A 47ª morte da história da Fórmula 1 – e é aquela, justamente por ser na era da supersegurança, que deixa o gosto mais amargo
Não lembro, exatamente, quantos anos tinha quando fui picado pela aranha radioativa do automobilismo. Só sei que meus olhos brilhavam ao ver aqueles grandes pilotos superando qualquer limite humano em nome da paixão pela velocidade. Uma paixão maior que a vida.
Confesso que, por diversos motivos, nunca segui essa paixão nas pistas. Mas admiro quem o faz, quem tem a coragem de honrar o amor pela velocidade desafiando-a na mesma medida que a respeita. Que corre em círculos correndo contra o tempo, como que se tentasse fazer o relógio andar para trás. Alcançando o inalcançável.
Por isso, quando vejo que essa paixão acaba superando os limites da própria vida, é algo que parte meu coração.
Nesta sexta-feira (17), morreu Jules Bianchi.
Após 9 meses em coma, o piloto não resistiu aos efeitos de uma lesão axonal difusa no cérebro ocasionada depois que a sua Manor Marussia bateu em um guindaste durante o Grande Prêmio do Japão da Fórmula 1 no ano passado.
Este é um desafio que eventualmente cobra seu preço: o amor pela velocidade já nos levou diversos gênios do automobilismo. De Jim Clark a Gilles Villeneuve. De Wolfgang von Trips a Ronnie Peterson. De Rolland Ratzenberger a Ayrton Senna.
47 pilotos perderam a vida em testes ou em eventos da F1.
Só que ver a morte de Jules Bianchi é mais triste do que todas essas outras. E tão triste quanto a da María de Villota, que também morreu por complicações de um acidente em teste privado mais de um ano depois. Pela mesma equipe. Mas fora dos registros oficiais da categoria.
Porque ele tinha apenas 25 anos, um contrato pela Ferrari, títulos da F3 Europeia e da Fórmula Renault 2.0 e uma carreira promissora na F1 — com apenas 34 GPs completados e dois pontos na carreira, ambos por uma equipe pequena. E porque, nessa era da supersegurança, com tanta tecnologia, na qual ninguém morria por um acidente durante um GP em 21 anos – justamente pela melhora nas condições depois da morte do Senna, ele perde a vida por ter batido em um guindaste que estava no local errado.
Não é justo.
Foi breve. Tenho certeza que você ainda tinha muito para mostrar. Mas valeu por tudo, Jules Bianchi.