Os papéis se inverteram. E aquilo que mais tinha graça se tornou difícil de acreditar. Meh.
Two Graves, último episódio de Revenge exibido neste último final de semana, encerrando a quarta temporada e por consequência a série como um todo, teve de tudo: drama familiar, romance, casamento, tiroteio e o aguardado embate entre a protagonista e sua grande inimiga. Fala sério se não são todos ingredientes para uma conclusão eletrizante?
Mas não. Não foi. Na verdade, foi uma broxada em dose dupla. Porque o cara a cara de Emily e Victoria foi óbvio, genérico, sem graça, sem a potência que vinha prometendo desde que as farpas diretas entre ambas começaram. E porque este momento, do jeito que aconteceu, era inevitável. Justamente pelo desenrolar que toda a quarta temporada teve — uma temporada que, aliás, não deveria ter existido. Pelo menos, não do jeito que fizeram. Não precisava.
O épico final da temporada anterior, com uma cartada de gênio de Amanda/Emily (Emily VanCamp) para cima de sua inimiga Victoria Grayson (Madeleine Stowe), de fato seria difícil de ser superado. Porque tinha a maior cara de series finale. Encerrava a trama de vingança da jovem contra a família Grayson com chave de ouro. A moça saía, em câmera lenta pelo corredor do hospício, estilosa, fazendo carão, com jeitão de quem conseguiu tudo que queria. Corta. Sobem os créditos.
“Mas estes roteiristas vão ter um trabalhão para criar alguma coisa que justifique a existência de uma nova temporada, não?”, pensei, em minha doce inocência. Bah. Tiveram nada. Foi apenas assim: olha, o David Clarke, o pai da Emily que ocasionou toda esta coisa de vingança, BOOM!, ele agora tá vivo, Emily é que se tornou o alvo da vingança da Victoria. PLOT TWIST!
O grande rolo aqui é que a ideia até é interessante – mas foi muitíssimo mal executada, com a intenção de ser surpreendente a cada episódio, com a necessidade de ter uma surpresa explosiva ao final de cada capítulo. Emily virou uma chata chorona, bem diferente da jovem badass que não perdoava nada e enfrentava qualquer barbado de igual pra igual, manipulando todo mundo enquanto inventava mil e uma formas (algumas, até, meio surreais, mas tava valendo) de fazer os Grayson se foderem na vida. Eram planos tão deliciosamente mirabolantes que pareciam uma mistura de Tom & Jerry com a vibe mais fashion de Gossip Girl.
E a Victoria, toda apaixonadinha pelo David, ficou milhas distante da vilã classuda e escrota que nós aprendemos a amar e odiar ao mesmo tempo. Resultado? Quiseram forçar um crescimento da francesinha Margaux LeMarchal (Karine Vanasse), transformando-a numa mala sem motivação que não conseguiu sequer ensaiar um conflito tão interessante quanto o de Emily x Victoria em tempos passados. E aquele policial bobinho, o tal Ben Hunter, que tinha o carisma de um dedo polegar destroncado?
Revenge sempre teve o maior clima de novelão, sejamos honestos. Novela, vejam, no melhor sentido que nós, brasileiros, entendemos. Tanto é que a série serviu de inspiração claríssima para o embate entre Nina e Carminha em Avenida Brasil — de longe, o folhetim mais interessante que a Rede Globo levou ao ar nos últimos, sei lá, dez anos — e eu não via qualquer problema nisso. Mas quando resolveu que seria uma mistura rocambolesca de gibis da Marvel, com personagens voltando da morte e ressurgindo do passado sem sentido algum, e filmes ruins do M.Night Shyamalan e sua dependência dos finais surpresa, sério, Revenge mandou pro espaço tudo que foi legal em sua essência desde o episódio 1.
E aí, como tentativa de bônus, eis que o gênio da informática Nolan Ross (Gabriel Mann), o coadjuvante mais legal de toda esta trajetória, tratado como um imbecil sem grande utilidade nesta temporada 4, ganha de Emily uma missão final: ajudar alguém a se safar de uma acusação de homicídio enquanto ela sai para curtir seu grande amor, o sempre sem sal Jack (Nick Wechsler), em alto mar. Fica aí a sugestão de uma continuação futura? Não, gente. Melhor não. Deixa como está.
Aliás, ficamos assim, então. Dentro da minha cabeça, o episódio final da terceira temporada é que foi o verdadeiro series finale. O resto foi, sei lá, no máximo um O Que Aconteceria Se...?... É, isso aí. E já tá mais do que bom. Até mais, Amanda. Quer dizer, Emily. Ou Sharon Carter. Ou algo assim.