Editora de quadrinhos estaria com a renda líquida em uns US$ 2 milhões abaixo do projetado pra 2015
A DC Comics pode estar perto de enfrentar a sua maior Crise. Depois de Crise nas Infinitas Terras, Zero Hora – Crise no Tempo, Crise de Identidade, Crise Infinita e Crise Final, surge uma que a empresa já tá se preparando pra evitar a qualquer custo: a Crise Financeira.
De acordo com o Bleending Cool, a DC está uns US$ 2 milhões abaixo da renda líquida prevista pra este ano de 2015. As principais justificativas pro resultado ruim seriam os custos da mudança de Nova York para Burbank (CA), que buscou aproximar a produção de quadrinhos da de filmes e séries; além do baixo faturamento com a saga Convergence, criada justamente pra tapar o buraco criativo causado pela mudança de cidade feita por editores e executivos.
De forma simples, a receita líquida é todo o faturamento da empresa, menos custos operacionais (que, nesse caso, são impressão, distribuição, salários de quadrinistas e editores...) e impostos. Não é, necessariamente, o lucro. Por isso a mudança de cidade tem um impacto negativo nessas contas.
Isso tudo num ano que está sendo bom para as vendas do mercado como um todo. No primeiros sete meses de 2015, todas as revistas e encadernados vendidos pelo mercado direto (ou seja, comic shops) renderam US$ 334,3 milhões para as editoras, crescimento de 10% em relação ao ano passado. E por mais que o mês de julho tenha sido quase estável (as editoras, no geral, ganharam apenas 3% a mais nesse mês em relação ao mesmo mês do do ano passado), o salto fica claro quando olhamos cinco anos pra trás: o crescimento foi de 46%. Já comparando com 2005, o resultado é ainda mais surpreendente: 80% a mais.
Isso tudo sem contar o digital e livrarias. Em 2014, considerando tudo isso, o mercado de HQs movimentou quase US$ 1 bilhão. Todos esses números são da Comichron.
Fica claro que a projeção de crescimento da receita líquida foi feito tendo em mente esse cenário positivo que vem sendo construído desde o final de 2011, mas ninguém contou que a DC fosse patinar nessa boa maré agora em 2015.
Tirando apenas um mês, a Marvel sempre abocanhou de 10% a 15% a mais do dinheiro gasto pelos leitores nas comic shops em relação à Distinta Concorrência. E nem dá pra dizer que Convergence foi o motivo: abril, o primeiro mês da saga, foi justamente esse do melhor desempenho para a DC quando comparada ao resto das concorrentes. Sem falar que 5 dos 10 títulos mais vendidos naquele mês foram do crossover. Em junho, quando começou a fase DC You e diversos super-heróis passaram a ter novos e polêmicos status quo, os resultados voltaram a ser ruins.
Resumindo: quando a editora do Superman entregou HQs com personagens clássicos em contextos mais próximos dos clássicos, ficou apenas 4% atrás da Casa das Ideias.
Não dá pra saber exatamente o impacto desses US$ 2 milhões a menos. Primeiro porque a DC, por mais que faça parte de um grupo de capital aberto (a Time Warner), não abre o seu balanço trimestralmente na internet. Dessa forma, não sabemos se esse dinheiro tá faltando na renda líquida numa projeção de US$ 50 milhões (que teria impacto bem pequeno) ou de US$ 3 milhões (o que representaria dois terços a menos). Além disso, fica difícil saber o quanto dessas Obamas se perderam especificamente com a mudança – o que não vai mais acontecer, já que a troca de sede está finalizada.
O fato é que, desde que a Warner reestruturou a editora e criou a DC Entertainment, em 2009, a mensagem é clara: eles precisavam dar lucro por si mesmos – e esse resultado vai impactar sim nesse lucro. Por isso, o próprio Bleeding Cool informa que os editores começaram a passar uma nova mensagem para as equipes criativas: parem de “Batgirlizar” os personagens e voltem ao “arroz com feijão”.
CALMA, ninguém vai mexer (ao menos por enquanto) com a Batgirl. As mudanças que fizeram recentemente com a Barbara Gordon, tirando-a da sombra do Morcego, dando um uniforme menos apelativo e com aventuras mais interessantes, vão continuar – até porque está vendendo bem. Porém, a ideia é que os roteiristas e artistas parem reinventar os heróis da casa.
Quem deve sofrer mesmo um impacto com a nova diretriz é o Superman. No momento, o Homem de Aço está sendo deixado com menos poderes, além de andar por aí com camiseta, calça jeans, cabelo raspado, sem identidade secreta e, eventualmente, de motoca. Esse é o melhor exemplo do que a DC percebeu que deve evitar: colocar um personagem conhecido em um contexto completamente diferente, que mais parece o Wolverine do que o próprio Superman. É provável que o Azulão volte a ser como antes (ou algo próximo disso) mais rápido do que era previsto no começo.
Basicamente, o que os caras de lá perceberam é que não se pode “fabricar” um sucesso. Gibis de personagens como Batgirl, Arlequina, Gavião Arqueiro, Demolidor e Miss Marvel chamaram atenção justamente por serem diferentes de tudo que o resto do mercado faz. E não é porque um deles deu certo que você fará com que os outros se tornem parecidos com ele. Cada um precisa encontrar o seu tom.
E, na boa, eles estão absolutamente certos. Mas... Precisava passar por tudo isso pra perceber o que estamos falando há tempos?
Outra grande aposta para salvar o ano é Dark Knight III: The Master Race, aquela continuação de O Cavaleiro das Trevas que está prevista para começar em novembro. Até por isso, não se espante se outros clássicos da editora forem revisitados no futuro próximo – uma alternativa que está, inclusive, aberta com a atual abordagem da editora pra cronologia do Universo DC, instituída desde o final de Convergence. Agora, toda e qualquer linha temporal do passado conta.
Já pensou, sei lá, numa continuação do Monstro do Pântano do Alan Moore? Pois é. Não descartaria algo nessa linha.
Só que DC precisa também que os filmes com seus personagens funcionem. Se aquele planejamento da Warner pros cinemas der certo, toda uma nova geração de leitores será alavancada – exatamente da mesma forma que os filmes estão fazendo para a Marvel. Será isso, combinado com uma abordagem de incentivar boas ideias e a evolução dos personagens (e não reinventar a roda), que fará com que o resultado financeiro seja revertido.
Até porque, vamos combinar, fica difícil ir “pro alto e avante!” quando nem o Superman tá chegando lá, né?