Visual dos aliens seguirá aquele dos filmes e das produções mais recentes, e não o da série clássica, que se passa DEPOIS de Discovery
Quando saiu o primeiro trailer de Star Trek: Discovery, alguns fãs mais RADICAIS reclamaram: os Klingons que aparecem no vídeo possuem aquelas RUGAS na testa – o que cria uma enorme inconsistência com o resto do cânone da franquia. Agora, o showrunner Aaron Harberts, que substituiu Bryan Fuller, veio explicar o motivo disso.
Pra começar, se você não entendeu toda essa polêmica, vamos lá: na série clássica de Star Trek, aquela dos anos 1960, os Klingons tinham como única caracterização uma maquiagem marrom e que, de alguma forma, tentava EVOCAR características asiáticas, meio que uma referência ao preconceito que o povo americano tinha dos japoneses por causa da Segunda Guerra Mundial. Na prática, o povo – extremamente bélico – servia como representação da União Soviética.
Quando rolou Jornada nas Estrelas – O Filme, já em 1979, os Klingons voltaram com um visual mais elaborado, que a maquiagem da época e o maior orçamento permitiam. Essa mudança passou por muitos anos sem explicação, até que, na série Enterprise – que se passa cerca de 100 anos antes da série clássica -, foi explicado que os Klingons buscavam criar uma variante mais avançada geneticamente da raça deles usando DNA humano, até que um erro nessa manipulação criou um vírus que fez com que os aliens se parecessem (e pensassem) mais com nós, terráqueos, além de matá-los no final do processo. Eventualmente é descoberta uma cura pra doença, mas as expressões mais humanas – sem as marcas na testa – ficaram. A solução pra essa mutação física só veio muito tempo depois.
Dessa forma, durante a série clássica, Kirk, Spock e a Enterprise encontraram com Klingons ainda carregando características humanas. Anos depois, já na época dos filmes, eles se deparam com aliens já “purificados”.
Aí chegamos em Star Trek: Discovery, a nova série da franquia que se passa dez anos antes da série original, assim dentro da timeline clássica (e não a Kelvin, iniciada com o filme do J.J. Abrams). Justamente num momento que, de acordo com o cânone, os Klingons seriam mais próximos dos humanos. “Ah, então foi uma cagada de continuidade mesmo lá no trailer”. Hm, nem tanto.
Como já tínhamos levantado a bola aqui no JUDÃO, a nave espacial Discovery encontrará Klingons que NÃO foram contaminados pelo vírus – ou que já, de alguma forma, descobriram a cura para as características humanas antes do resto do Império Klingon. De acordo com o Entertainment Weekly, T’Kuvma (interpretado pelo ator Chris Obi), que aparece no trailer, é o líder de uma antiga casa dos Klingons, isolada das outras, mas que quer reunir seu povo. Dessa forma, eles não representam a maioria daqueles que vivem no planeta Qo’noS (ou Kronos) e, se bobear, não devem aparecer por lá há algumas gerações.
Isso tudo explica também uma outra questão de continuidade: no momento de Discovery, o Império Klingon vive uma guerra fria contra a Federação dos Planetas Unidos, evitando contatos diretos e invasão de áreas controladas pelo outro lado. Se essa facção não representa o Império, mais fácil ter treta com a Federação sem zoar a cronologia pré-série original.
“Nas diferentes versões de Jornada, os Klingons nunca foram muito consistentes”, explicou Harberts para o EW. “Nós vamos introduzir diferentes casas com diferentes estilos. Com sorte, os fãs vão ficar mais interessados nos personagens do que no novo visual”. E mesmo que alguém alegue que o tal T’Kuvma não lembra tanto assim os Klingons mais modernos, essa brecha de clã esquecido pode justificar qualquer coisa...
No final, o que vai importar mesmo é contar uma boa história – e a metáfora dos Klingons e da guerra fria podem servir para as mais diversas alegorias. Até porque, vamos lembrar, o criador dessa história toda, Gene Roddenberry, sempre foi CONTRA explicar as mudanças nos Klingons. Simplesmente as coisas eram mais limitadas nos anos 1960 e que os fãs simplesmente IMAGINEM o visual mais moderno ao rever a série, se quiserem, e tá tudo certo.
Visão que cabe como uma luva pra agora, também. ;)