A Warner encontrou um caminho. Não foi e nem vai ser fácil seguir em frente, mas pelo menos Esquadrão Suicida mostra que dá pra fazer
A Warner achou um caminho pra seguir com seus DC Filmes. Esquadrão Suicida é o mais próximo de algo “baseado nos personagens da DC Comics” nos cinemas desde Batman: O Cavaleiro das Trevas, um início tardio desse Universo nas telonas... Mas um início. É como um bebê aprendendo a andar: são pequenos e rápidos passos, o tempo todo pendendo pra um lado, tropeçando e caindo e sentando e chorando, mas levantando seguindo em frente do jeito que dá.
Legal de ver de fora? É. Mas é um processo. E tá só no começo.
Esquadrão Suicida começa logo depois dos eventos de Batman VS. Superman. Os meta-humanos são uma realidade (tão realidade que a vilã usa exatamente esse termo no clímax do filme, o que soa estranho pra caralho) e os EUA precisam se defender do “próximo Superman”, já que ele pode não compartilhar os mesmos valores com a humanidade que o “original” compartilhava. A solução você já deve ter cansado de assistir nos MUITOS trailers: uma força tarefa (oficialmente chamada de Força Tarefa X, deixando “Esquadrão Suicida” só pra uma única fala do Pistoleiro) que, se fizer tudo certo, ninguém vai ficar sabendo; se fizer algo errado, além de culpados, serão mortos.
A Warner encontrou um caminho pra seguir com os seus DC Filmes em Esquadrão Suicida
Mas quem é que forma essa equipe? Primeiro ponto positivo: o filme não se preocupa em INTRODUZIR os personagens, o que poderia resultar numa perda de tempo ou, mais importante, de mão. Isso faz com que Amanda Waller, interpretada sensacionalmente por Viola Davis, apresente os principais personagens — com destaques, óbvio, para o Pistoleiro e a Arlequina, outras duas interpretações que merecem destaque, de Will Smith e Margot Robbie.
É aí, também, que surge o primeiro problema. Começa com a trilha sonora — que tem músicas SENSACIONAIS (podiam não ter usado Spirit in the Sky, provocando comparações desnecessárias e não deixando isso pra quem vê), mas usadas de maneira óbvia e simplista (Amanda Waller apareceu? Sympathy for the Devil pra ela), reflexo de todo o filme, de estrutura extremamente simples, maniqueísta até, com a quantidade de soluções óbvias. É muito sim e muito não, pouco talvez.
Tem até um momento “MARTHA!”, em que todos os vilões percebem ter algo em comum e que, por isso, precisam se unir. :P
O segundo problema é o roteiro, que mais pra frente acaba cobrando uma introdução, uma origem dos personagens, especialmente Arlequina e Pistoleiro, que chega a ter umas três apresentações durante o filme. A redenção, a epifania, dependeria muito de um passado que mal conhecemos.
Mas esse é só um dos problemas do roteiro.
Esquadrão Suicida é um filme do Pistoleiro, essencialmente. Ele é o personagem que define a moral da história, a coisa toda de serem vilões, sim, mas que arranjam motivações pra salvar o mundo — no seu caso, mostrar pra sua filha que ele não é um cara tão ruim assim... além da possibilidade de ter uma bomba estourada dentro do pescoço, claro –, mas ele também é interpretado pelo Will Smith, que faz o que sabe fazer de melhor por aqui: ser o Will Smith, um dos caras mais carismáticos que Hollywood já conheceu. Sério, você simplesmente gosta dele. Você compra a ideia de tudo o que ele faz e, sinceramente, questiono porque é que não foram atrás de alguém assim pra ser o Superman.
Não duvido nada de que todo esse carisma conseguisse se sobressair a um Zack Snyder da vida. Seu encontro com o Batman deixa isso bem explícito, aliás.
Tão importante quanto ele pro filme é a Arlequina. Além de também dividir uma cena com o Batman, ela representa o que o Esquadrão Suicida aparentemente queria ser como filme: a única que parece estar curtindo cada uma daquelas maluquices. “Worst. Heroes. Ever”, e tal. Margot Robbie também é uma pessoa que precisa de pouco pra que todos gostem do que estão vendo (e esse não foi um trocadilho sobre seu short, de fato alongado pros trailers e um exemplo prático do quão sexualizada ela é nessa história) e embarquem com ela no seu temperamento impulsivo.
Sua motivação pra encarar essa maluquice inventada por Amanda Waller, porém, não tem nada a ver com nenhum tipo de redenção: ela simplesmente quer ficar com o seu amado. Sim, AMADO. Outro erro do filme.
A relação entre a Arlequina e o Coringa é, e sempre foi, abusiva. Sabe, Jessica Jones e Kilgrave? No filme isso fica claro, é inclusive LITERAL. Mas, ao mesmo tempo, a história o tempo todo vende o amor como motivação, e não o mindfuck (repito, LITERAL) que o Senhor J (deveria ser Senhor C, mas esse trabalho não é meu) fez com ela.
Coringa esse que não é o Coringa. Parece que o Jared Leto é mais Coringa na vida real, realmente psicótico, do que o FRIO E CALCULISTA mafioso que fica na balada atendendo outros criminosos. E, não, oferecer sexualmente a mulher pra outro cara, acredite, não é exatamente um sinal de loucura, embora eu pense que foi isso que o filme quis dizer. Fica a questão: qual é exatamente a necessidade dele aparecer no filme, além de “Coringa em Esquadrão Suicida”?
Só não é mais desnecessário que o Crocodilo, que você só percebe que tá em cena quando abre a boca e em nenhum momento pra dizer qualquer coisa que sirva à história. Nem mesmo quando “eu moro no esgoto, vocês são turistas” funciona, porque em poucos segundos os minions da vilã, a solução simplista pra manter tudo PG-13, conseguem segurá-lo. Talvez devessem tê-lo colocado no lugar do Amarra, a famosa bucha de canhão que serve apenas e tão somente pra provar que, sim, o Flag pode explodir a nano-bomba implantada no pescoço daqueles caras.
Só podiam ter dado uma daquelas introduções com trilha sonora óbvia pra ele, pra gente sentir alguma outra coisa além de “putza merda, coitado”.
Qual é exatamente a necessidade de ter o Coringa no filme, além de dizer que tem o Coringa no filme?
Capitão Bumerangue, do recordista mundial de filmes considerados “podres” no Rotten Tomatoes Jai Courtney, é o alívio cômico, aquele cara que se preocupa mais com relógios, dinheiro e diamantes, sem exatamente algo pelo que possa se redimir — ainda que seja atingido pelo momento Martha como todos os outros.
A Katana (Karen Fukuhara) é a repetição do clichê / estereótipo da “pequena e letal” oriental, sendo ela representação do sobrenatural na ~equipe, com a espada que aprisiona a alma das pessoas mortas por ela. Seu papel no filme é o de guarda-costas do Flag, o que não parece ser necessário em momento algum do filme mas... É uma personagem legal.
Já o Flag é realmente interessante. Não dava nada pra Joel Kinnaman, o Robocop do José Padilha, mas ele divide bons (porém piegas) momentos com o Pistoleiro e encaixa bem como esse cara que tá ali pra segurar a onda dos vilões, embora também ele não seja a famosa FLOR QUE SE CHEIRE, assim como Amanda Waller. Uma escrota, mas que personagem, que atuação de Viola Davis, que coisa sensacional.
Só não é o melhor do filme porque Jay Hernandez conseguiu transformar um personagem completamente whatever de início como o Diablo em um dos mais interessantes de todo o filme, um supervilão daqueles com diversas camadas de profundidade, nas quais a gente se perde entre o amor e ódio por ele.
Esse cara merece mais destaque.
Mas sabe o que grita “Isso é DC Comics!” o tempo todo? Os vilões. Digo, os da história, aquela ameaça grande suficiente a ponto de fazer a Força Tarefa X ser convocada. Cara Delevigne, como atriz, é uma ótima modelo. Mas a sua Magia é legal, gosto da ideia / solução sobrenatural como o “novo Superman”. Só que, é, o tal do Incubus é só mais um Apocalypse — ou, pelo menos, um Apocalypse muito mais bem feito digitalmente falando.
E o que é aquele cosplay de Maligna, do He-Man, requebrando o esqueleto enquanto constrói uma máquina que nem ela sabe exatamente como funciona (e nem a gente, em momento nenhum)?
Esquadrão Suicida é um filme extremamente problemático. Do marketing, que não vende o filme que a gente assiste (o que é uma boa coisa, na verdade) e força uma estética cansativa, à estrutura simples e simplista, passando por sexismo e racismo — o que, aliás, eu sugiro que você leia sobre em diversos artigos escritos por mulheres, latinos e negros e outras chamadas minorias — e uma falta de conexão entre os dois primeiros e o terceiro ato do filme.
Só que, dentro de um contexto no qual ainda encontramos Batman VS. Superman e a necessidade de criar o um universo super-heroico que possa fazer frente ao que já existe por aí, Esquadrão Suicida funciona, encaixa. Mais até do que isso, é divertido. E não, não tou falando isso por conta de piadas, já que elas parecem extremamente forçadas em sua maioria.
Esquadrão Suicida é o típico filme pipoca: grande, gorduroso, absolutamente nada nutritivo. Mas a gente come e gosta e a vida segue
Amanda Waller, Pistoleiro, Arlequina e Diablo ou, se preferir, Viola Davis, Will Smith, Margot Robbie e Jay Hernandez me fazem querer mais. Não sei se num eventual Esquadrão Suicida 2, que parece estar gasto desde já, mas cruzando mais com o Batman, Flash, Ciborgue e, por que não?, a própria Liga da Justiça. Pelo menos nesse ponto, o acerto foi enorme.
O fato é que, agora, a DC desceu pro play. O Universo DC nos cinemas, enfim, começou. Pequenos e rápidos passos foram dados, parece o tempo todo que vai cair, eventualmente tropeça, senta e chora, mas segue em frente do jeito que dá.
Parafraseio aqui uma das frases mais memoráveis dos filmes baseados em personagens da DC que resumem Esquadrão Suicida perfeitamente: não é o filme que a gente merece, mas é o que a gente precisava.