WildStorm vai voltar sob o comando criativo de Warren Ellis | JUDAO.com.br

Novo universo começará em fevereiro, virando mais uma página de uma história que começou em 1992 com a fundação da Image

Os anos 1990 foram CURIOSOS para os quadrinhos nos EUA. Foram vividos o auge e o fundo do poço do mercado direto, grandes sagas e mortes, HQs boas e HQs péssimas, a Marvel pedindo concordata e tudo mais. No meio disso tudo, surgiu o fator Image, a então nova editora, com artistas se aventurando no roteiro e produzindo gibis que conseguiam mesclar todos os elementos da época, dos bons aos ruins.

Não que aqueles tempos vão voltar mas, nesse ESQUENTA pra New York Comic Con, a DC anunciou o retorno da WildStorm, justamente um dos PILARES da Image lá no começo da editora. Agora, o ex-estúdio vai retornar como um selo com a curadoria de Warren Ellis, meio que seguindo o que a mesma editora fez com Gerard Way e o selo Young Animal.

O primeiro título da nova WildStorm será, OLHA SÓ, The Wild Storm, escrito por Ellis e desenhado por Jon Davis-Hunt (de Clean Rooms, da Vertigo). O gibi, que será lançado em fevereiro, vai reiniciar todo o universo do antigo estúdio, introduzindo novas versões de personagens como Grifter e Voodoo.

“Depois de muita reflexão, eu não poderia negar o convite de renovar a casa que Jim Lee construiu e voltar com essa combinação única de paranoia cósmica e conspiração paramilitar de uma loucura espacial pós-apocalíptica para quem está com 20 e poucos anos”, disse o próprio Ellis para o ComicBook.com, que trouxe a história em primeira mão.

Essa primeira HQ servirá de trampolim para o lançamento de diversas outras, incluindo Michael Cray, Zealot e WildC.A.T.S. As outras equipes criativas não foram anunciadas, mas a DC promete mais detalhes no sábado, dia 8, em plena NYCC.

O novo Grifter

O novo Grifter

Isso tudo representa uma nova página da história iniciada por Jim Lee e Brandon Choi em 1992. Lee vinha de um grande sucesso na Marvel, inicialmente como artista dos X-Men e, depois, como roteirista. Porém, ele não se sentia confortável na Casa das Ideias, tanto por limitações criativas quanto por não ser dono dos personagens que criava, um sentimento que também era compartilhado por Todd McFarlane, Erik Larsen, Jim Valentino, Marc Silvestri e Rob Liefeld.

Cada um deles saiu da Marvel e criou um estúdio próprio – respectivamente, Todd McFarlane Productions, Highbrown Entertainment, Shadowline, Top Cow Productions e Extreme Studios, além da WildStorm de Lee – para, em conjunto, fundar a Image. A nova editora surgia com uma organização inovadora, na qual cada estúdio tinha a liberdade para fazer o que quiser, dividindo apenas o banner da Image e a parte de impressão e distribuição. A única propriedade da editora seria o próprio logo, com os personagens pertencendo aos estúdios.

O supergrupo WildC.A.T.S. foi o primeiro a receber uma revista mensal na WildStorm, iniciando a Image junto com os gibis Youngblood, The Savage Dragon e Spawn. Com a popularidade dos quadrinistas em alta e a oportunidade de ler novas ideias e histórias do zero, as vendas foram bombásticas. Além disso, autores independentes foram encorajados a trazerem seus títulos para a Image, incluindo HQs como The Maxx, Astro City e Bone.

Entre 1996 e 1997, a Casa das Ideias deu o braço a torcer aos seus antigos criadores. WS e a Extreme foram contratados pela editora, que terceirizou para eles a produção dos gibis do Quarteto Fantástico, Vingadores, Homem de Ferro e Capitão América. Era a fase Heróis Renascem.

Só que a parceria não deu totalmente certo. Os seis estúdios, com o tempo, passaram a ser criticados por prenderem os artistas em um sistema quase que idêntico do qual seus criadores reclamavam pouco antes. Além disso, a falta de um universo comum e os constantes atrasos na distribuição irritaram os leitores. Uma tentativa de centralizar as decisões também não funcionou – muito porque colocaram ninguém menos que o Rob Liefeld como CEO, que passou a ser acusado de liderar em causa própria.

Assim, a Top Cow saiu da união em 1996, o que deixou os outros sócios irritados. No final do ano, após uma treta homérica, a Extreme e Liefeld acabaram deixando a Image, que contou com o retorno de Silvestri e seu estúdio. A treta foi tão grande que a Extreme foi chutada do projeto de Heróis Renascem a partir da edição sete, com a WS assumindo tudo.

A WildStorm nos anos 1990

A WildStorm nos anos 1990

Já em 1997, Jim Lee começou uma série de mudanças dentro de seu próprio estúdio. Entre elas, chamou gente como Alan Moore, Warren Ellis, Joe Casey e Adam Warren para trabalhar nos títulos da WildStorm. Até tentaram garantir, com a LucasFilm, os direitos das HQs de Star Wars, mas não deu certo.

Ainda assim, as vendas não estavam boas – lembre-se, a segunda metade dos anos 90 é um período negro dos quadrinhos. Jim Lee então acabou vendendo o estúdio para a DC Comics, que manteve a liberdade editorial da WildStorm (inclusive com a empresa continuando com a sede em La Jolla, na California, enquanto a DC ainda mantinha o escritório em Nova York).

A partir daí, a WS passou a focar em um público mais velho, com títulos como Authority, Stormwatch e uma Wildcats 3.0.. Em 2004 eles chegaram a publicar um crossover chamado Coup d’Etat – Golpe de Estado, em bom português – no qual o Authority assume o controle dos EUA. Ellis lançaria Frequência Global na mesma época.

Só que, eventualmente, a festa acabou. Em 2010, após o aumento de controle da Warner na DC, criando a DC Entertainment, a WildStorm foi fechada. Jim Lee foi trazido para mais próximo da DC, sendo alçado ao cargo de co-publisher e supervisionando o reboot de 2011, chamado de Os Novos 52. No mesmo evento, os personagens da WS passaram a fazer parte do novo Universo DC – apesar de serem pouco utilizados, tirando exceções como o Grifter e o Midnighter.

E assim chegamos ao momento de hoje, com a WildStorm voltando pelas mãos de um dos caras mais criativos que passaram pelo antigo estúdio. “Existem poucos visionários preciosos em nosso mercado e poucos são como Warren, que pode elevar a mitologia com glamour estilístico e espetáculo idiossincrático. O trabalho dele na WildStorm permanece como o dom que melhor define o Universo WildStorm”, disse Jim Lee, dando a benção dele para o selo.

Realmente, se tem alguém, além do próprio Lee, que poderia cuidar desse relançamento é o Warren Ellis. Que, então, voltemos aos bons tempos da WildStorm. ;)