Banda brasileira, sucesso na mais recente edição do Lollapalooza Brasil, bateu um papo com o Judão sobre o retorno que o festival trouxe, dificuldades em se estar fora do eixo Rio-São Paulo e Shirley Manson. ;D
Teve Pharrell e seu incansável hit “Happy”. Teve Smashing Pumpkins. Teve Jack White. Teve até o Robert Plant enchendo o palco de Led Zeppelin, gente! E, mesmo assim, um dos shows do Lollapalooza Brasil 2015 comentados nas redes sociais com mais carinho foi o de um quinteto brasileiro, que tomou de assalto um dos espaços alternativos por volta da hora do almoço de domingo.
“Olha esse Far From Alaska. A banda é uma absurdo. E aí vem neguinho falar que não existe banda nacional boa. De foder mesmo, hein parça?”, disse um dos mais sintomáticos comentários no Twitter. O baixista Edu Filgueira, que bateu um papo descontraído e exclusivo com o JUDÃO, conta que esta foi apenas uma das muitas mensagens de apoio que o grupo recebeu depois do Lolla.
“O legal de um festival desse porte é o público, que muitas vezes está ali porque está esperando pra ver um artista TOTALMENTE diferente de você, aí você tem uma boa chance de conquistá-lo”, diz o músico. “Acho que foi isso que rolou, fizemos um show como sempre fazemos: ‘toque como se fosse a última vez! Porque um dia, será’. Quando se respeita o público nada de ruim pode vir dele. Acredito que os bons feedbacks vieram por conta dessa postura”.
O nome da banda, sugestão da mãe da vocalista Emmily Barreto, não significa nada muito importante além do fato de que eles estão, bom, longe do Alaska. Mas também estão longe da dobradinha Rio-São Paulo, o circuitão tradicional onde as coisas costumam acontecer mais rapidamente para quem trabalha com música independente — ou, bom, pelo menos “costumavam” antes da invenção da tal da internet. O Far From Alaska veio das terras quentes e distantes do Rio Grande do Norte – mais especificamente de Natal. “É bem mais complicado, mas só pelo lance de distância mesmo, isso dificulta a visibilidade pela mídia porque esta se concentra principalmente neste eixo”, conta o Edu.
Nascida em 2012, a banda surgiu graças à reunião de veteranos da cena roqueira local – além de Edu e Emmily, fazem parte do time Cris Botarelli (synth, lap steel e voz), Rafael Brasil (guitarra) e Lauro Kirsch (bateria). “Natal tem uma cena rock muito bem estabelecida, por estar longe desse eixo, se sustenta por si, temos lugares legais pra tocar lá”, explica ele. “Já nos conhecíamos de outras bandas (como Talma&Gadelha, Planant, Calistoga e Venice), até que chegou a oportunidade de fazer um som junto. Sem uma ideia do que seria, entramos em estúdio e começamos a tocar, daí uma coisa foi levando à outra. Nunca planejamos, só vamos como o destino manda, haha”.
Contando com uma força do combo Dosol (centro cultural que dá nome não apenas a um conceituado festival local de música, mas também a um estúdio e um selo musical independente), o Far From Alaska lançaria no mesmo ano o seu primeiro EP, mixado por Chuck Hipolitho (Forgotten Boys, Vespas Mandarinas). “Não esperávamos que pra nós fosse ser diferente, simplesmente gravamos e aproveitamos uma janela de oportunidade”, revela Edu. Pois é. Mas foi.
Ainda em 2012, participaram a venceram o festival Som Pra Todos – cujo prêmio seria uma performance de abertura na edição 2012 do Planeta Terra Festival, em São Paulo, além de um contrato de distribuição com a gravadora carioca Deck. Detalhe: o grupo potiguar tinha apenas seis meses de vida e um primeiro registro fonográfico gravado semanas antes.
Além da apresentação bastante elogiada e do lançamento de modeHuman, seu primeiro disco completo pela mesma gravadora que lança Pitty e Matanza no mercado nacional, o Planeta Terra lhes permitiu uma deliciosa proximidade com ninguém menos do que Shirley Manson, vocalista do Garbage. “Eu e a Cristiane sempre fomos fãs do Garbage – comecemos por aí – e na volta pro hotel eles chegaram logo depois de nós, já havíamos visto eles no saguão, mas esta poderia ser a única oportunidade pra falar com ela”, conta o baixista. “Chegamos junto, ela foi supersimpática, perguntou o que era nosso crachá, falamos que era nosso segundo show...”. Shirley levou o EP da turma pra casa e só três meses depois, em seu Facebook, fez este comentário. “Fui pro YouTube e vi eles tocando Monochrome e os meus ouvidos e os do meu marido ficaram em estado de graça”, disse a musa do Garbage. “Surreal, né?”, diverte-se Edu.
Aproveitei a oportunidade da conversa com o Edu e contei que dois amigos que nem se conhecem mas que estiveram no Lolla fizeram comentários semelhantes pra mim. “Pergunta pra eles como eles definem a sonoridade da banda – eu tentei e não consegui”. Então, joguei a bola pro músico, que me devolveu numa cortada. “Você também não vai conseguir essa informação, hahaha”. A página da banda na Wikipedia em português, por exemplo, arrisca colocar sobre eles o rótulo de stoner rock – aquele tipo de rock mais chapadão, no mesmo naipe do Queens of The Stone Age. Pode ser. Mas não só.
O material de imprensa diz que eles têm “influências tão diversas quanto controversas”. O músico conta que as meninas curtem pop, Lady Gaga, Taylor Swift... “Sei lá, tem muitas coisas diferentes dentro mas também coisas em comum como os projetos do Jack White (Dead Weather, Raconteurs...). Acho que a controvérsia é essa, muita coisa do pop, rock, metal e tal... juntas. Haha”. Mas sobre o gênero (ou subgênero) no qual resulta esta mistura, Edu prefere ser menos taxativo e mais enigmático. “Não definimos nada, o que você achar que é, vai ser pra você! Só sabemos que é rock!”. Este que vos escreve acha que a definição está de ótimo tamanho. ;)