De gênios a medíocres em pouco tempo
Quem acompanha o noticiário de cinema ocasionalmente é impactado com nomes de novos diretores sendo alçados à condição de gênios, promessas, revelações e salvadores da lavoura. Infelizmente, algumas vezes as previsões dos especialistas não se concretizam. E um cara que prometia se tornar o novo Spielberg estaciona na posição de mais um Michael Bay qualquer.
A lista abaixo não ambiciona ser definitiva, mas aí vão 10 diretores que sofreram com o excesso de expectativa e viram suas carreiras descerem as montanhas de Hollywood de forma vertiginosa.
Já se vão 12 anos desde que Napoleão Dinamite se tornou um ícone pop/cult/nerd/hipster. A comédia estrelada pelo sumidão Jon Heder adicionou uma camada de inadequação e constrangimento à surrada fórmula de filmes passados em escolas. E o resultado é espetacular.
Mesmo que não seja uma unanimidade entre os críticos, é uma das minhas comédias favorita. Mérito, especialmente, de uma galeria inesquecível de personagens e um roteiro espertíssimo escrito por Hess e sua esposa Jerusha.
Infelizmente, Jared Hess nunca mais conseguiu repetir a “tempestade perfeita” que foi seu primeiro filme. Nacho Libre tentou repetir a estranheza causada por Napoleão, mas empacou em um Jack Black sem graça. Apesar de seguir na ativa, Hess perdeu a atenção da indústria e do público. Uma pena.
Ganhar um Oscar por um dos maiores filmes de todos os tempos é uma honra e tanto. Mas também um peso considerável pra você carregar ao longo da sua carreira. Foi isso que aconteceu com Roger Avary.
Ele co-escreveu Pulp Fiction, ao lado do amigo Quentin Tarantino. Isso foi o suficiente para alçar seu nome para as alturas. Até porque, na mesma época, ele dirigiu Parceiros do Crime, filme que compôs uma cena de renovação independente que se destacava nos cinemas do início dos anos 90.
Mais dedicado a escrever que a dirigir, Avary nunca mais conseguiu repetir a excelência de seus primeiros trabalhos. Entre seus créditos estão a animação meia boca A Lenda de Beowulf, dirigido por Robert Zemeckis, e a adaptação para o cinema do jogo Silent Hill.
Em 2009, chegou a ser preso após se envolver em um acidente de carro que causou a morte de uma pessoa. Ele foi condenado por estar dirigindo “intoxicado”.
De herói indie a uma piada de mau gosto: Kevin Smith perdeu o rumo como cineasta já há mais de 15 anos. Nos anos 90, caiu nas graças da crítica e criou uma legião de fãs com três comédias que retratavam muito bem sua geração: O Balconista, Barrados no Shopping (constrangedora tradução brasileira para Mallrats) e Procurando Amy.
Em 1999, já com mais moral, deu um passo mais ambicioso com o polêmico e divertido Dogma. Infelizmente, a partir daí, dificilmente deu uma dentro.
Por mais que Menina dos Olhos e Pagando Bem, Que Mal Tem (constrangedora tradução brasileira para Zack and Miri Make a Porno) até tenham lá seus momentos, Kevin Smith perdeu a conexão com o público. E, nesse processo, dirigiu porcarias do tamanho de O Império (do Besteirol) Contra-Ataca (constrangedora tradução brasileira para Jay and Silent Bob Strike Back) e Tusk.
O ano era 2004. Um ano antes de Sin City entrar para a história graças ao seu revolucionário uso de efeitos especiais, Capitão Sky e o Mundo de Amanhã saiu na frente de Robert Rodriguez. E o mérito é de Kerry Conran.
Conran era um outsider da indústria do cinema e tinha uma ideia pra um longa filmado inteiramente em tela azul. Com exceção dos atores, tudo seria inserido digitalmente. Sua ideia curiosamente ganhou força em Hollywood, especialmente após a entrada do produtor Jon Avnet. E o que era quase um projeto experimental virou uma produção de US$ 70 milhões, com Gwyneth Paltrow, Jude Law e Angelina Jolie no elenco.
O filme retrô futurista, apesar de divertido, acabou fracassando nas bilheterias. Conran, apontado na época como um visionário, sumiu de cena tão abruptamente quanto apareceu.
Poderoso e inesquecível, A Outra História Americana fez bastante barulho quando foi lançado, em 1998. Era a estréia cinematográfica de Tony Kaye, um diretor consagrado de comerciais e videoclipes.
O filme mostrava um ex neonazista, condenado pela a morte de um homem, saindo da prisão e tentando evitar que o irmão caçula seguisse o mesmo caminho. Kaye entrou em intensos conflitos com o estúdio. Ele não teve a palavra final sobre o corte definitivo do filme e não fez questão de esconder isso de ninguém. Seu estilo excêntrico também não facilitou sua carreira em Hollywood.
Dirigiu poucos filmes desde então e ensaia um retorno há algum tempo. Por enquanto, nada.
Voltando agora aos cinemas, com um reboot/continuação, A Bruxa de Blair jogou os nomes de Daniel Myrick e Eduardo Sanchez para a rol de grandes promessas em 1999.
O filme não só era um horror muitíssimo bem executado, como revolucionou o gênero esteticamente, com sua estrutura de “found footage”. O projeto também foi revolucionário em sua campanha de marketing, que usou a força da então pouco explorada internet para dar um caráter ainda mais realista para sua história. Infelizmente, tudo o que os diretores não fizeram desde então foi revolucionar qualquer coisa. Ambos só se envolveram em projetos mequetrefes e ficaram mesmo só na promessa.
Donnie Darko é o filme cult por excelência. Meio bizarro, com uma trama intrincada e misteriosa, personagens icônicos, um fracasso de bilheterias e prato cheio para as mais variadas interpretações. Um filmaço que, em 2001, colocou no mapa o diretor Richard Kelly.
Apesar de passar quase em branco nos cinemas, foi resgatado em DVD e parecia ser o início de uma carreira inventiva e criativa para o diretor.
Infelizmente, seu filme seguinte, Southland Tales, foi uma catástrofe. Não só em termos de faturamento como também em termos artísticos. Além de confuso, ainda sofreu ainda com o excesso de expectativa criado sobre Kelly.
Southland Tales praticamente decretou o fim da aventura do diretor nos cinemas, que desde então dirigiu somente o mediano A Caixa, em 2009.
É triste admitir, mas Fernando Meirelles nunca conseguiu cumprir a promessa em que ele se tornou com Cidade de Deus. Claro que é difícil viver à sombra de um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, mas o diretor merecia melhor sorte.
O Jardineiro Fiel é um grande filme e Ensaio Sobre A Cegueira é recheado de boas ideias. Porém, o fraquíssimo 360 e sua participação no sem graça Rio, Eu Te Amo não estão à altura do potencial que a vibrante descoberta de Meirelles por Hollywood demonstrava.
Atualmente mais dedicado à TV, o brasileiro teve como grande destaque nos últimos anos sua colaboração na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. É pouco.
Após uma longa carreira como diretor de fotografia, o holandês Jan de Bont pulou para a cadeira de diretor em 1994 com Velocidade Máxima. Até hoje considerado um dos melhores filmes de ação de todos os tempos, o longa parecia indicar um novo midas do cinema de entretenimento.
Seu filme seguinte, Twister, continuou segurando a moral de Bont lá no alto. Apesar de não tão competente quando Velocidade Máxima, Twister fez dinheiro, trazia efeitos especiais até então inéditos e divertia. Porém, a partir dali o diretor foi ladeira abaixo.
Velocidade Máxima 2 é uma das mais constrangedoras sequências da história e o equivocado terror A Casa Amaldiçoada não mete medo nem na mais inocente das criaturas.
Ele ainda ensaiou um retorno com o segundo filme de Lara Croft, bastante genérico e esquecível. Nunca mais dirigiu nada desde então.
Fiquei pensando aqui se ainda é cedo pra chamar Ruben Fleischer de promessa não cumprida, mas acredito que não. Já se vão sete anos desde que ele ajudou a reacender o interesse das pessoas por zumbis em Zumbilândia.
A comédia de terror conseguiu tirar originalidade de um gênero já bem desgastado, com inventividade, um elenco bem escolhido e roteiro esperto e divertido. Porém, pelo menos até agora, parece que Fleischer gastou toda a criatividade ali.
Seu filme seguinte, 30 Minutos ou Menos, passou praticamente em branco. O que é justo, sendo que o filme é uma comédia bem genérica e soa como uma cópia do tipo de filme produzido por Judd Apatow.
Depois, ele entregou o filme de máfia Caça aos Gângsteres. Infelizmente, o longa nunca conseguiu ser o que os trailers prometiam. Sem personalidade e com uma estética exageradamente artificial, o filme conseguiu desperdiçar um elenco que contava com Josh Brolin, Sean Penn e Ryan Gosling.
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