Crossover entre Flash e Supergirl funciona, mas acaba tropeçando nos problemas da série do Corredor Escarlate – o que é uma pena
SPOILER! “Musicais tem o poder de deixar tudo melhor”, é o que diz Nora Allen para o pequeno Barry no começo do episódio Duet, de The Flash, exibido na última terça (21). Durante a conversa, mãe e filho assistem a Dançando na Chuva, o clássico de Gene Kelly e Debbie Reynolds, que é o grande exemplo de um filme musical clássico da Era de Ouro de Hollywood e de como tudo pode terminar em um final feliz.
Pena que Nora estava errada.
Não que passados os cerca de 40 minutos desse crossover entre a série do Corredor Escarlate e Supergirl, tirando os comerciais, a experiência seja ruim. Na verdade, foi uma grande sacada dos produtores Greg Berlanti e Andrew Kreisberg, que são responsáveis pelas duas séries. Meio que sem querer, eles reuniram um elenco recheado de atores que cantam muito bem – como os protagonistas Grant Gustin e Melissa Benoist, que passaram por Glee, Jesse L. Martin, que tem um respeitado trabalho na Broadway, e Carlos Valdes, que já lançou algumas músicas no circuito comercial. Além disso, dentro do chamado Arrowverse, puderam convocar as participações de John Barrowman, que tem uma longa discografia como cantor, e Victor Garber, que também é cantor e com uma longeva carreira na Broadway, inclusive tendo recebido quatro indicações ao Tony, o maior prêmio dos palcos dos EUA.
É tipo um DREAM TEAM possível da música numa série de super-herói na TV. Ou algo assim.
O trabalho mesmo foi construir um roteiro para reunir toda essa galera pra cantar. Pra isso, Berlanti e Kreisberg escreveram eles próprios a história, além de chamar Blake Neely – responsável pela trilha das duas séries – para compor as canções. E foi aqui que a coisa pegou.
Não por culpa, necessariamente, de Duet. O episódio teve que se encaixar no resto do contexto da temporada de The Flash, que vem sendo extremamente arrastada e focada num relacionamento sem tempero entre Barry Allen e Iris West. Não é o vilão que movimenta os acontecimentos (aliás, Savitar apareceu em pouquíssimos episódios até aqui), mas o relacionamento do herói e as burradas que ele sempre faz. Dessa forma, a história do Corredor Escarlate tem se resumido a um grande romance com algumas corridas por aí e eventuais socos.
E olha que o episódio até que começou bem. Depois de ser “colocada pra dormir” pelo vilão Music Meister (criado, originalmente, na série animada Batman: Os Bravos e os Destemidos), Mon-El e o Caçador de Marte vão para a Terra 1 pedir a ajuda do Flash e do pessoal dos Laboratórios Star. Só que o ~malvadão aparece por lá, também “apagando” o Homem Mais Rápido do Mundo.
Quando Barry acorda, ele está em outro lugar, saído de um filme de gangster dos anos 1950. Lá ele vê a Kara no palco, cantando de um jeito INCRÍVEL a música Moon River, imortalizada pela Audrey Hepburn no filme Bonequinha de Luxo. A partir daí, o enredo se desenrola, com o vilão explicando que os heróis estão num sonho compartilhado – criado a partir do amor dos dois por musicais e que eles precisam “encerrar” a história desse musical pra acordar. Coisa linda, um plano de vilão bem da Era de Prata dos Quadrinhos, o que é um baita elogio.
As canções originais vão se seguindo, todas muito bem executadas e bem cantadas. É um prazer poder ouvir Martin, Barrowman e Garber cantando, enquanto Melissa Benoist e Grant Gustin mandam muito bem. Aliás, na “apresentação final”, Gustin se sai REALMENTE bem. Deviam colocar logo tudo isso num álbum pra gente ficar ouvindo nos streamings da vida. :P
O problema é que o tal musical (ou sonho, enfim) evoluiu de forma extremamente boba, mesmo que pensando na inspiração desse tipo de filme dos anos 50. Tudo volta para o relacionamento entre Iris e Barry, com Kara e Mon-El sendo envolvidos. Foi só rolar um beijo dos dois casais e, boom, acabou.
Sim, o plano do Music Meister era simplesmente juntar os casalzinhos. Meh.
Aliás, também precisamos conversar sobre o Cisco. O personagem de Victor Valdes está se transformando em algo extremamente OVERPOWER. Com os poderes de vibração dele, é possível ver passado, futuro, presente, ir para outras dimensões, entrar em sonhos e a porra toda. Resumindo: ele resolve tudo que a preguiça dos roteiristas impede de solucionar. Não dá, né, gente.
Quando tudo acaba, o gostinho que fica é que jogaram uma grande ideia fora numa temporada de The Flash que, na melhor das hipóteses, é apenas mediana. Nesse caso, não foi o musical que melhorou tudo, mas todo o resto que deu uma bela broxada no musical.
Não foi dessa fez, Nora. :(