Assista ao vídeo e aproveite pra conhecer a história da música, que surgiu de uma HAGADA… :D
Você pode até ser daqueles que não gostam da obra de Quentin Tarantino enquanto diretor. Gosto é gosto. Mas uma parada que não dá pra discutir, mais até do que o seu talento enquanto cineasta, é a sua iluminada obsessão musical. Eclético a ponto de misturar, numa mesma história, um clássico do soul dos anos 1970 e um pedaço de uma trilha obscura de algum western italiano, ele sempre recorre à sua imensa coleção para criar a ambientação de seus filmes.
“Uma das coisas que faço assim que começo a fazer um filme, quando estou escrevendo ou tenho aquela primeira ideia é mergulhar na minha coleção de discos e começar a tocar algumas canções, para encontrar a personalidade do filme, encontrar o espírito dele”, explica o diretor nos textos do encarte de The Tarantino Collection, álbum com os principais destaques FONOGRÁFICOS dos seus filmes.
“Aí eu acabo encontrando uma, duas ou três canções. Se for apenas uma, ela deve servir como uma ótima faixa para os crédtos de abertura do filme. Porque a abertura é aquele único momento em que o filme tem para definir o seu clima. Estou sempre procurando aquela música ideal para a abertura ou para o encerramento. Quando encontro, é aí que defino o ritmo que todo o resto vai ter”.
Semana passada, quando saiu o trailer completo de Os Oito Odiados, Tarantino nos BRINDOU com mais uma pérola, a canção Hold On I’m Comin, releitura do quarteto Welshly Arms para um clássico da dupla de gospel/soul Sam & Dave.
“Eles combinam o amor pelo blues com um bocado de ritmo, soul e o bom e velho rock ‘n roll, criando um som ao mesmo tempo novo e retrô que representa suas raízes do meio-oeste”. A descrição é dada pelo próprio site oficial do grupo Welshly Arms, formado por Sam Getz (vocalista/guitarrista), Brett Lindemann (tecladista), Jimmy Weaver (baixista) e Mikey Gould (baterista). Tão influenciados por Jimi Hendrix quanto, por exemplo, por The Temptations e Howlin Wolf. O resultado tem um quê do que a crítica convencionou chamar de “post-modern blues-rock”, na vibração do que fazem os manos do The Black Keys e faziam os White Stripes.
Apesar de terem surgido no cenário musical de Cleveland apenas em 2013, os integrantes do Welshly Arms são todos veteranos do mundinho da música. Getz, por exemplo, foi músico de apoio da banda Stephen Kellogg and the Sixers – e, aos 14 anos, tocou em uma banda de blues montada pelo próprio pai e que abriu diversos shows para nomes como Mick Taylor (Rolling Stones), John Mayall e Peter Green (Fleetwood Mac). Mesmo em sua época na banda quase pop Cactus 12, o blues estava na sua cabeça o tempo todo. “Eu pensava ‘mas será que não tem espaço para um solo de blues aqui?’”, revela ele, em entrevista ao site Cleveland.com.
Em 2013, o Welshly Arms lançou seu primeiro EP de cinco músicas, Welcome, que trazia a canção Two Seconds Too Late – a mesma que ganhou um videoclipe e fez um certo barulho no mundinho indie. Aos poucos, começaram a ser conhecidos nas redondezas principalmente por suas performances ao vivo sempre “fortes, explosivas e espontâneas”. Logo depois, sua notoriedade aumentaria quando o CW resolveu usar duas de suas músicas em vídeos promocionais das séries: The Touch para The Vampire Diaries e That Voodoo para The Originals. Somente em 2014 é que sairia um segundo EP, este apenas com covers, no qual estaria a tal Hold On I’m Comin que cativou Tarantino. Recentemente, eles acabam de lançar seu primeiro disco completo, autointitulado.
“O álbum é fantástico. É puro rock com blues cheio de alma. É sujo, é industrial, é novo”, diz a resenha do Ear To The Ground. “É assustador como uma casa vazia, é grudento como uma canção da Taylor Swift e absolutamente cheio de sons dançantes e com muito groove”.
Hold On I’m Comin era a música que também dava título ao disco de estreia da dupla Sam & Dave, lançado em 1966. Em comum com o Welshly Arms, o que estes dois caras tinham era efetivamente a paixão pelo blues. Mas o mundo destes camaradas estava BEM mais próximo da música negra, na verdade: respirando soul e R&B desde o berço, Sam Moore e Dave Prater surgiram do universo da música gospel, cantando em igrejas e ministérios. Ambos já tinham lá sua experiência cantando na noite, mas foi no meio religioso que se conheceram e descobriram que ali tinha química.
Em seus mais de 25 anos de carreira, levaram o Grammy pra casa, ganharam sua homenagem devida no Rock And Roll Hall of Fame e foram influência declarada para nomes como Bruce Springsteen, Al Green, Tom Petty, Phil Collins, Michael Jackson, Elvis Costello e Billy Joel. O jeito de cantar dos Blues Brothers, dupla formada por Dan Aykroyd e John Belushi surgida no cinema mas que depois ganharia seu espaço também na música, foi totalmente baseado no tipo de dueto entre Sam e Dave.
Na verdade, em sua missão de ajudar a trazer de volta a popularidade da trinca soul/R&B/blues em plenos anos 1980 dominados pelo rock, os Blues Brothers chegaram inclusive a regravar um dos clássicos da dupla: Soul Man. A música teria surgido de um jeito bem inusitado, de acordo com o que os dois autores originais da canção contavam. David Porter estava no banheiro e seu parceiro, Isaac Hayes (ninguém menos do que a sensual voz do Chef em South Park), o estava procurando, chamando por ele em todos os lugares. “Hold on, man, I’m comin”, Porter teria respondido. Os dois amaram a frase e escreveram a canção inteira em 10 minutos.
Hold On, I’m Comin foi o primeiro single da dupla Sam & Dave a entrar nas paradas Top 40 de música pop – concorrendo com uma série de artistas de outros estilos, o que é um feito memorável para uns caras que surgiram da música gospel. Além disso, a faixa foi eleita como a música número 1 do ano de 1966 na categoria R&B pela Billboard, permanecendo impressionantes 20 semanas entre as mais pedidas. Em 1988, chegou a ser eleita uma das 100 melhores canções dos últimos 25 anos – e, até o momento, foi regravada por cerca de 30 artistas diferentes, do Hanson à dupla estrelada formada por B.B.King e Eric Clapton, passando por Tom Jones, Tina Turner e Aretha Franklin.
https://www.youtube.com/watch?v=1xIfFWMUlBk