Eram pra ser apenas cinco músicas gravadas com uns amigos. Mas depois dos atentados na capital francesa, ganharam um significado todo especial.
Tava rolando, há coisa de um mês, uma contagem regressiva no site dos Foo Fighters. Coisa nova vinha por aí. Disco ao vivo, DVD, turnê especial? Nada disso. Quando o relógio bateu 00h desta segunda-feira (23), eles liberaram gratuitamente o download de um EP com cinco músicas inéditas, batizado de Saint Cecilia (que também entrou em pré-venda, pra quem curte vinil).
“Queríamos dar ao mundo um muito obrigado pelos últimos dois anos”, diz o vocalista em uma carta aberta divertida e emocionante. Empolgado não apenas com o tamanho de sua última turnê mas também com as possibilidades de um disco gravado em oito icônicos estúdios diferentes e que geraria ainda um documentário na medida certa para quem ama música, ele considera este um dos ápices da banda até o momento.
A gravação do EP rolou naquele esquema “na cara e na coragem” na cidade de Austin, Texas, onde os caras desembarcaram como headliners dos dois finais de semana do festival Austin City Limits. Seriam os dois últimos shows da turnê americana dos caras, dias 2 e 9 de outubro, respectivamente. Notou o intervalo no meio? Pois é. ;)
Hospedados no Saint Cecilia Hotel, os caras resolveram aproveitar os dias de folga entre um show e outro para fazer mais música. O escritório da gerência virou a sala de controle do som, o bar estava cheio de microfones e cabos, os amplificadores na cozinha. O hotel virou um estúdio. E eles gravaram. Conforme Grohl lembra, seguindo o conselho de seu amigo Jack Black, em um dos episódios de Tenacious D: “Grave. Sempre grave. Nunca perca a chance, por mais que seja apenas uma jam entre amigos. Vai que rola algo especial...?” Aqui, bom, acabou rolando.
Rolaram, é claro, os convidados especiais, como a incrível banda de jazz Preservation Hall Jazz Band trouxe um sabor de Nova Orleans, assim como o o blueseiro e ator Gary Clark Jr. E o prodígio do indie folk, o multi-instrumentista Ben Kweller, quis fazer um pouco de festa também e se juntou ao time.
Da reunião, saíram canções inéditas e até mesmo uma versão renovada para The Neverending Sigh, que data do início das atividades destes camaradas, há quase duas décadas. Enquanto a faixa-título é tipicamente Foo Fighters (e entenda isso como uma coisa boa), Sean tem uma pegada quase ska, Savior Breath carrega um vigor gritado que é quase hardcore e Iron Rooster é uma balada meio blues-rock. Ou seja: tem pra todos os gostos.
“Então, sentado aqui num hotel em Berlim enquanto nos preparamos para os shows finais desta turnê, estou contando os dias para voltar para casa”, finaliza Dave em sua carta. “Eu não consigo deixar de imaginar quando eu e os rapazes vamos nos ver novamente. Quem sabe? Mas, como acontece com tudo relacionado aos Foo Fighters, só vai ser na hora em que sentirmos que é certo. E este é um sentimento fácil de sentir”.
Mas a história de Saint Cecilia não acabou aí. E a carta de Grohl acabou ganhando um segundo capítulo. Ou melhor, como ele mesmo chamou, um prefácio. Porque, depois dos atentados em Paris que aconteceram no último dia 13, “este projeto ganhou um tom totalmente diferente”, explica.
“Este EP surgiu como uma celebração da vida e da música – conforme nossa turnê se encerra, queríamos dividir nosso amor com vocês pra oferecer algo em retorno por tudo que vocês fizeram por nós. Mas agora, existe a intenção, por menor que seja, que talvez estas músicas possam trazer um pouco de luz para um mundo muitas vezes sombrio. Para nos lembrar que a música é vida”. E ele completa desejando amor às famílias das vítimas da capital francesa, dizendo que “Vamos voltar para celebrar a vida e o amor com vocês em algum momento. Como deve ser feito”.
“Uma celebração da vida e da música”
É importante lembrar que Dave Grohl tem uma relação bastante próxima com Josh Homme e Jesse Hughes, a dupla por trás do Eagles of Death Metal, que se apresentava no Bataclan quando as merdas aconteceram. No site do EP, os ouvintes são incentivados fazer uma doação em apoio às vítimas dos ataques, em especial aos familiares de Nick Alexander, que trabalhava na barraca de produtos de merchandising do Eagles of Death Metal.
“A esperança e a cura caminham lado a lado com a música. Que isso jamais possa ser tirado de nós”. Disse bem, Dave. Nunca, por favor.