Se a ideia era mostrar o mundo precisando lidar com o apocalipse zumbi, talvez fosse o caso de não deixar a história principal girar em torno de uma família levando uma vida relativamente normal, mas oprimida por militares, né?
SPOILER! Os vivos sempre foram o grande problema de The Walking Dead. Os quadrinhos deixaram isso claro desde o início, a série às vezes escorrega, mas já deu pra perceber que, sem ninguém pra preencher o saco, é possível manter os zumbis a uma distância relativamente segura e ter o mais próximo de uma vida normal.
Não precisa ir muito longe. Do seu lado tem alguém querendo preencher a porra do seu saco, simplesmente porque sim. Não vivemos nenhum tipo de epidemia, mas dá a impressão de que tem um monte de gente esperando pra te morder. Impressão. No mundo criado por Robert Kirkman, isso acontece de fato.
Fear the Walking Dead surgiu com a ideia de, além de angariar uns trocos pro canal AMC — que não tem mais nem Breaking Bad e nem Mad Men –, contar a história de uma família como qualquer outra aprendendo a lidar com esse novo mundo devidamente acabado, numa outra parte dos EUA que não a Georgia. Em outras palavras, veríamos tudo que aconteceu entre o tiro que Rick Grimes toma e o momento em que acorda no hospital. “Don’t Dead, Open Inside”, aquela coisa.
Não deu certo.
Com o fim da primeira temporada, podemos afirmar sem pensar lá muita coisa que houve algum erro no meio de toda essa produção. Do marketing, que vendeu um parque de diversões e marcas de zumbi se arrastando na praia, um jogo de basquete e um carinha pronto pra acabar com a graça, e uma história envolvendo uma família e seus problemas tendo de lidar com o apocalipse zumbi e no máximo entregou uma comunidade sendo controlada pelo exército dos EUA e todo o senso de humanidade dos militares?
Parece que foi tudo muito rápido. E parece que foi tudo muito lento. Foram três episódios até que eles se vissem obrigados a lidar com toda essa merda e, quando vão pegar a estrada — um elemento importante de todo esse universo — vem o Tio Sam e dá pra eles uma vida relativamente normal.
Será que o erro foi de quem desenvolveu essa história, pensando que com seis episódios conseguiria fazer algo realmente importante (como foi a primeira temporada de The Walking Dead, diga-se) mas que só conseguiu um personagem interessante no quinto capítulo — e, ainda assim, o deixou escapar em pouco menos de 20mins?
Kim Dickens e Alycia Debnam-Carey são as únicas que pareciam saber o que estavam fazendo no meio daquele elenco e deveriam, de fato e por direito, protagonizar a história — trabalho que sobrou pra Cliff Curtis, numa eterna cara de choro que não transmite absolutamente sentimento algum, nem pros outros personagens, nem pra nós que estamos assistindo. Frank Dillane e Lorenzo James Henrie fizeram personagens totalmente confundíveis, tão bem interpretaram o viciado e o adolescente rebelde. E a Elizabeth Rodriguez, bom, é uma ótima Aleida Diaz.
Junto com o season finale, a AMC estreou (lá fora) uma websérie, chamada Fear the Walking Dead Flight 462 que, toda semana, no aplicativo do canal e sempre que um novo episódio de The Walking Dead for ao ar, vai contar a história do OUTBREAK de dentro de um avião.
Óbvio que “ai você não pode assistir a esse conteúdo porque você tá em outra região do mundo e nossa isso faz muito sentido” mas uma busca rápida no YouTube retorna o primeiro episódio, de 1min26 — serão dezesseis, ao todo. Um moleque, aparentemente morrendo de medo de voar, começa a conversar com a mãe no telefone, enquanto um outro passageiro recebe uma informação de que o espaço aéreo dos EUA foi fechado — e, assim sendo, aquele vôo não vai poder decolar.
Sabe... Era esse tipo de coisa que eu acho que funcionaria melhor com essa ideia de Fear the Walking Dead. Quem sabe, até, uma história por episódio, que poderia acabar sendo retomada lá na frente, se fosse o caso de continuar. Mas mostrar, de fato, o que aconteceu enquanto o BICHO ESTAVA PEGANDO. Colocar os protagonistas numa área controlada por militares e, ao menor sinal de conflito interessante, como a pessoa viva na casa no alto do morro, dar uns tiros e resolver o problema não me parece ter sido a melhor das ideias pra um começo.
Fear the Walking Dead já está com a segunda temporada confirmada pro ano que vem e, como já deu pra perceber, seguiremos com esses mesmos personagens sem nenhum sal e uma história que tem tudo pra ser “vamos tentar chegar no barco, não vai dar certo, fim” — o que já aconteceu no jogo e, ali sim, tinha algum significado.
A parte boa é que temos uns 10 meses pra não nos preocuparmos com isso.