O prêmio, que antes servia pra provocar, divertir e rir de Hollywood, hoje é só mais uma paródia dele mesmo… ¯\_(ツ)_/¯
Foi-se o tempo em que o Framboesa de Ouro, o prêmio de “piores filmes do ano”, servia pra alguma coisa.
Sentimos a vergonha alheia de Ben Affleck e Jennifer Lopez quando ele rapelaram a premiação com Gigli, percebemos que até a Halle Berry considerava Mulher-Gato ruim, sendo uma das poucas pessoas a, de fato, receber o troféu em mãos. Eram premiados e indicados filmes ruins com grandes nomes, em sua maioria, que eram expostos ao ridículo — uma perfeita sátira.
Era também uma paródia do Oscar, com suas primeiras edições acontecendo na mesma noite de entrega do “Careca Pelado”, o que mudou quando o criador do prêmio, John J. B. Wilson, percebeu que com a imprensa de todo o Mundo em Los Angeles pra cobrir o outro prêmio, era mais jogo fazer a entrega uma noite antes. E foi assim que CNN, BBC e tantos outros começaram a prestar a devida atenção à Framboesa de Ouro, que começou de surpresa na sala de Wilson, em 1981.
De uns anos pra cá, porém, tanto a sátira quanto a paródia se perderam naquilo que faz o Oscar ser o que é, do jeito que é: a politicagem.
As indicações mais pareciam perseguições, com praticamente todos os nomes concorrendo ano após ano, mudando apenas o filme. Michael Bay, Kristen Stewart, Robert Pattinson, Tyler Perry, Sarah Jessica Parker, Megan Fox, Mike Meyers, Adam Sandler, Paramount Pictures... É mais ou menos como, no Brasil, você dizer que pagode e sertanejo é ruim, que Globo Filmes não presta, simplesmente porque sim. Nem é porque você não gosta, o que seria justo, veja; é só porque sim, porque você precisa odiar alguma coisa.
Agora pergunta se X-Men Origens: Wolverine foi indicado?
Mas aí chega 2015 e eles se superam. Chega 2015 e eles começam a correr atrás do próprio rabo, tropeçam e enfiam a cabeça no cu. Chega 2015 e eles criam um prêmio para um pessoal... que se redimiu. É um pedido de desculpas que acaba com toda e qualquer credibilidade que o palhaço poderia ter.
É como se o Charlie Hebdo tivesse pedido desculpas aos muçulmanos, pra colocar as coisas num contexto atual.
É um tanto óbvio que um ator/diretor que faz um filme ruim, em algum momento, vai fazer um filme bom; ou ator/diretor ótimo vai acabar cagando no pau em algum momento. Há exemplos infinitos por aí. No próprio Framboesa de Ouro, inclusive: quando indicada e HONRADA com o prêmio, em 2010, Sandra Bullock também ganhou o Oscar, uma noite depois.
Halle Berry só fez Mulher-Gato depois de ter ganhado um Emmy, um Globo de Ouro, um Urso de Prata, um BAFTA e um Oscar. E era EXATAMENTE essa a piada.
Ao indicar Keanu Reeves por De Volta ao Jogo, Jennifer Aniston por Cake, Mike Meyers pela direção de Supermensch: The Legend of Shep Gordon, Kristen Stewart por Camp X-Ray e, principalmente, Ben Affleck por Argo (!) e Garota Exemplar, o Framboesa de Ouro pede desculpas pela brincadeira que fez em anos anteriores e perde, de uma vez por todas, a sua graça e, claro, a sua razão de existir.
Mordendo e assoprando, tentando conquistar o amor dos malditos fandoms (já vi gente comemorando e elogiando a indicação da Kstew), preferindo não bater de frente com ninguém... O Framboesa de Ouro nunca precisou de nada disso — até porque qualquer um pode votar, sendo necessário apenas PAGAR pra ser membro da Golden Raspberry Award Foundation.
Isso ou talvez eu que não tenha compreendido a genialidade de satirizar e parodiar a si mesmo. Pra mim é só burrice, mas vai que?