Aos 48 anos, ex-vocalista do Stone Temple Pilots e do Velvet Revolver é encontrado morto nesta quinta (3) dentro do seu ônibus de turnê
“Inevitável mas inacreditável”.
Foi assim que um grande amigo descreveu a morte de um de seus maiores ídolos, o vocalista Scott Weiland, encontrado morto na noite desta quinta-feira (3) dentro do ônibus da turnê de sua banda solo, na cidade americana de Bloomington, Minnesota. O curto comunicado publicado em sua página no Facebook fala em “morte durante o sono” e pede a privacidade da família – mas, oficialmente, a causa de sua morte ainda não foi divulgada.
Aos 48 anos, Weiland — nascido Scott Richard Kline em 1967, na cidade californiana de San Jose — tinha algumas datas agendadas ao lado de sua própria banda, The Wildabouts, com a qual interpretava uma série de sucessos de sua carreira e ainda as faixas do recém-lançado disco Blaster. Também este ano, chegou a gravar os vocais no auto-intitulado álbum de estreia do Art of Anarchy, projeto com o guitarrista Ron “Bumblefoot” Thal (Guns n’ Roses) e o baixista John Moyer (Disturbed).
“Ele era uma espécie de força épica quando estava no palco”, soltou no Twitter a atriz e cantora Juliette Lewis assim que ficou sabendo de sua morte. Verdade. Grande parte do sucesso do Stone Temple Pilots, banda que formou com os irmãos Robert e Dean DeLeo e que explodiu em 1992 com hits como Sex Type Thing, se deve às performances bombásticas de Weiland.
Carismático, falastrão, sabia comandar o público e colocar fogo numa apresentação, fazendo até uso de um megafone quando necessário, o que acabou se tornando uma de suas assinaturas. ;) Scott encarnava uma persona ao mesmo tempo sexy e sombria, que dava uma personalidade de interpretação a cada faixa que só caras como seu contemporâneo Mike Patton conseguem.
Seu vozeirão rasgado que por vezes tinha ares de rugido se tornou praticamente marca registrada do cenário do rock alternativo que surgiu nas garagens dos EUA pós-grunge. O grande problema é que Weiland também se tornou o arquétipo clássico da estrela do rock fora dos palcos, encarando uma batalha constante contra a heroína e a cocaína e tornando-se conhecido por sua personalidade encrenqueira. Em 1995, foi preso por posse de drogas. Em 1998, passou cinco meses preso pelo mesmo motivo e, logo depois, acabou processado por abuso doméstico ao partir pra cima da esposa.
Sua instabilidade e comportamento errático começaram a influenciar negativamente no resultado dos discos do STP e também no agendamento das turnês – e, conforme todos os integrantes passaram a se dedicar a projetos paralelos, por mais que a banda tenha se provado um sucesso comercial, as atividades foram oficialmente encerradas em 2002. Não demorou para que ele formasse um novo grupo — ou, no caso, um supergrupo, o Velvet Revolver, formado com os ex-Guns n’ Roses Slash, Duff McKagan e Matt Sorum. Os caras lançariam dois discos, o ótimo Contraband (2004) e o mediano Libertad (2007). Mas os problemas continuaram e a banda nova sentiu o impacto da tempestade Scott Weiland. Mais brigas, mais discussão e mais uma dissolução a caminho.
Mesmo assim, em 2008 ele se reuniria mais uma vez com os parças do STP para uma turnê americana, cujo sucesso daria origem a um disco de inéditas em 2010, batizado apenas com o nome da banda. No ano anterior, Weiland tinha sido preso por dirigir sob o uso de substâncias ilegais e acabou entrando numa clínica de reabilitação. Parecia que as coisas iam mudar.
Só que não demorou dois anos para Weiland voltar ao seu modus operandi. O caso é que, desta vez, os outros músicos queriam continuar em atividade — e Scott acabou afastado do cargo para dar lugar à Chester Bennington, do Linkin Park. O resultado foi uma batalha judicial: de um lado os ex-colegas de banda querendo ser ressarcidos porque Scott andava tocando suas músicas por aí sem autorização e usando o nome do grupo indevidamente para promover seus shows solo; do outro o próprio cantor em busca de indenização pela demissão injusta, no valor de US$ 5 milhões.
Em trechos nunca publicados de uma entrevista concedida à revista Rolling Stone, na época em que o primeiro disco do Velvet Revolver estourou, Weiland revelou ser portador do transtorno bipolar. “Tenho um monte de alterações de humor – e já tenho que lidar com isso regularmente”, explicou, ao discutir sobre o período de “limpeza”, sem drogas, que vinha passando naquele momento. “Sinto que agora é bem mais fácil acessar as minhas emoções agora”, disse, a respeito de seu processo de composição.
“As pessoas têm uma visão distorcida sobre mim”, afirmou ele certa vez em entrevista ao USA Today. “Ok, eu lutei contra a heroína e a cocaína, e eu fui uma grande estrela do rock. Mas não é a música que me define. Eu sou um irmão, um pai, um filho”.