“Nós passamos muito tempo na América do Sul, sabemos como o rock é grande por lá”, justificam os integrantes, ao anunciar a convocação de NANDO REIS
Junte o guitarrista fodão de uma banda, o baixista superstar de outra, o batera pirotécnico de uma terceira e, olhaí, tá feita a fórmula para um supergrupo, aquelas formações que a indústria fonográfica adora desde sempre. Embora em alguns casos os tais supergrupos soem nitidamente como picaretagem pura, desde o anúncio inicial, em alguns casos a coisa é de fato promissora. O caso do Levee Walkers parece, definitivamente, ser este segundo. E ainda uma chance de atrair as bases de fãs de pelo menos três bandas diferentes para um projeto, né? ;)
Anunciada oficialmente no ano passado, a banda será formada por um núcleo-base que traz Barrett Martin (Mad Season / Screaming Trees) na bateria, Mike McCready (Pearl Jam / Mad Season) na guitarra e Duff McKagan (Guns N’ Roses / Velvet Revolver) no baixo. Assim que o projeto foi divulgado, o trio contou que a banda, na verdade, começou a surgir há cerca de 25 anos, quando Mike viu pela primeira vez Duff tocando baixo no Guns e Barrett arrebentando na bateria do Screaming Trees. As sementes estavam plantadas ali.
Em 1994, numa pausa em suas respectivas bandas, Mike e Barrett se encontraram e resolveram formar o quarteto de “dark blues” chamado Mad Season – e, dois anos depois, Barrett finalmente conheceu Duff em Los Angeles e os dois até tentaram formar seu próprio grupo juntos, que acabou nunca saindo do porão do baixista em Hollywood Hills. A coisa rolaria em 2012, batizada de Walking Papers, com Mike contribuindo em alguns solos de guitarra. A cola que uniria estes três caras surgiria em 2014, quando o trio se reuniu, sob o nome de Mad Season, para um show histórico com Chris Cornell (Soundgarden) nos vocais. Logo nasceria o Levee Walkers.
Levee Walker é, segundo eles mesmos descrevem, um fantasma que ocasionalmente é visto andando sobre os tetos das barragens no meio da noite. A lenda diz que eles são os fantasmas de homens que morreram durante a construção das barragens; outros dizem que eles são fantasmas à procura de seus amantes perdidos. Musicalmente, eles se descrevem como uma banda de Seattle “com certeza”, mas com raízes firmemente fincadas na trinca blues, rock e punk – tudo interpretado através do filtro do Noroeste do Pacífico (entenda aí Washington, Oregon, Idaho, Sudeste do Alasca, o norte da Califórnia e tudo que vai descendo).
Recentemente, eles lançaram duas canções, Freedom Song e Tears for the West, que trazem nos vocais Jaz Coleman, da banda britânica Killing Joke. Segundo comunicado oficial, o Killing Joke foi altamente influente nas carreiras musicais dos três, representando tudo que eles sempre quiseram numa banda: letras poderosas e cheias de consciência, musicalidade feroz e uma sonoridade que não pudesse ser imitada apenas por ser única. O caso é que Jaz não vai ser o único cantor desta história – e é a partir daqui que ela fica mais interessante.
“Nós só pensamos, vamos escrever algumas canções e veremos quem gostaria de cantar nelas, então começamos a mandá-las para as pessoas”, revelou Barrett, em entrevista para a rádio KISW. “Acho que tínhamos 15 ou 16 ideias básicas, e todos escolheram canções diferentes, ninguém pegou a mesma música. Nós queríamos fazer isso com pessoas de todo o mundo, isso era meio que uma declaração política, porque o rock n’ roll é universal. Não está limitado apenas ao idioma inglês, não está limitado apenas aos EUA e à Europa. Nós três já passamos um bom tempo na América do Sul, por exemplo, e o rock é imenso lá”. Segundo ele, a ideia era acrescentar ainda pessoas cantando em espanhol e também no português que é falado aqui no Brasil.
Eis que, então, ele revelou quatro nomes com os quais a banda está trabalhando – e um deles é justamente o pai da Sophia, o ruivão Nando Reis, ex-Titãs.
É bom que se lembre que Nando e Barrett são amigos há algum tempo. O baterista, inclusive, já tinha tocado em discos do cantor brasileiro, como Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro (de 2000, gravado em Seattle com a produção de ninguém menos do que Jack Endino, que produziu Bleach, primeiro álbum do Nirvana), Infernal (2001) e A Letra A (2003).
Além de Nando, estão envolvidos Ayron Jones, também de Seattle, de uma banda de blues rock que leva seu nome e que faz questão de dizer que tem uma atitude fincada no hip hop; a cantora porto-riquenha Raquel Sofia; e o vocalista/guitarrista canadense Danko Jones, do excelente grupo que também tem seu nome, um hard rock que ultimamente vem flertando com o stoner mas que jamais abandona uma inacreditável pegada meio soul.
“Para se tornar um Levee Walker, você tem que ter pelo menos 25 anos de experiência musical, ter sobrevivido a batalhas contra as forças da escuridão e, talvez, beijado a morte na face”, diz o site oficial do grupo. “Mais importante do que isso, deve existir uma reverência profunda à música de seus camaradas – e ao comprometimento de que eles trilharam o mais difícil dos caminhos”.
Ainda segundo Martin, em outubro existem planos para um show ao vivo e para mais gravações, que vão sendo liberadas aos poucos. Ainda não existe previsão de quando – e se – sairia um álbum completo, por exemplo. Talvez nem seja esta a intenção, aliás. “Como o fantasma do Levee Walker, esta banda vai aparecer, desaparecer e reaparecer novamente, conforme a inspiração musical pintar na gente”.
Depois de ouvir o trampo que eles já gravaram com Jaz Coleman (que você também pode fazer aí embaixo), mas com absoluta certeza bate uma coceira para escutar o que eles seriam capazes de fazer com a voz do Nando Reis. Tamo aqui, querendo mais. ;)