Action Comics #978 e The Flash #21, publicados esta semana, reforçam a “volta ao passado” da editora, num ciclo que parece não ter fim
SPOILER! Há algo curioso sobre as famosas crises, reboots, relançamentos e (agora) renascimentos da DC: eles são cíclicos. Obedecem a uma certa dialética, movida pelos desejos de retorno ao clássico e de renovação.
Um sentimento que me fez sentir um déjà vu nesta semana, quando a editora publicou Action Comics #978 e The Flash #21, ambos os gibis parte de um grande projeto de estabelecer a nova cronologia do Universo DC após o Rebirth.
O Superman, claro, é o grande exemplo desse “puxa-e-empurra”. Dos anos 1980 pra cá o personagem emendou seis origens, que alternaram o uso de mais elementos novos e o resgate de inspirações clássicas. Apesar de “clássico” ser um conceito que muda bastante de uma época para a outra: no final dos anos 1990 isso significava o uso dos elementos da Era de Prata, enquanto a versão mais recente, que acabou de acontecer no Rebirth, conta justamente com o uso dos conceitos do Azulão dos anos 1980 e 1990, aquele criado por John Byrne, que morreu e ressuscitou.
Em Action Comics #977, após a “consolidação” de linhas temporais que já comentamos aqui no JUDÃO, o Homem de Aço foi até a Fortaleza da Solidão rever a própria história de vida, identificando se estava tudo lá, como ele lembra, ou algo assim. Uma desculpinha esfarrapada para contar a atual cronologia para novos e velhos leitores.
A parte final dessa aventura no passado (mas não do arco, que vai se desenvolver a partir de agora com uma reunião de grandes vilões do herói) foi na edição #978, publicada nesta quarta (26), e o resultado final é uma bagunça. No pior dos sentidos.
O roteirista Dan Jurgens fez uma mistureba de elementos visuais, que não funcionam quando colocados juntos. A Fortaleza da Solidão é parecida com a dos filmes mais antigos e da origem de 2009, enquanto os kryptonianos vestem roupas iguais aquelas usadas nos gibis de épocas tão diferentes quanto os anos 1950, 1980 e 2000. Já a história em si lembra basicamente a versão do Byrne, que teve depois o envolvimento do próprio Jurgens, restabelecendo eventos como A Morte do Superman, o casamento do personagem com a Lois Lane e até o Superman Elétrico seguindo mais ou menos o que era publicado nas revistas da editora há cerca de 20 anos.
Piora, claro, na parte que Jurgens precisa criar quase do zero – sobre como Superman e Lois Lane tiveram um filho nessa realidade. Se antes o Azulão usava o visual clássico do uniforme, aqui ele ressurge com a roupa dos Novos 52, toda modernosa. Não encaixa com o resto.
Aliás, no geral, nada disso encaixa com nada. O Superman ganhou uma cronologia que deve ter aí uns 20 anos, enquanto o reboot de 2011 estabeleceu que esse Universo DC tem uns cinco, seis anos, algo que não foi totalmente apagado pelas mudanças recentes. Enfim, todo mundo ignoraria essa parte se essa nova-velha origem do Superman fosse interessante, mas o que temos é uma colagem de eventos sem charme algum, jogando só por jogar um monte de coisa nas costas dos leitores.
Coisas que eles, provavelmente, não leram.
Mas este não é o único caminho pelo qual a DC Comics tem remexido em seu passado. Há também o arco The Button, que começou em Batman #21 e teve uma segunda parte publicada em The Flash #21, que também saiu nesta quarta (26). Nessa história, o Cavaleiro das Trevas e o Corredor Escarlate finalmente começam a investigar o botão do Comediante que apareceu no especial DC Universe Rebirth, publicado no ano passado.
Quer dizer, eles nem começam a investigar por conta própria – precisa aparecer o Flash-Reverso, que finalmente relembra da versão dele pré-reboot e do Flashpoint, na Batcaverna, para roubar o tal botão. Em posse no ARTEFATO, ele vibra pra algum lugar e, instantes depois, retorna falando que viu um Deus. E morre.
Obviamente o Professor Zoom está se referindo ao Dr. Manhattan que, de alguma forma, é o responsável por manipular a cronologia da DC, dando origem a essas mudanças bizarras (pena que isso não explique os roteiros ruins de Action Comics, né?). Apesar dessa mistura dos personagens tradicionais da DC e Watchmen, o grande trunfo do arco, assinado pelos roteiristas Tom King e Joshua Williamson, é que a história de investigação funciona, usando os elementos tradicionais de cada herói pra isso.
Ainda assim, The Flash #21 tem um tempinho para o dever de casa pedido pelos editores, mostrando alguns acontecimentos pré-reboot – como o surgimento da Liga da Justiça original e a Crise nas Infinitas Terras – como algo que foi realmente vivido pelos mesmos personagens que lemos hoje, com esse tempo tendo sido “roubado” pelas forças que agora atacam o Universo DC. Um retcon para ignorar o reboot?
Com seus altos e baixos, o Rebirth vai se revelando um grande esforço de voltar as histórias para o ponto que estavam antes dos Novos 52, alegrando os leitores mais tradicionais. Isso até o próximo relançamento, a próxima necessidade de se conectar com novos leitores. E aí o ciclo recomeçará novamente...
Até quando?