Novo disco traz Metallica sendo o melhor Metallica que eles podem ser hoje | JUDAO.com.br

E acredite, ao ouvir Hardwired… to Self-Destruct, você vai perceber que isso é um BAITA elogio

No programa piloto do nosso Asterisco, que ainda se chamava PoOOoOooODCAST! e a gente usou só pra se soltar, pra desenferrujar, pra ver qualé, um dos assuntos foi o Metallica. Tinha rolado show dos caras na última edição do Rock in Rio e, como eles lançaram seu último disco de inéditas em 2008, a sensação que ficava era a de que as apresentações deles, que se tornaram figurinhas carimbadas por aqui nos últimos anos, se tornaram bem repetitivas.

Pode ser que o repertório dos shows, de fato, não tenha variado tanto, vá lá. Mas uma coisa que não dava pra dizer é que, quando eles subiam no palco, se mostravam uma banda acomodada. Longe disso. O cinquentão James Hetfield e sua trupe ainda estão em EXCELENTE forma e entregam um show fantástico, pesado, poderoso, feroz.

E aí que estamos novamente falando do Metallica, que OITÔ anos depois tá lançando um disco novo, Hardwired... to Self-Destruct, apenas o décimo álbum de inéditas de sua longa carreira, aquele que chega depois do maior intervalo criativo entre um disco e outro que o quarteto já teve, saindo pela Blackened Recordings, o selo independente que a própria banda fundou para cuidar pessoalmente de seu legado.

Esta última parte, na verdade, diz muito sobre o disco. Porque, em resumo, Hardwired... é claramente um Metallica que se sente mais solto, mais livre, que conversa bem com a própria história, que dialoga com os muitos Metallicas que eles já foram sem medo de ser feliz, que assume e resume as suas influências. Não é exatamente um caldeirão de grandes novidades, não é um Metallica inventivo, revolucionário, experimentador. Não vai mudar o mundo do metal, não vai virar a discografia deles do avesso (embora, se você é dos que odeiam a dobradinha Load & Reload, talvez fique feliz ao saber que este é o melhor disco deles desde o Black Album).

De qualquer maneira, é preciso dizer que estamos diante do trabalho de uma banda em excelente forma, longe de ser acomodada, resultando em uma cacetada pesada, poderosa e feroz. ;)

Este aqui é claramente o Metallica sendo o melhor Metallica que o Metallica pode ser nos dias de hoje, faca na caveira e sangue nozóio, e isso é uma excelente notícia, um elogio tremendo e a garantia de que estamos diante de um disco muito bom. Hardwired... é quase como uma continuação criativa natural de Death Magnetic, de 2008. É a sua evolução, uma coleção de canções bem mais fortes, coesas, longas, com uma metralhadora de ótimos riffs e uma bateria que, enfim, se liberta da prisão que foi aquele miserável St.Anger (2003). Aliás, há até quem duvide que Lars Ulrich, um baterista esforçado mas limitado, vá ter exatamente facilidade em reproduzir estas canções ao vivo. A conferir.

É um disco melhor do que Death Magnetic? Muito. Principalmente porque consegue buscar o peso do seu thrash metal passado e equilibrar muito bem com a aspiração mais “pop” de um Black Album, por exemplo. É agressivo mas, ao mesmo tempo, é acessível, PALATÁVEL.

Afinal, o Metallica é uma banda mainstream pra caralho.

Aqui tem um momento monstruoso como na ótima faixa-título ou na ainda melhor e mais veloz Spit Out the Bone? Claro que tem. E são ambos incríveis. Mas também tem espaço, por exemplo, para a igualmente incrível Now That We’re Dead, talvez uma das melhores passagens do disco, um refrão que dá vontade de gritar junto. A faixa tem um quê de sobra de estúdio do álbum preto, o seu grande hit comercial, e que ainda é, de alguma forma, uma homenagem aos seus heróis da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal).

Aliás, lembra quando falei que Hardwired... “assume e resume as suas influências”? Pois então, não é por acaso que aquela levada de guitarra do refrão de Atlas, Rise! é tão marcantemente similar à Hallowed Be Thy Name, do Iron Maiden. E tampouco é coincidência que Murder One, que homenageia o falecido Lemmy Kilmister, seja uma cavalgada rítmica que faz lembrar em alguns momentos o próprio Motörhead. O que o Metallica está dizendo aqui é: hey, foi daqui que viemos e não temos vergonha disso.

Talvez aqueles fãs que passam a vida amaldiçoando o fato de que o Metallica não é mais aquela máquina de intensidade como foi no debut Kill ‘Em All (1983) ou então na obra-prima Master of Puppets (1986) voltem a ficar decepcionados. Sinto ser eu o portador das más notícias (mentira, não sinto nada), mas a real é que este não é um disco de thrash metal, apesar de ter thrash na mistura. Quer ouvir thrash metal MESMO, sugiro escutar The Evil Within, do Death Angel, fácil um dos melhores discos do ano, uma verdadeira aula pra quem curte o gênero. Aqui, a pegada é outra. E sem julgamento algum de valor.

Hardwired... nem é bem heavy metal, eu diria. É algo como Metallica Metal. É a banda fazendo o que ela sabe fazer melhor, o seu tipo de metal único, que é a sua cara. Isso permite, por exemplo, a existência de uma canção mais desacelerada e cheia de groove como Dream No More que (aqui é a deixa para vocês arrancarem seus cabelos) caberia talvez num Load ou Reload da vida. Que pecado, não é mesmo? <3

E ainda bem que os caras se soltaram o bastante deste tipo de cobrança para conseguir construir uma música inteligente e bonita como Halo on Fire, com OITÔ minutos de diversidade sonora, misturando um refrão irresistível, passagens mais bate-cabeça, outras mais introspectivas, um James que grita aqui e depois entrega a letra de maneira mais suave acolá... São muitas canções em uma só e que estão tão bem conectadas e integradas que não cansam.

Este é o melhor disco do Metallica desde o Black Album

Halo on Fire é, aliás, talvez a faixa que melhor resume Hardwired..., um disco que funciona como uma espécie de resumo de quem é o Metallica e de como ele quer soar a partir de agora, goste você ou não. Honestamente, eles não tão nem ligando e nem deveriam. Afinal, estão mais preocupados gravando clipes divertidíssimos como o de ManUNkind, que nem é uma canção tão incrível mas que cresce um bocado nesta espécie de sátira/homenagem ao típico black metal norueguês.

Sei lá se eles ainda vão ter paciência de acrescentar mais um álbum à sua discografia em algum momento dos próximos anos. Se demorarem mais OITÔ anos, bem, James já vai ser um sessentão, pensa só, vai que eles não têm mais saco. Mas isso não me importa. Porque se o Metallica que continuar subindo aos palcos for o mesmo que a gente ouve aqui em Hardwired..., pelo menos teremos a garantia de que os quatro vão continuar entregando excelentes apresentações... Repetitivas ou não. ;)

E que venha o Lolla 2017! \m/