A cantora responde às nossas OITÔ PERGUNTAS e fala sobre preconceito, suas musas femininas, novidades sobre o futuro…
“A única diferença que observo é que ninguém pergunta isso para um homem”, diz com bom humor a cantora da banda brasileira Shadowside quando questionada a respeito de uma suposta diferença de tratamento entre vocalistas dos diferentes sexos. Dani Nolden, natural da cidade de Santos (SP), tem propriedade para falar atualmente do assunto.
Com total profissionalismo, o quarteto comandado por ela conquistou não apenas o exigente público brasileiro, mas também os palcos internacionais. Abrindo turnês para nomes consagrados como Iron Maiden, W.A.S.P., Helloween e Gamma Ray, estiveram em algumas das maiores casas de show do planeta. Mas sem se esquecer, obviamente, de casa, por mais problemas que tenhamos por aqui. “Muita gente diz que é porque estamos no Brasil, que as coisas aqui são mais caras, mais difíceis, que não temos disponível, mas não é verdade!”, diz ela, em um papo exclusivo com o JUDÃO. “Acredito que o underground merece respeito, qualidade, tanto quanto a música feita pra massa”.
[one-half]Dani Nolden ~ Sobre diferenças... eu não tenho como saber, nunca fui um homem (risos). Não há como comparar como seria se eu fosse um homem porque não basta avaliar como fãs, imprensa ou qualquer outra pessoa trata outros músicos homens... eu estou vendo de fora a situação de qualquer outro músico. A única diferença que observo é que ninguém pergunta isso para um homem (risos). Não há preconceito... acho que já faz tempo que não é mais algo tão surpreendente ou estranho assim ter uma mulher à frente de uma banda, bandas formadas só por mulheres... quem gosta de música, gosta de música bem feita independente de quem a esteja fazendo. Quem diz que não gosta de vocal feminino, diz isso por questão de gosto... e provavelmente vai mudar de opinião no momento em que ouvir algo que considere interessante. Já vi muita gente dizendo que não gostava de vocal feminino até ouvir Arch Enemy ou até mesmo Shadowside, por minha voz ser mais grave... as meninas não devem se preocupar com quem não gosta de mulher cantando, deve se importar em agradar quem gosta. Assim como provavelmente tem muita gente que só gosta de Nightwish e de Metal cantado com vocal lírico. Tem gosto pra tudo... mas preconceito com mulher na música em pleno século 21 me soa meio fantasioso. Pode até ser que exista em outras áreas, mas na música... ninguém vai deixar de ouvir uma boa banda porque tem uma mulher na sua formação. Relacionamento durante turnês é profissional, tanto com os membros da minha banda quanto com membros e equipes de outras bandas. Nunca tive qualquer tipo de problema por ser uma mulher.
[/one-half]Dani Nolden ~ Não tenho referências femininas! Eu cresci escutando os homens porque quando estava começando a escutar rock e heavy metal, eu ouvia o que meu primo e minhas amigas de escola me mostravam. A única coisa que eu conhecia de mulheres no rock era L7... que não é exatamente metal. Só quando formei a Shadowside que começaram a falar comigo sobre mulheres no metal e então ouvi falar sobre Leather Leone, Doro, mas então eu já tinha minha personalidade musical praticamente formada e não fui influenciada por elas. Porém é claro que elas tem meu respeito, porque tem carreira e histórias grandiosas. Não cheguei a conhecer pessoalmente nenhuma delas. Conheci apenas cantoras da mesma geração que eu, dividindo os palcos com elas e me sinto mais influenciada por elas, pois interagimos, trocamos experiências de palco e de vida. Elas estão continuando a história![/one-half][one-half last=”true”]
Dani Nolden ~ Bem, não há magia... nós sempre fomos bem realistas quanto a isso. Ser fã para nós é admirar a música que eles fazem, eles sempre foram bem “mortais” para nós. A magia que existe em dividir o palco com uma banda lendária é pela história que eles têm, por termos chegado em um ponto na carreira que nem nos atrevíamos a imaginar que poderíamos chegar quando éramos adolescentes, pelo que significa para nós sermos escolhidos por músicos que respeitamos para acompanhá-los em uma turnê. Mas fora isso, são seres humanos normais... Eles são exatamente o que nós esperávamos, iguais a todo mundo. Comem, dormem, ficam cansados, ficam quietos, conversam na internet com suas famílias... como nós. Os tratamos de igual pra igual e eles fazem o mesmo conosco... chegar em uma turnê de forma diferente seria um grande erro... eles não esperam, nem querem isso.
Dani Nolden ~ Não... eu acho que sempre existirão bandas que falam de castelos, dragões e cavaleiros, assim como bandas que querem experimentar, renovar e falar sobre temas pouco explorados. Nós passamos longe dessa temática apenas porque não é nossa influência, não é o que costumamos escutar ou ler, mas não vejo algo errado com quem quer fazer isso. Na minha opinião, desde que bem feito, vale tudo. E fazer bem feito inclui não se tornar repetitivo, mesmo se você decidir explorar algo que já foi feito com frequência... é um desafio! Nós também temos que tomar cuidado para não nos tornarmos repetitivos. Há alguns dias, eu estava escrevendo uma letra, mas parei no meio, porque percebi que era um tema muito similar a algo que eu já havia abordado na música “Life Denied”, que era a busca pela vida. “Life Denied” se trata de um ser virtual que desenvolveu consciência e queria viver... nessa outra letra, eu estava escrevendo sobre alguém preso em um plano espiritual que queria voltar pra cá. Então achei que não faria sentido continuar escrevendo e decidi buscar outro tema. Para o metal não morrer, temos que buscar novidades sempre, independente do que definimos como temática ou como direção musical.
Dani Nolden ~ Não há união alguma, mas acho que o papo não faz sentido porque é o que ele é apenas... papo. Fala-se muito sobre unir o heavy metal brasileiro, mas na hora de realmente algo ser feito, existe uma enorme guerra de egos que fica no caminho. É claro que existem as exceções e nos damos muito bem com algumas bandas, fizemos shows com o SupreMa que incluiu uma jam no final, temos amizade com algumas outras bandas e músicos... mas na hora de juntar os representantes do país pra fazer algo acontecer... bem, não vai acontecer. Aqui, o comum infelizmente é atacar outros companheiros de profissão para ficar bem com o organizador do show, com o público... o meio heavy metal ainda é muito amador no Brasil, especialmente com relação a shows... é muito difícil conseguir as condições ideais de shows, praticamente impossível conseguir as mesmas condições que temos na Europa. Muita gente diz que é porque estamos no Brasil, que as coisas aqui são mais caras, mais difíceis, que não temos disponível, mas não é verdade! O ingresso no Brasil, de qualquer show, é muito mais caro que os shows no exterior e existe o equipamento disponível para aluguel a preço acessível. Porém, quando estamos tentando negociar essas condições ideais, que são principalmente som de qualidade para o público pagante e luz suficiente para que as pessoas possam enxergar o que está acontecendo no palco, outras bandas nos chamam de frescos. Estamos negociando condições que vão beneficiar a eles também... e somos frescos. Essas condições vão dar um show muito melhor para o público... e somos frescos. Em um show que fizemos há pouco tempo, que não vou dizer onde foi pra não queimar o organizador que já disse que no próximo evento vai fazer algo melhor, estávamos praticamente no escuro e o som estava tão ruim que o público nem ao menos entendia o nome da música que eu estava anunciando. Nem das outras bandas. Ou seja, o público não gostou da qualidade do som no evento, nós concordamos com eles e as bandas acham que somos frescos (risos). A desunião aqui está fincada na questão do que é “underground”. A galera acha que pra ser “true”, pra ser “underground”, pra ser metal, precisa fazer de qualquer jeito e eu não vejo as coisas assim. Acredito que o “underground” merece respeito, qualidade, tanto quanto a música feita pra massa.
Dani Nolden ~ Ah, sem dúvida! Os primeiros “demônios” que eu analiso são os meus próprios... depois, os de pessoas próximas a mim ou de situações que me fizeram refletir. Quando escrevo sobre uma situação que não é a minha, procuro não julgar, nem mesmo nas minhas letras... gosto de escrever o relato, as observações e deixar que cada um conte sua própria história. Em “In the Name of Love”, por exemplo, eu nunca vivi a situação abordada na letra, que é sobre relacionamentos abusivos, onde existe violência física, mas a pessoa que está sofrendo agressão sempre cria desculpas para não sair do relacionamento. Seja por medo ou qualquer outro motivo... eu não vivi a situação. Então cada um termina a história com seus próprios demônios internos... todos nós os temos. Temos medos ou algum tipo de perturbação... olhando de perto, ninguém é normal.
Dani Nolden ~ Acredito que sim... eu gostaria de fazer ao menos uma música em português. Esse era o plano pro “Inner Monster Out”, na verdade, mas eu tinha todo o restante do álbum pra escrever, então deixei a música em português para o final e acabei sem tempo de fazer algo interessante. Eu não estou acostumada a escrever letras em português, não é só sentar e escrever. Com certeza terei que passar um bom tempo desenvolvendo algo legal, então preferi adiar esse desafio. Porém, para manter os planos de ao menos uma música na nossa língua, escolhemos “Inútil” porque a letra combina tão bem com o nosso Brasil. Todos nós gostamos muito de Ultraje a Rigor, achamos que a banda é irreverente, mas que fala nas letras o que todo mundo quer dizer.
Dani Nolden ~ Sinceramente, não sabemos ainda o que pretendemos explorar, mas isso acontece sempre. Nós nunca sabemos muito bem que direção vamos tomar e não paramos pra observar isso até que o álbum fique pronto, na verdade. No “Inner Monster Out”, só percebemos que as músicas eram muito mais pesadas que tudo que já fizemos depois que o álbum estava gravado... e isso é algo que com certeza vamos manter. Vamos continuar na linha de fazer metal com riffs nervosos e melodias marcantes, mas é claro que sempre colocamos como um desafio a nós mesmos fazer um trabalho melhor que o anterior, com algo que choque, no bom sentido. Temos que apresentar algo a mais que no álbum anterior... essa é sempre nossa meta. Acredito que ainda este ano começaremos a gravá-lo então o lançamento deve ser em 2015... porém mostraremos algo ao público antes do lançamento oficial. Estejam prontos! (risos)