A voz que fez toda uma geração gostar de rock | JUDAO.com.br

Chester Bennington, frontman de uma banda com mais de 70 milhões de álbuns vendidos, o partiu nesta quinta (20), aos 41 anos, deixando a marca de um vocal gritado e cheio de angústia que serviu de introdução roqueira pra uma galera gigante

“Morreu a voz da minha geração, o cantor que me fez gostar de rock n’ roll”, confessou em seu perfil do Facebook, com muita tristeza, um grande amigo, do alto de seus recém-completados 30 anos, assim que ficou sabendo da morte de Chester Bennington, vocalista do Linkin Park, nesta quinta-feira (20). Um outro sujeito, um tanto mais velho, tratou de cagar uma regra nos comentários (como de costume, né): “este cara não pode ser considerado voz de uma geração, meu. Tá querendo comparar ele com o David Bowie? Não dá, né?”.

Para este “amigão” que fez a comparação esdrúxula, só pode ser considerado “rock” aquilo que entra na seara do “clássico”, velharias como Stones, Beatles, Pink Floyd, Zeppelin, Purple, Sabbath. No máximo ele aceita o grunge dos anos 90... e mesmo assim, com ressalvas. Ele só não entende uma coisa: Hybrid Theory, o álbum que catapultou o Linkin Park ao estrelato, explodiu no ano 2000, com hits como One Step Closer, Crawling e principalmente In The End. O disco já tem, portanto 17 anos. Quem ouviu Linkin Park com seus 13, 14 anos, lá no ano 2000, hoje já tem 30. E sim, tamos falando de um trintão que muito provavelmente começou a ouvir rock pelo tanto que Linkin Park tocava nas rádios. Toda uma galera que descobriu estas velharias que o sujeito chama de “verdadeiros clássicos” cresceu ouvindo o Chester.

Querido tiozinho do rock, faça o favor de dar uma vasculhada no twitter, por exemplo, e veja a quantidade de comentários sobre a morte de Chester. Pra muita gente ali, morreu mais do que um músico. Morreu quase um amigo.

Pra muita gente, a morte de Chester Bennington é mais do que a morte de um músico. É quase a morte de um amigo

Chester Bennington é sim uma das vozes mais proeminentes da sua geração, que fez ressoar e explodir a indignação adolescente do nu metal mesclando a sua berraria poderosa e cheia de sofrimento com os vocais rap cheios de ritmo e poesia do parceiro Mike Shinoda. Um rock pesado mais acessível pra molecada do que qualquer Metallica da vida, até mais do que muitos de seus contemporâneos como Korn e Limp Bizkit.

Uma indignação que conversava com o adolescente da época de um jeito mais intenso e envolvente do que conversavam ídolos roqueiros de outras gerações. “Hoje vai ser a noite da terapia do grito”, disse ele, ao explicar sua relação com os fãs, durante a coletiva de imprensa que anunciou a primeira passagem do grupo pelo Brasil, em 2004, um Linkin Park em seu auge. “Vai ser a chance que muitos de nossos fãs terão de berrar até não poder mais, pra exorcizar seus demônios, pra colocar pra fora tudo que está preso na garganta”.

Por sinal, falar sobre Hybrid Theory, seu disco de estreia, é também falar sobre o disco que foi uma espécie de exorcismo para Chester. As letras tratavam claramente de seu problema com drogas e dos demônios que enfrentou na adolescência, como o abuso cometido por um “amigo” mais velho e ainda o traumático divórcio de seus pais, quando tinha apenas 11 anos. Natural da cidade de Phoenix, no Arizona, ele conheceu grande parte dos colegas que se tornariam integrantes do Linkin Park ao seu lado ainda na década de 90, apresentado por Jeff Blue, na época executivo da Zombie Music Publishing – e responsável pelo contrato dos garotos com a Warner.

Desde então, a banda não se conformou a viver sempre dentro daquela mesma caixinha: abraçou o rap de vez ao gravar um disco com Jay Z; fez um som mais experimental em A Thousand Suns; depois enfiou o pé na porradaria, aí mais metal do que rap mesmo, com The Hunting Party. Este ano, no entanto, não tiveram medo de ousar ainda mais, com o controverso One More Light, uma mistura de pop com eletrônico que fez muitos destes fãs, aqueles mesmos que começaram a ouvi-los em Hybrid Theory, surtarem. Meio como qualquer louco devotado pelo Sabbath faria, por exemplo. Se levar cacetada dos fanáticos por ter mudado o direcionamento musical não os credencia imediatamente como “rock clássico”, não sei mais o que faria.

Chester, aliás, também mergulhou num rock mais tradicionalzão, mais convencional, um hard com pitadas alternativas, com o projeto paralelo Dead by Sunrise – que lançou apenas um disco, Out of Ashes, de 2009. Ali, no entanto, dava pra sentir um pouco de seu lado mais melódico, menos furioso e mais delicado, só que com a mesma capacidade de transmitir emoção. Em 2013, ele encarou a fúria dos tradicionalistas ao fazer uma série de shows com o Stone Temple Pilots, no lugar de Scott Weiland, outra vítima de uma morte trágica.

Aliás, ironia sombria, Chester morreu no dia do aniversário de um de seus grandes amigos, Chris Cornell, o cara para quem escreveu um tributo emocionante e que homenageou lindamente ao cantar Hallelujah em seu funeral. “Sua voz era alegria e dor, raiva e perdão, amor e dor de cabeça, tudo em uma só. Suponho que é o que todos somos. Você me ajudou a entender isso”, disse ele, em sua despedida para Cornell.

Uma frase que diz tudo para quem sabe ouvir. :(