O filme que fez a NFL e seus fãs arrancarem os cabelos não é nada de mais… O que não dá pra dizer sobre o assunto que aborda
Não fosse a polêmica envolvendo Jada Pinkett-Smith, revoltadíssima com a não-indicação do maridão ao Oscar (ainda que ela esteja certa em reclamar da falta de diversidade, é bom que se diga), talvez pouca gente se interessasse por Um Homem entre Gigantes. Quer dizer, fãs de futebol americano e de esporte em geral ouvem falar sobre o filme há algum tempo, inclusive nas transmissões de jogos, mas o pessoal que quer ver a atuação do Will Smith vai acabar ficando com duas certezas: realmente não merecia ser indicado, mas atuou mais que o Leonardo DiCaprio em O Regresso.
Um Homem entre Gigantes conta a história da descoberta do TCE, traumatismo crânio-encefálico, por Dr. Bennet Omalu e tudo o que ele passou pra fazer com que seu trabalho fosse reconhecido — enfrentando uma das maiores corporações do universo, a NFL, que fez de tudo pra desacreditar aquele simples NEUROPATOLOGISTA FORENSE que conversava com os mortos... Até que não teve mais jeito e foi obrigada a criar diversos protocolos pra melhorar a segurança dos seus atletas.
E... Bom, é isso. Um Homem entre Gigantes talvez funcionasse melhor como um documentário ou se tivesse uns 45mins a menos — especificamente, aqueles minutos que tentaram dramatizar toda essa história que, com grandes defeitos de direção e roteiro, acabou se tornando totalmente desinteressante, sem profundidade alguma.
Will Smith está bem, sim, no papel do Dr. Omalu, mas não é porque o Fresh Prince of Bel-Air fez um trabalho “sério”, com sotaque, que ele merece aplausos ou qualquer indicação a prêmios. Por isso até um documentário funcionaria melhor: conheceríamos o Dr. Omalu da VIDA REAL, veríamos imagens e documentos e entrevistas da VIDA REAL e o filme teria atingindo mais facilmente os seus objetivos, sejam eles quais forem.
Era só pra contar como um cara sai da Nigéria e vira um cientista nos EUA? Mostrar como uma grande corporação pode foder a vida de uma pessoa comum ou de qualquer um que possa atrapalhar seus interesses? Expor a NFL? Dava pra ser diferente, ainda mais por se tratar de uma história real, com grandes repercussões por aí.
Por exemplo, Daniel Bryan, um dos lutadores mais queridos da WWE, foi recentemente forçado a se aposentar por conta de um histórico de múltiplas concussões, que poderiam acabar se agravando. O diretor médico da companhia e responsável pela decisão foi o Dr. Joseph Maroon, o mesmo Joseph Maroon que, ainda trabalhando no Pittsburgh Steelers e sendo um consultor da NFL, tentava diminuir a importância e os riscos das concussões, as mesmas que acabaram matando o jogador Mike Webster, levando à descoberta do Dr. Omalu.
A mesma WWE que simplesmente ignora a existência de Chris Benoit, um ex-lutador que acabou matando a família e ele mesmo como resultado do TCE. Afinal de contas, é muito mais bonito dizer que se previne alguma coisa do que alguém morreu por essa coisa que você simplesmente ignorava até outro dia.
Milhares de famílias entraram na justiça contra a NFL por conta disso, e vários são os ex-jogadores que acabaram morrendo em decorrência do TCE — a grande maioria deles envolvendo violência, contra si ou contra ENTES QUERIDOS. É por isso, portanto, que qualquer coisa que aconteça num jogo, hoje em dia, o jogador é retirado de campo, faz testes com um médico independente e aí é liberado ou não pra retornar. Se não é, passa por mais exames, é obrigado a se afastar das FUNÇÕES por um tempo... Enfim.
Você vai ouvir e ver mais coisas relacionadas a isso em outros esportes, como o futebol, por exemplo. Lembra do Alvaro Pereira, na Copa de 2014? Ou mais recentemente, o Cássio, do Corinthians, que tomou uma joelhada na cabeça? Já existem algumas regras hoje em dia (a equipe médica, do clube, tem 3mins pra detectar a concussão), mas tudo tende a ficar ainda mais seguro...
Esperamos nós que não por conta de alguma merda que aconteça. :)
O TCE é perigoso também porque só pode ser diagnosticado depois da morte. Kevin Nash, outro lutador da WWE, declarou recentemente que pretende doar seu cérebro pra estudos. “Eu já tive várias concussões na minha vida e fiz exames e sabia que, em algum momento, eu já tinha problema com memória recente”, disse ele em entrevista para a ESPN. “Eu decidi seguir em frente. A única maneira que você tem de diagnosticar é depois de morrer”.
Se você se interessou mais pela história, existem dois filmes que podem te ajudar MUITO mais do que Um Homem entre Gigantes a conhecer, não só com a história da descoberta do TCE e o que a NFL fez pra negar sua existência, mas também pra entender um pouco mais sobre o problema: League of Denial: The NFL’s Concussion Crisis, que também é um livro, e Head Games: The Global Concussion Crisis, baseado no livro de Chris Nowinski, um ex-lutador da WWE que também foi obrigado a encerrar a cerreira por conta das concussões.
Porque futebol americano também é cultura pop! Com Borbs, Renan Martins Frade, Thiago Cardim e Leandro Iamin na mesa de som. :)
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