Até visitar, jamais pensaria em ir por vontade própria. Hoje, sou louco pra voltar. :D
Durante uns 40 dias, entre Abril e Maio de 2014, eu abandonei o JUDÃO e saí viajando pelo Mundo. Doeu no coração, mas era uma daquelas oportunidades de vida — profissional e pessoal — que surgem uma vez a cada trinta anos ou menos. Fui pra Argentina, EUA, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Qatar, Hong Kong, Austrália e Chile e, agora, vou tentar dividir com vocês um pouco de tudo o que conheci, ouvi, vi e senti — tirando essa maldita dor no joelho que me acompanha até agora. :D
A sétima parada foi em Hong Kong.
Cheguei na China, rapaz. Ou, tecnicamente, uma região administrativa especial da China. Tinha aquela ideia da cidade recheada de gente, bicicletas, comidas bizarras e muita, muita, MUITA luz... E bom, em parte eu tinha razão. Tirando as bicicletas, que quase não vi em lugar nenhum, e o fato de não ter encontrado nenhum inseto pra comer no meio da rua, o que eu sabia de ter jogado Street Fighter II e visto filmes B e Círculo de Fogo tava lá.
Prédios gigantescamente altos recheados de gente morando em espaços mínimos, muitas pessoas pra todos os lados, um cheiro de fritura que é sentido durante todo o dia, o tempo todo, beirando o insuportável, e uma quase necessidade de que se anoiteça para que a cidade ganhe vida com seus neons — eles inclusive faziam parte de uma campanha publicitária, pedindo para que as pessoas os fotografassem e os publicassem em suas redes sociais com a hashtag #HKNeon. De dia, é tudo cinza demais. Pela época do ano, não pegamos mais do que 1h de céu azul; juntando isso à enorme quantidade de prédios, ruas estreitas e um pouco malucas... Lembra bastante São Paulo.
Mas, apesar de minhas profecias estarem quase certas, Hong Kong me surpreendeu. Provavelmente a minha maior surpresa nessa volta ao mundo.
Primeiro porque, apesar de ter sido colônia britânica até 1997, o inglês é muito pouco e mal usado. Nas estações de metrô é tudo falado em Cantonês (a língua de Hong Kong), Mandarim (a da China) e em Inglês, e muitas das ruas e prédios levam nomes relacionados à era Vitoriana e outros personagens importantes da história da cidade. Mas no geral, é muito difícil encontrar um garçom que fale a língua (ainda mais difícil alguém que o faça de boa vontade) ou até mesmo um cardápio em inglês.
Na noite em que chegamos na cidade, já tarde, tivemos de apelar pra um restaurante perto do hotel, único aberto... Só uma pessoa arriscava no inglês, com o menu totalmente em cantonês. Foi DESESPERADOR sentar na mesa e olhar para aquele monte de desenhos e só conhecer o Frango Xadrez — que, informo, não tem NADA de parecido com o Brasileiro. Consegui pedir um Frango com Noodles fritos e Feijão Preto, que em cantonês é algo parecido como “sitio kailau”, que estava MARAVILHOSO... Mas deu um pouco de medo. :D
Mas o que mais me surpreendeu, mesmo, foi o fato de que, se há um mês, quando estávamos em Buenos Aires, tivessem me dito que eu me divertiria tanto numa cidade como essa, eu provavelmente teria RIDO na cara dessa pessoa, além de dar-lhe um PESCOTAPA. Aí teria de pedir desculpas pelo resto da minha vida... Quem diria: Hong Kong, a cidade mais legal de toda essa volta ao mundo!
Começou no nosso primeiro dia de fato na cidade, completamente zoado por conta do jetlag (havia dormido pouco mais de 3h, como se fosse de tarde, horário de Doha), no Nian Liang Garden, onde também fica o templo Chi Lin. Foi bom começar devagar, parece que o Buddha resolveu interceder em nosso favor. Quando de noite, depois de passear por Hong Kong e pisar na terceira calçada da fama dessa viagem (sim, Hong Kong tem uma calçada da fama, com uma estátua sensacional do Bruce Lee), fomos até o Jockey Club, uma indicação da Trini, espanhola responsável por grande parte de toda essa diversão na cidade, eu só pensava em assistir às tais corridas de cavalo e ir embora capotar na minha cama.
Qual não foi a minha surpresa ao perceber que, às quarta-feiras, o Jockey Club é mais do que um lugar onde a HIGH SOCIETY Hong Konger se reúne — é onde TODO MUNDO se reúne. Ninguém tá nem aí pras corridas, que acontecem de 20 em 20 minutos; pessoal se espalha fora das arquibancadas e come hot dogs e bebe jarras gigantescas de cervejas. Pessoal conversa, se conhece... ENFIM: em Hong Kong, Jockey Club é um lugar pra socializar.
QUEM DIRIA?!
Expulsos pela polícia — pelo simples fato de que já tinham apagado as luzes mas ainda estávamos lá, calma! — resolvemos continuar as conversas na Lockhart Road, cheia de bares e algumas baladas. Sem muita coisa de interessante por lá, fui levado (já desencanado de dormir e resolvendo aproveitar de uma vez por todas) até Lan Kwai Fong. Muita gente na rua, música alta pra todos os lados... Era véspera de feriado, então todo mundo só pensava em aproveitar. MAS, naquele dia, o cansaço era muito grande e acabamos resolvendo esperar por algum táxi que pudesse (ou melhor: QUISESSE!) nos levar até o hotel, pra enfim descansar.
Mas não para por aí... Calma. :D
O dia seguinte começou, claro, umas 16h30. Um descanso MERECIDO e uma ideia que fazia bastante sentido já que, como disse, Hong Kong é mais bonita de noite. Comemos no Din Tai Fung, um restaurante especializado em dumplings e o que eles chamam de “comidas pequenas”. Se fosse na Espanha, seriam tapas; no Brasil, BELISCOS. Sabe? Enfim. Anote esse nome porque é impressionante o como é bom, TUDO. Até o atendimento, em inglês. ;D
Devidamente alimentados, hora de subir de novo, dessa vez pro Victoria Peak. Há muitas coisas pra se fazer lá, mas nós fomos direto ao mirante, pra ver a cidade toda iluminada, e linda, de cima. O vento não ajudou muito no clima, mas é uma daquelas coisas que você TEM de fazer, sabe? :)
A noite terminou no The Upper House, um bar / restaurante / biblioteca (!!!!) que fica no 49o andar de um prédio comercial no centro de Hong Kong. Quem nos levou até lá foi o Kurt, um hongkonger sensacional que conhecemos e deu diversas dicas sobre a cidade, além de explicar muito sobre a língua, os “desenhinhos”, como se diz oi e tchau... Enfim. :D
No dia seguinte cedo, fui dar um oi para o Tian Tan Buddha. Depois de uns 50mins de metrô e outros 40mins de ônibus morro acima, subi uma escada que a cada degrau me dizia, bem baixinho no ouvido, que queria destruir meus joelhos; mas, novamente, o cara — que, nesse caso, é GIGANTE — parece que resolveu interceder por nós. Descobrimos que com o equivalente a US$8, conseguiríamos não pegar uma fila de mais de 1h do teleférico pra descer, e ainda teríamos o chão de vidro pra olhar tudo melhor e mais bonito; comi um espeto de porpeta de Chocos, uma espécie de lula (que eu só descobri o que era depois, claro); tirei uma foto com uma sulafricana que achou legal eu fazer caretas pra fotos; conheci o Temple Street Market, a versão LIVE ACTION do DealExtreme; e lá fomos de volta pra Lan Kwai Fong.
Dessa vez, num anfiteatro. “Oi?” Sim, exatamente. No fim de uma rua, é um lugar com arquibancadas que é chamado de Anfiteatro por todos que lá frenquentam. Todo mundo senta lá, bebe, come... E dependendo da nacionalidade, se prepara pro que está por vir. Alguns se contentavam em estar lá e ir embora depois; acompanhado de vários espanhois, era só o começo. De lá, seguimos para o meio da rua, onde comecei a perceber o quão legal era aquele lugar: as baladas colocam o som pra fora, de modo que a pista é o asfalto; você desce ou sobe a rua atrás do que melhor te apetece; se quiser entrar, de graça, não tem problema; se não, vai ali num 7-Eleven (eles existem AOS MONTES em Hong Kong!), compra o que quiser e se diverte.
E foi o que eu fiz, por duas noites seguidas — com, além de espanhois, franceses, coreanos, noruegueses, um CIGARRINHO DE ARTISTA e bebidas com teor alcoólico de mais de 8%, o que me fez ter conversas com uma americana dentro do banheiro público MASCULINO e, o principal, não sair gritando quando um rato achou por bem passar por perto de mim, naquele anfiteatro. :D
Em resumo: Lan Kwai Fong é o lugar pra se ir em Hong Kong. Sem se preocupar com que roupa vestir ou o quanto vai gastar de ~consuma. Você conhece gente de TODO O MUNDO, dá risadas, bebe umas coisas nunca antes imaginadas e... Enfim. Uma cultura totalmente diferente de tudo o que eu conheci, meio que baseado na necessidade. Com tanto gringo por lá trabalhando, e com os chineses sendo fechados, era necessário que alguma coisa assim acontecesse. E é sensacional. :)
Em Hong Kong também aproveitei pra conhecer o Museu de História, que conta como Hong Kong surgiu, desde o início dos tempos, até os dias de hoje; conheci um daqueles mercados em que vendem peixes e outros animais vivos; comi carne de pato; e me despedi da cidade com uma garotinha envergonhadíssima, no metrô. Seu avô queria que ela me dissesse “Ni Hao”, mas ela só se escondia. Ele ria, adorando ver aquilo, feliz de estar com aquela criança.
Foram poucos minutos, mas um daqueles momentos inesquecíveis. Eu já fui aquela criança. Até hoje sou um pouco, tímido, querendo se esconder na hipótese de qualquer contato social... Mas, bem ali na terra dela, me diverti, conheci um monte de gente... Eu tou falando que eu mudei! Daqui a pouco vou eu dar risada da minha neta, se escondendo, enquanto peço pra ela dizer oi pras pessoas. :)
唔該, Hong Kong! Até outro dia. ;)