RESENHA: Predator VS. Judge Dredd VS. Aliens #1

Juiz Dredd não apenas trouxe justiça a estre crossover, mas também o protagonista que ele procura há anos

“Não importa quem vença, todos nós saímos perdendo”, dizia a tagline do primeiro Alien vs. Predador, de 2004, a tentativa cinematográfica de fazer um crossover intergaláctico entre as duas raças de aliens monstruosos. No fim, a frase estava certíssima, tanto com relação a este filme quanto ao seu sucessor, de 2007: ambos são umas bostas e quem sai perdendo é mesmo o coitado do espectador, não importando qual dos personagens fique de pé no final.

A ideia de colocar os dois juntos é antiga, na real. E vem dos quadrinhos da Dark Horse, lá no começo dos anos 1990. O resultado, nas páginas escritas por Randy Stradley (roteirista que hoje é vice-presidente de publicações da editora), soava no mínimo divertido e gerou uma porrada de continuações, em sua maior parte de qualidade questionável.

Conforme os anos foram passando, tentaram enfiar os caçadores do Schwarzenegger e a praga da tenente Ripley em tudo quanto é mistura bizarra no mundo dos gibis. Já botaram os monstrengos em parceria (ou quase isso) lutando contra a dupla Witchblade e Darkness, contra o Exterminador do Futuro e até contra o Batman e o Superman. Tudo soava esquisito, forçado, sem motivo de existir. Não dava liga. “Se, originalmente, o primeiro encontro entre Alien e Predador surgiu de uma reunião criativa para definir uma luta bizarra de titãs, vamos continuar neste caminho e tentar colocá-los contra inimigos cada vez mais inesperados”, parecia ser a linha de pensamento dos roteiristas. Mas faltava a cola de verdade pra unir Alien e Predador.

Assim que foi anunciada a minissérie Predator vs Judge Dredd vs Aliens, o conceito me ganhou de imediato. ISSO combina. O Juiz Dredd era a cola que faltava. A publicação da Dark Horse em parceria com a IDW e com a inglesa 200 AD faz sentido. Dentro de uma insanidade ultraviolenta que cai como uma luva.

Predador. Juiz Dredd. Alien. Não tinha como errar.

Para dar cabo de um bando de Aliens e de um monte de Predadores, só mesmo uma máquina de matar sem piedade e com queixo de aço como Dredd. E aqui está o segredo: diferente de outras interações entre os personagens, esta se beneficia de um elemento bastante latente na obra do juiz que patrulha Mega-City One: a porra do humor. É tudo frenético, acelerado, testosterona pura. Mas sem se levar tanto a sério assim.

O roteiro do premiado John Layman (criador de Chew, da Image Comics) neste primeiro número, lançado esta semana nos EUA, não fica perdendo muito tempo com explicações não. Ele já começa no ritmo, partindo do pressuposto que você sabe quem diabos é o Dredd, o que um Predador estaria fazendo na Terra futurista e distópica do Juiz e que faria todo sentido o Predador ter o crânio de um Alien como troféu dentro de sua nave. Foda-se. A embarcação cai na região do Atoleiro do Alabama, dominada pelo cientista maluco Doctor Reinstöt, um geneticista com pinta de Moureau que espalha seus bichos antropomórficos por ali. Homens-leão, rinoceronte, crocodilo. Com um Predador e um exemplar de DNA do Alien em mãos, ele começa a fazer suas experiências. Vai dar merda, claro.

Mas o Juiz Dredd vai se meter por aquelas bandas, mesmo depois de ouvir de um bando de arruaceiros que aquela região é proibida e sombria, que invasores são punidos com a morte. “Ir lá é contra a lei”, diz uma espécie de mutante, no meio do deserto, como que advertindo Dredd. “EU SOU A LEI”, diz ele. E já dá pra imaginar o vozeirão trovejante e a música do Anthrax tocando em alto e bom som. Afinal, ele está em busca do Arcebispo Emoji (isso mesmo que você está pensando, um sujeitinho com cara de smile e que se comunica com onomatopeias do tipo LOL), líder robótico de um culto de malucos que veneram o apocalipse.

Dredd_02E pronto. Esta é a sinopse da história. Tão maluca e simples quanto se faz necessário. É tudo que você precisa saber e toda a justificativa que tem que aceitar. Basicamente, você está pronto para encarar o que vier dali pra frente. Você nem sequer precisa refletir a respeito do fato de que Dredd já tinha encontrado separadamente com o Alien e com o Predador em séries anteriores. Isso não faz a menor diferença aqui. Isso não é HQ da Marvel e da DC. Não precisa ter lido 457 números anteriores pra sacar qual é.

O legal deste gibi é que esta é, essencialmente, uma história de Dredd. Ele é o protagonista. Talvez um dos grandes erros das tentativas anteriores foi colocar, de alguma forma, o Alien e o Predador sob os holofotes, tentando dar algum tipo de profundidade à sua história. São dois seres intergalácticos, grandes ameaças babonas dos RECÔNDITOS mais sombrios do universo. Um é um monstro cuja raça se espalha como baratas, o outro é um caçador por natureza em busca de seus troféus. Ótimos coadjuvantes. Tá resolvido. Mas a história principal precisa ser conduzida a partir de um personagem com mais nuances do que isso. Dredd tá aí a seu dispor para este papel.

A arte toda cheia de HACHURAS de Chris Mooneyham (co-criador de Five Ghosts, também da Image) é suja e com um jeitão BEM anos 90. Lembra um pouco até o traço do Andy Kubert. Seu Dredd mal barbeado e de queixo protuberante parece realmente brutal e perigoso. Um sujeito tão badass quanto qualquer raça alienígena que resolva cruzar o seu caminho, com direito até à participação especial da sua inseparável Lawgiver, o trabuco que lhe é tão inestimável quanto sua própria moto.

Gente, o conceito é simples. Predador. Juiz Dredd. Alien. Caralho, é isso. Não tinha como errar. E pelo que este primeiro número entrega, e pela vontade que ele deixa para que você leia os próximos, acabou não errando mesmo. Você só quer se divertir um pouco. E os autores, aparentemente, foram pelo mesmo caminho, se divertindo um bocado na hora de fazer esta bagaça acontecer. Matemática bem simples para um gibi que funciona direitinho.

“Nós não queremos problemas”, diz um sujeitinho assustado na porta de um boteco imundo no qual os suspeitos de Dredd e sua unidade se escondem. “Tarde demais. O problema já chegou”.

Fala sério. É por estas e por outras frases feitas que a gente lê Juiz Dredd.