta um pouco pra gente. :)
Finalmente Famosa é meu quarto livro, e meu terceiro romance. É uma ficção inspirada em um acontecimento real – um crime que ocorreu no prédio onde eu morava. Conta a história de uma atriz (ficcional) de Hollywood que foi famosa nos anos 80, mas perdeu sua carreira por conta de um escândalo na justiça. A história começa quando ela está prestes a ser despejada do apartamento onde mora, na Calçada da Fama, e um assassinato ocorre. O prédio onde ela mora foi construído para abrigar atores de filmes mudos, nos anos 1920, e um de seus donos foi Charlie Chaplin. Os corredores são decorados com retratos de atores já falecidos que moraram lá, como Mae Busch, Charlie Chaplin, Fatty Arbuckle e Rudoplh Valentino. Valentino tinha um bar ilegal no porão durante a proibição [Lei Seca]. Este é o cenário onde a história se passa. O livro fala sobre o lado obscuro de Hollywood – uma cidade cheia de ganância, competição, inveja, ciúmes, onde quase todos querem se tornar estrelas de uma forma ou outra. Fala também sobre como a cidade lucra com tragédias, que eventualmente se tornam atrações turísticas.

2 Aliás, sei que a história de como surgiu a inspiração para o novo livro e a sua pesquisa de campo para escrevê-lo são bem interessantes, também.
Em 2009, quando me mudei para Hollywood e conheci meu marido Coyote Shivers, fomos morar neste prédio na Calçada da Fama. Pouco depois de nos mudarmos, o prédio foi vendido. Os novos donos começaram a tentar despejar moradores de formas ilegais. Algumas pessoas acreditavam que era para lucrar com a entrada de novos moradores, que pagariam mais caro. Muitos de nós tínhamos aluguéis baixos neste prédio de luxo, em uma locação superprivilegiada. Com o tempo, muitos moradores acabaram envolvidos em uma briga judicial com o prédio. Foi no meio neste rolo que conhecemos este casal que acabou tendo uma história trágica.

Ela era maquiadora e ele trabalhava com investimentos, mas queria ser roteirista em Hollywood. Pouco depois do Réveillon, ele matou a noiva no corredor do prédio, com seis tiros nas costas. Depois do assassinato, se trancou no apartamento e entrou na internet. O prédio acabou sendo evacuado e a SWAT fechou a rua. Depois de várias horas, conseguiram retirá-lo do apartamento. Por ter acontecido na Calçada da Fama, no coração de Hollywood, o crime foi parar nos noticiários. Isso me impressionou muito, já que eu conhecia os dois. Eles conseguiram a notoriedade que desejavam através de uma grande tragédia, e foi isso me inspirou para escrever essa história.

Depois disso, me mudei para outro prédio considerado mal-assombrado, a Hollywood Tower, que foi o prédio que inspirou o elevador que cai do brinquedo da Disney, The Tower of Terror. Escrevi todo o livro em diferentes locais dos Estados Unidos, considerados mal-assombrados. Além desses dois prédios, também no histórico Hotel Del Coronado, em San Diego, e no cemitério Hollywood Forever.

3 Este livro segue por uma vibe mais suspense, talvez até resvalando numa ambientação de filme de terror. O quanto isso é diferente do que você já fez até agora e que tipo de novo desafio este tipo de literatura te oferece?
Curiosamente, me sinto bastante confortável escrevendo esse tipo de literatura, apesar de ser minha primeira vez. Acredito que estou voltando à raiz do que eu escrevia quando era criança. As primeiras histórias que escrevi, ainda durante a infância, eram todas de terror.

Aos oito anos de idade, eu já escrevia sobre assassinatos e assombrações. Sempre fui uma criança interessada no oculto. Recentemente encontrei uma entrevista do meu pai, de 1997, em que ele dizia que uma das atividades que ele mais fazia com as filhas quando tinha tempo livre, era assistir filmes de terror, pois eram meus filmes preferidos. Minha sobrinha Renata, que hoje também é escritora, adora contar a história da primeira peça que eu escrevi, aos oito anos de idade, sobre uma batedeira assassina. Na terceira série, minha professora me deu a oportunidade de escrever uma peça para a sala encenar, e eu escrevi A Casa dos Mortos, com minha amiga Yasmin Brunet. Na quarta série venci um concurso de poesia também com um poema sobre um assassinato. Então acho que isso sempre esteve no meu sangue.

Apesar de ser meu primeiro suspense, não acredito que seja uma mudança tão grande dos outros livros. A narração intimista, em primeira pessoa, é uma característica de todos os meus livros, e continua firme e forte. Apesar de ser um suspense, a história é comandada pelos conflitos que se passam na cabeça da personagem principal – essa atriz que lida com suas fantasias sobre a fama e lamenta o rumo de sua carreira e sua vida. Ela é mal-assombrada principalmente pelos fantasmas dentro de sua cabeça e acho que todos os meus personagens são assim.

Mayra Dias Gomes

4 Você está em Los Angeles, onde tudo acontece, onde a indústria do entretenimento ferve. O quanto isso ajuda ou atrapalha o teu processo criativo?
Eu me sinto muito inspirada em Los Angeles, mas ao mesmo, meu processo criativo é constantemente interrompido por eventos e coisas interessantes que acontecem, praticamente todos os dias. Eu trabalho como repórter em Los Angeles, então sempre estou indo à um show, uma premiação, um evento, uma festa. Isso atrapalha, não vou mentir. Este foi o livro que mais demorei a escrever, porque fiquei ocupada com outras coisas. Foi a cidade que me inspirou, porém, acima de tudo, então não posso reclamar.

5 Estar em Los Angeles, aliás, nunca te fez ter vontade de enveredar mais pela área cinematográfica, à frente ou por trás das câmeras? Aliás, existe uma coisa a respeito de Fugalaça virar filme, não?
Com certeza, e já me envolvi em uma série de projetos como roteirista e produtora. Minha meta é conseguir trazer este livro [Finalmente Famosa] para as telas do cinema de Hollywood. Sobre Fugalaça, a única coisa que posso falar por enquanto é que os direitos foram vendidos para a roteirista e diretora Cristiane Arenas (A Garota e as Estrelas), e que estamos em processo de desenvolvimento do roteiro.

6 Você sente que existe, por parte da imprensa e mesmo por parte dos leitores eventuais que ainda não conhecem o seu trabalho, uma cobrança maior, uma carga elevada justamente por seu pai ser quem é? Ou você aprendeu a lidar bem com isso e tira de letra?
Eu já senti muito isso. Principalmente no início da minha carreira, quando lancei meu primeiro livro, Fugalaça, que escrevi aos 16 anos. Quando o livro foi lançado, as pessoas me atacavam muito, e pareciam esperar que eu escrevesse clássicos como O Pagador de Promessas e O Bem Amado, apesar de ainda ser uma adolescente. Mas felizmente eu amadureci muito, já trabalho há quase dez anos como jornalista, cinco anos em Hollywood, e aprendi a lidar com este tipo de reação. Hoje em dia não me incomodo muito. Acho que a comparação é uma reação natural. Meu pai era um escritor brilhante, mas não estamos em uma competição. Eu tenho noção que sou filha de um gênio da literatura, mas tenho meu estilo próprio, e se alguém não gostar do que eu escrevo, tudo bem.

7 Por falar nisso, acho que deve ser um saco as pessoas o tempo todo perguntando sobre o seu pai, não? Se você tivesse que eleger uma pergunta para dizer “esta é uma que eu não aguento mais responder”, seria esta? Ou tem algo mais que você não tem mais paciência para responder sempre e sempre que se depara com uma entrevista como esta?
Eu sempre tenho paciência para responder perguntas sobre meu pai. Quero que as pessoas continuem lembrando das obras dele, e que não esqueçam de todas as contribuições que ele fez para a cultura brasileira. Inclusive lancei um livro sobre ele com minha irmã, chamado Encontros: Dias Gomes. Se eu tivesse que escolher uma pergunta que não aguento mais responder, seria sobre drogas. Eu não uso drogas há anos e as pessoas cismam em querer me ligar à imagem que eu tinha na adolescência.

8 Sei que a sua relação com os fãs pela internet sempre foi muito boa e vem de longe, antes da força das redes sociais, de Twitter e a bagaça toda. Como vem sendo esta relação nos dias de hoje? Mais do que relação, tem muita cobrança, tem muita gente cagando regra – achando que, por estar virtualmente mais perto de você, pode te cobrar (“sou seu leitor, você me deve isso”), pode mandar em você, em vigiar seus passos?
Eu sempre fui muito próxima dos meus leitores. Escrevo na internet desde os 15 anos de idade, e tenho a sorte de sempre ter tido um público fiel. O que eu escrevo não tem sentido até atingir a vida de outras pessoas. Sou muito grata ao público que tenho.

Mayra Dias Gomes e Clara AguilarAs redes sociais mudam, algumas pessoas somem, fãs novos surgem, e temos que saber lidar com as mudanças. Muitas pessoas novas surgiram esse ano, porque tive um envolvimento grande com a torcida de uma das minhas melhores amigas, que participou de um reality show [Nota do Editor: Clara Aguilar, do Big Brother 2014].

Admito que esse ano, a cobrança aumentou bastante. Os fãs novos, por serem fãs também de reality TV, são muito dedicados e atentos, e se importam com diversos detalhes do dia a dia, como o que comemos, a roupa que usamos, quem adicionamos nas nossas redes sociais. Algumas pessoas se incomodam com este tipo de interação, mas eu acredito que se você dedicar um pouco do seu tempo aos fãs, e tratá-los como iguais, eles aprendem a respeitar seu espaço e passam a conhecer sua personalidade. Acho que muitos dos meus leitores sentem que sou amiga deles, e eu me esforço para manter essa relação. Quando um amigo está me incomodando, tenho a intimidade de pedir um pouco de espaço. Acho que tenho essa intimidade com meus fãs. Não preciso fingir ser algo que não sou.