Corredor Escarlate viaja para a Terra-2 pra encontrar versões malignas de seus melhores amigos e um misterioso homem preso pelo Zoom…
SPOILER! Imagine um universo diferente. Você é você, claro. Mas não exatamente do mesmo jeito. Outros rumos na vida, outras escolhas, outra profissão, outra personalidade. Quem você conhece não é exatamente do mesmo jeito. Aliás, você realmente os conhece?
Foi nesse mundo estranho, um universo alternativo, que Barry Allen e Cisco ADENTRARAM no episódio desta semana de The Flash, Welcome to Earth-2 e, seja pra quem assistiu ou pra quem atual, foi legal pra caralho — uma viagem diferente, pegando emprestado não só outros elementos dos quadrinhos, mas também fazendo referências a outras séries, ainda que usando uma ideia bem antiga. :)
Pensando nos quadrinhos da DC naquele começo de anos 1960, quando Barry Allen descobriu uma outra versão de si mesmo, Jay Garrick, vivendo em outra Terra, a ideia de multiverso era muito mais simples. No conceito introduzido por Gardner Fox e Carmine Infantino, eram apenas realidades diferentes com histórias totalmente diferentes, contadas em gibis de épocas distintas.
Quando foi confirmada a participação de Jay nessa segunda temporada da série de TV, era possível imaginar que o conceito na televisão seria o mesmo. Porém, a cada meta-humano que ia da Terra-2 para a Terra-1 dava pra perceber que as coisas no universo paralelo eram meio que um reflexo, invertido, com quem era bom se tornando mau, e quem era mau se tornando bom. Quando Barry e Cisco entraram no Speed Canon para viajar pra Terra-2 e não só derrotar o vilão Zoom como também liberar a Jesse (filha do Harrison Wells daquela Terra), foram essas personalidades trocadas que eles encontram.
Nos quadrinhos, o conceito mais próximo disso foi introduzido em 1964, na chamada Terra-3. Lá tudo era trocado – ao invés de Liga da Justiça da América, existia o Sindicato do Crime da América, formado por Ultraman, Super-Mulher, Anel Energético, Johnny Quick (ou Trovoada, se você for das antigas) e Coruja. O único protetor do planeta é Alexander Luthor, que se casou com a Lois Lane.
É como se tivessem feito uma fusão dos dois conceitos no Arrowverse da televisão: a versão alternartiva do Floyd Lawton, o Deadshot, é, por exemplo, um policial bobão que não sabe atirar; Iris West é uma policial durona; Joe West é um músico arrogante; o capitão David Singh é um bandido... Mas Barry ainda é o CSI da Polícia de Central City.
Claro, estamos falando de televisão, também, e esse conceito de universos paralelos ecoa em outras referências. A mais antiga que consigo lembrar é de um episódio de Além da Imaginação, The Parallel, exibido em 1963. Porém, a referência mais forte (e mencionada duas vezes no episódio de The Flash) é do clássico Mirror, Mirror, da segunda temporada da série clássica de Jornada nas Estrelas, exibido em 1967.
Daquela vez, Kirk, McCoy, Scott e Uhura acabam sendo transportados para um universo paralelo após um mal funcionamento do equipamento. Quando eles percebem, estão em outra Enteprise, que faz parte de um maligno Império e povoada por versões más deles mesmos. Depois, o conceito de “Mirror Universe” se tornou parte importante das histórias de Star Trek e exemplo pra muita coisa que veio depois, tipo Fringe.
O resultado dessa verdadeira SALADA dá a chance dos atores saírem da caixinha, dos lugares comuns que vão surgindo quando você interpreta o mesmo personagem por tanto tempo. Danielle Panabaker como a versão maligna da Caitlin Snow, a Nevasca, estava realmente incrível, ou mesmo a Candice Patton mostrando que pode fazer uma Iris num tom diferente daquele que estamos acostumados. Agora, a parte mais legal MESMO foi poder ver Jesse L. Martin (que é cantor) dar um TOSTÃO de sua voz afinada. Outra surpresa foi ver Carlos Valdes confrontando a sua própria versão malvada.
Como parte de um evento em duas partes, Welcome to Earth-2 acaba num enorme cliffhanger. Ok, sabemos que Barry e seus amigos vão voltar pra Terra-1 no próximo episódio, mas foi o suficiente pra deixar aquele nó na garganta ao ver o Zoom vencendo mais uma vez.
O que não sabemos muito é como acontecerá esse retorno, nem o que virá a seguir — MAS temos algumas pistas. Quando Barry usa o Speed Canon vemos rápidas imagens de outros universos e momentos no tempo, como Jonah Hex (que vai aparecer em Legends of Tomorrow), a Supergirl (confirmando, então, aquela história dela estar num universo paralelo?), o anel da Legião dos Super-Heróis (AÊ!) e o Arqueiro Verde do futuro (que também será visto em Legends).
Só que tem duas coisas que me chamaram mais a atenção (e não são os nomes Diana, Bruce e Hal no telefone da casa do Barry, muito menos a brincadeira com a Sociedade da Justiça na parede da Delegacia). Uma delas foi a rápida aparição de John Wesley Shipp de Flash durante a viagem interdimensional, em cena da série do Flash de 1990. Pode ser apenas uma forma de mostrar que “hey, é tudo um multiverso só”, teoria que já defendemos diversas vezes aqui no JUDÃO e que, aparentemente, The Flash está construindo de forma muito inteligente. Mas dá pra imaginar mais, afinal todas as cenas vistas nesses easter eggs influenciaram ou vão influenciar algo do Arrowverse.
Aí, quando Barry acorda preso no esconderijo do Zoom, há um homem com uma máscara, escondendo seu rosto, na frente dele — personagem que, inclusive, está creditado nas fotos de divulgação como “man in the iron mask”. Quem é esse preso misterioso?
L’Homme au Masque de Fer é um livro de Alexandre Dumas e a última parte da saga dos Três Mosqueteiros. Na história, o rei Luis XIV prende na Bastilha um homem que tem o rosto escondido por uma máscara de ferro – que, eventualmente, descobrimos ser o Leonardo DiCaprio irmão gêmeo dele.
The Flash, nessa viagem interdimensional, é muito sobre sósias e versões diferentes dos próprios personagens. Faz sentido que o Zoom tenha prendido seu doppelganger e, pra não ficar se vendo ou para não expô-lo como uma fraqueza, colocou uma máscara nele. Ou seja, dá MUITO pra dizer que aquele homem preso é a chave para a solução do conflito da temporada (inclusive pensando em estrutura narrativa).
Lembra aquela nossa teoria sobre o Zoom ser JUSTAMENTE o John Wesley Shipp, que poderia ser uma versão alternativa do pai do Barry? E quem apareceu no começo do episódio, nos easter eggs da viagem interdimensional? E, se ATENTE a este último detalhe: com o logo no peito invertido, tal qual o Flash-Reverso e o Zoom. Ou como se a imagem estivesse invertida, num ESPELHO.
Boom.
É uma viagem, mas é uma BOA viagem. Mas ainda deixa uma dúvida sem resposta: será o Zoom uma versão do Henry Allen? Ou será que vão ter os COJONES de corromper o Flash da série dos anos 90? Seria corajoso...
O que eu posso dizer é que The Flash tá mandando muito bem nessa segunda temporada – não à toa, Welcome to Earth-2 garantiu a melhor audiência da série desde fevereiro do ano passado. ;)