O voo solitário da voz do Rei Lagarto | JUDAO.com.br

Fabiano Negri estabelece sua carreira solo saindo da zona de conforto do hard rock e apostando na diversidade

Natural da cidade de Campinas, o músico, produtor e multi-instrumentista Fabiano Negri é daquele tipo inquieto. Respira música 24 horas por dia, seja LECIONANDO, seja investindo em seus múltiplos projetos. Em 2015, ao completar duas décadas de estrada, ele solta seu segundo disco solo, Maybe we’ll have a good time...for the last time, no dia 6 de Junho, com a promessa de não se prender a nenhum rótulo. “Você vai encontrar rock, pop, soul, blues, folk e até algumas pitadas de rock progressivo”, promete ele, em papo exclusivo com o JUDÃO. “É muito legal ter essa liberdade, pois eu posso juntar todas as minhas influências, homenagear meu ídolos e colocar uma grande parte de mim em cada música”.

Conhecido principalmente por seu trabalho à frente da banda Rei Lagarto, um dos mais icônicos nomes do hard rock brasileiro, ele mostra que seus ídolos vão além de nomes como Black Sabbath, Ozzy Osbourne (que é sua verdadeira obsessão enquanto fã), Led Zeppelin, Deep Purple e The Doors – a banda do rei lagarto original, o vocalista Jim Morrison. A ideia é mostrar que em seu DNA estão também Marvin Gaye, Stevie Wonder, Queen, Michael Jackson e toda a galera da Motown.

“Estou muito contente com as canções e com toda a produção”, conta Fabiano. “É sem dúvida o disco mais bem acabado da minha carreira. A sonoridade está fantástica”, promete, empolgado.

A ideia de se entregar a um tipo de som que fosse além da caixinha do rock puro e simples começou em 2008, quando o músico se deparou com uma quantidade “absurda” de músicas no computador que não poderiam ser aproveitadas pelo Rei Lagarto. “O Rei Lagarto era uma banda com uma orientação sonora muito bem definida e eu não sou fã apenas de hard rock e heavy metal. Foi aí que nasceu o desejo de fazer um primeiro disco solo”. O resultado seria A practical guide to throwing money away (2010), de título bastante sintomático para descrever a vida de um cara que deseja viver de música. “Apesar de ser um trabalho do qual eu gosto bastante, ele não foi muito divulgado”, conta, ao lembrar da baixa prensagem do álbum – que tinha até pitadas de jazz na história. Só que Fabiano queria mais.

Em 2011, com o disco duplo 100% digital The Clockmaker’s Dream, o Rei Lagarto colocaria um ponto final em sua trajetória. “Mantenho contato com todos os membros da banda, mas chegamos a conclusão que era a hora certa de encerrar de vez as atividades. Tenho muito orgulho do que fiz com essa banda”, confessa. Negri não conseguiu ficar parado e se enfiou de cabeça em duas outras empreitadas: a Unsuspected Soul Band, bem mais calcada na música negra, no soul e no funk; e o Dusty Old Fingers, classic rock com gostinho de blues que lançou a ópera-rock The Man Who Died Everyday, baseada na trajetória de Brian Jones, fundador e primeiro guitarrista dos Rolling Stones, e que deve ganhar seu sucessor também este ano.

“Mas, para a minha surpresa, muita gente me perguntava sobre o meu trabalho solo e quando eu iria tocar aquelas canções ao vivo”, diz ele. “Fiquei contente com esse feedback e relancei meu primeiro disco, que já está com a nova tiragem esgotada. Isso me fez criar coragem para entrar de cabeça na minha carreira solo”. Há cerca de dois anos, então, ele voltou a trabalhar com suas músicas e, para esquentar o público e ao mesmo tempo sentir a reação, soltou dois singles com videoclipes, Potsdamer Platz (com jeitão quase gótico) e Any Blessing On My Soul (soul/blues setentista). “O retorno foi muito positivo e o óbvio próximo passo seria lançar mais um álbum completo”.

Com todas as canções compostas por ele, Maybe we’ll have a good time...for the last time contou com a sua participação não apenas cantando mas tocando diferentes instrumentos. “Só que, para gravar, eu chamei alguns convidados, pois gosto do que um músico diferente pode acrescentar”.

A turnê solo, contando com a participação de músicos parceiros há muitos anos como o guitarrista Ricardo Palma (da época da Unsuspected), já está em fase de ensaios, ambicionando cair na estrada muito em breve. E com ambições interessantes: “Pretendo levar um show muito legal para locais que tenham estrutura para essas apresentações. Não estou pensando em quantidade e sim em qualidade. Não adianta gastar grana e tempo para fazer um disco bem produzido e apresentá-lo em locais que não tenham condições mínimas para gerar um experiência completa para a platéia. Já estou fechando algumas datas que em breve serão divulgadas”, promete.