Cheguei no novo e lindo Velho Mundo. Com muito pan. :D
Durante uns 40 dias, entre Abril e Maio de 2014, eu abandonei o JUDÃO e saí viajando pelo Mundo. Doeu no coração, mas era uma daquelas oportunidades de vida — profissional e pessoal — que surgem uma vez a cada trinta anos ou menos. Fui pra Argentina, EUA, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Qatar, Hong Kong, Austrália e Chile e, agora, vou tentar dividir com vocês um pouco de tudo o que conheci, ouvi, vi e senti — tirando essa maldita dor no joelho que me acompanha até agora. :D
A terceira parada foi na Espanha.
Minha primeira vez na Europa, vindo diretamente do país que não só se resume como se autointitula América. Hóstia, quanta diferença. E quanto medo que eu senti de, sei lá, ser deportado. Cê sabe, houve um tempo em que as relações entre Brasileiros e Espanhois não eram assim as melhores... Mas guess what? O cara da alfândega não falou comigo. Carimbou meu passaporte, bienvenido a Madrid! :D
Ruas pequenas – ou melhor, ruas MÍNIMAS –, monumentos pra onde quer que você olhe (sabia que, quando há uma pessoa sobre um cavalo, a posição do bicho demonstra como ela morreu? Se de causas naturais, heroísmo, em batalha...), praças enormes e escondidas, paralelepípedos e uma sensação imensa de comunidade. Em todos os cantos possíveis.
Acho que é exatamente nisso que a Europa se baseia, hoje, né? :)
Eu não sabia o que esperar quando cheguei e fui me surpreendendo em cada ponto. Desde os mais recheados de turistas aos mais escondidos entre os madrileños – pontos esses que se misturam o tempo todo e eu tive a chance de conhecer porque o produtor, câmera, assistente de áudio e, no final de tudo, amigo que me acompanhou nessa viagem, é espanhol. Num momento você tá na Plaza Mayor, rodeado de gente do mundo todo e, dependendo da saída que escolhe, acaba numa ruazinha mínima, apertada, silenciosa... E linda.
E como essa tal de Europa é linda! Oh, España... :D
Meu primeiro dia na cidade começou muito bem, depois de uma siesta no hotel para descansar das mais de 12h em trânsito. A primeira coisa que comi por lá foram Huevos Rotos con Jamón – um tipo de presunto (deixemos assim) com ovos fritos. Mistura tudo (acompanhado de um belo “pan”, claro!) e PUTAQUEPARIU como é bom! E também barato: como é considerado petisco, quase todos os lugares da cidade vendem isso e é muito, muito barato. Há inclusive lugares em que você, se comprar bebida, ganha a comida. :D
Claro que, se pensarmos que o Euro vale oito vezes mais que o Real, qualquer coisa lá, por mais barata que seja, é cara. Mas, pra um país que enfrenta uma enorme crise...
Andando por toda a região central da cidade, passei pelo antigo Palácio Real da cidade, um monumento a Miguel de Cervantes – com Dom Quixote e Sancho Panza – o Senado, o Marco Zero e, fugindo da chuva, encontrei um bar que vende até VELHO BARREIRO. Em português, mesmo. E essa é mais uma característica da Europa: onde quer que você coloque os pés, vai ter sempre ALGUMA COISA a mais. Nenhuma loja é só uma loja, nenhum bar é só um bar... Tirando aquelas coisas que são 100% pra fisgar turista: nessas — em TODAS — há alguma menção ao futebol.
Assim como Buenos Aires, Madrid respira o esporte – com o Real e o Atlético mais do que bem na temporada passada – e em TODAS AS ESQUINAS há bufandas (ou cachecol, se preferir), camisas originais e falsificadas... De tudo quanto é time, claro. Cheguei a ver mais camisas do Messi que do Cristiano Ronaldo no centro da cidade, mas este cenário mudou, claro, quando fui conhecer o gigantesco estádio Santiago Bernabéu.
De longe já parece grande, mas, dentro, com o tour – que começa depois de trocentos lances de escada rolante – é inacreditável. E lindo. Absolutamente lindo – o que, com a trilha sonora de Plácido Domingo, só ajuda a dar um ar mais épico a tudo aquilo. Da sala de troféus aos vestiários, passando pelo gramado e, claro, a loja oficial. Ouve-se o tenor e vê-se Cristiano Ronaldo em todas as partes e, devo dizer, é realmente emocionante ver aquilo tudo de dentro e de perto.
Porra, eu pisei no gramado do Santiago Bernabéu. Eu não consigo mais assistir a nenhum jogo do Real Madrid e não pensar que estive lá. E ser aquele chato que diz isso o tempo todo. Mas é que... :D
Do outro lado da cidade, porém, os madridistas ficam longe. Adesivos já dão as “boas vindas” a eles no entorno do Vicente Calderón, o estádio do Atlético. Não havia tour, só mesmo uma loja oficial enorme. Mas foi legal poder visitar mais esses dois templos do futebol, algo que essa viagem foi me permitindo fazer. Fui até lá com a Cristina, uma vlogger que conheci em Los Angeles, quatro anos atrás, que se autodenominou “la peor guía de Madrid”. Ela me levou a um café que gosta muito de ir, e que é quase um esconderijo no meio da Plaza de España, me apresentou uma “Mahou con limón” (que nada mais é do que cerveja com limão) e me acompanhou em muitas dessas andanças.
A gente até chegou a gravar um vídeo em que ela me dava dicas LINGUÍSTICAS de como sobreviver em Madrid, e eu correspondia com as dicas pra quando ela vier pra São Paulo. Me digam, por favor, se fui bem:
Naquele mesmo dia, Read Madrid enfrentou o Barcelona pela Copa do Rei. Eu tava em Madrid e, adivinha só? Não fui assistir ao jogo porque resolveram que seria mais divertido fazê-lo em Valencia. (...)
Assim sendo, aproveitei a noite pra experimentar duas coisas que tava morrendo de vontade. Eram três, mas todos os espanhois com quem conversei sobre me disseram que Paella em Madrid é tipo Acarajé em São Paulo, então desisti; fiquei mesmo com Gazpacho, que é essencialmente uma sopa fria, que você pode pedir pra vir com trocentos tipos de acompanhamentos, além, claro, de PAN (que acompanha tudo por lá), e o tal de Bocata de Calamares — um sanduíche de lulas fritas.
O bocadillo era enorme e uma delícia; o gazpacho é uma sopa fria e, sinceramente, isso resume tudo.
Mas, enquanto eu comia ambos e bebia Mahou con Limon, num restaurante perto do hotel — devidamente sentado na calçada, claro — o jogo era transmitido pela TV. Várias pessoas que passavam paravam pra assistir alguns segundos, perguntavam pro garçom o resultado ou pediam lá a sua cerveja pra acompanhar o jogo dentro do bar.
Eu não sei vocês, mas SEMPRE acho... legal, talvez, o fato de existirem outras pessoas que morem em outros lugares e falem outras línguas. Não importa a quantidade de viagens que eu faça, os lugares que eu vá; sempre que eu conheço um local, fico “surpreso” com o fato de ele ter nascido em outro lugar, falar outra língua, morar por ali. Não sei explicar.
Mas o fato é que, nesse caso, foi ainda mais interessante: por aqui, a gente tá acostumado a Corinthians, Palmeiras, Botafogo, Bahia, Atlético-MG. Quando vemos esses jogos de Real Madrid, no máximo, a gente tá vendo o time com que jogamos (bom, aqueles pobres de espírito pelo menos!) no FIFA. Mas lá... Não. O pessoal REALMENTE torce pro Real Madrid. Torcem, comemoram gol... E enfim.
É óbvio, eu sei. Tudo isso é óbvio. Mas eu ainda me surpreendo. Deve ser bom. ;)
Enfim, é incrível o que essa volta ao mundo começou a fazer comigo desde España: me mostrar um Novo Mundo. E é surpreendente. Como brasileiro, enxergo tudo isso, toda essa história, tudo que está a meu alcance como algumas das coisas mais modernas que se pode ter, ver e sentir...
Engraçado é que tem gente que chama isso de Velho Mundo. ;)