Donald Glover vai aposentar o Childish Gambino | JUDAO.com.br

O músico e ator confirmou, durante a cerimônia do Grammy no último domingo (28), que o nome que usava no palco desde sempre vai mesmo sair de cena — mas isso quer dizer que sua carreira musical está encerrada?

“Eu acho que tem um monte de coisas na vida que, se tivessem data de validade, não causariam tantos problemas no mundo, pra ser honesto. Acredito que encerramentos são bons porque forçam as coisas a ficarem melhores”. A frase é de um grande pensador da cultura pop que, sim, DEVERIA inundar a sua timeline todos os dias. Estamos falando deste homão da porra chamado Donald Glover.

O ator, músico, comediante, roteirista e etc estava falando, nos bastidores do Grammy 2018, realizado neste último final de semana, a respeito do encerramento das atividades do Childish Gambino — no caso, a sua persona musical que recebeu cinco indicações ao prêmio nesta edição pelo maravilhoso Awaken, My Love, aquele mesmo disco que, como dissemos aqui, parece algo saído “diretamente de alguma experiência de comunicação extraterrena com Prince”.

Ao ouvir Redbone, single do álbum que inclusive embala os créditos iniciais do filme Corra! e ganhou o Grammy como “melhor gravação de R&B tradicional”, dá pra entender exatamente o motivo.

“Eu mantenho esta decisão. Eu realmente aprecio isso. E estou fazendo outro projeto agora”, afirmou, confirmando a informação de Junho do ano passado, durante sua memorável apresentação no Governors Ball Music Festival, de que estaria a caminho aquele que será o derradeiro álbum de Gambino. “Eu gosto de finais, eles são importantes para o progresso”.

Os fãs já estavam acreditando que o sujeito pudesse ter mudado de ideia depois do anúncio de que este quarto disco vai sair ainda este ano pela RCA Records, depois do rompimento do contrato turbulento com a independente Glassnote Records — mais de uma vez, ele expressou seu DESCONTENTAMENTO com o selo porque sua música estaria sendo tratada de maneira “desrespeitosa” por pessoas que só pensam no “lucro”. Ou seja: rolou um sentimento de AGORA VAI por parte da galera. Mas parece que não foi.

Só que... em nenhum momento a gente ouviu o cara dizer que não vai mais fazer música na vida. ELE, pelo menos, o verdadeiro Donald Glover, o original. Mas sim que o Gambino é que vai ser aposentado. Sacou a pegadinha aí? Pode ser que estejamos diante de uma parada meio David Bowie “matando” o Ziggy Stardust, por exemplo. Só que aqui quem está morrendo é a persona surgida no segundo ano da faculdade, graças a algo tão trivial quanto um gerador automático de apelidos para o Wu-Tang Clan. SÉRIO (o meu deu “Smilin’ Pupil”, só pra constar). Um nome que Glover encontrou assim, na zoeira da bebedeira com os amigos e falou “opa, tem coisa aqui”.

Quando ele diz que “finais são importantes para o progresso”, pode ser que Donald esteja preparando um novo passo, uma nova ousadia ou experimentação. Coisas que, no fim das contas, sempre foram as suas marcas.

Ao HuffPost, Glover tinha dito que Gambino não era mais necessário. “Não tem nada pior do que uma terceira sequência, aquele terceiro filme que deixa a gente pensando ‘de novo?’. Sabe, eu gosto quando é uma coisa boa e quando ela volta porque existe uma razão pra isso”. Em todo e qualquer aspecto de sua vida, seja na TV, no cinema ou na música, o que ele não quer é comprometer o que chamou de punk-ness. E obviamente ele não está falando sobre o gênero musical, mas sobre a atitude do movimento punk, de transgressão. “Ser punk sempre pareceu bom pra mim e sempre olhei para Atlanta [a série criada por ele pro canal FX] como um programa punk. Mas senti que a direção que eu deveria seguir com o Childish Gambino não seria mais punk”.

Não é a primeira vez que esta insatisfação toma conta do cara, aliás. Criado em Stone Mountain, na Georgia, ele chegou ao mundo de Hollywood em 2006, depois que o produtor David Miner viu algumas amostras de texto de Glover, incluindo um spec script (que a gente te explica o que é aqui) para Os Simpsons. Ele e Tina Fey ficaram impressionados e convidaram o sujeito pra se tornar roteirista de 30 Rock, onde ficou de 2006 a 2009 e chegou a fazer aparições especiais na frente da câmera. Dali pra Community foi um pulo.

Era a oportunidade que ele precisava pra chegar ao mainstream, mas Donald Glover deixou a série durante a quinta temporada. Muita gente especulou justamente que ele tava vazando por causa de sua carreira como Childish Gambino, mas não foi nada disso. No seu Instagram, no entanto, ele publicou uma série de notas escritas à mão que mostravam que, bom, o lance é que ele precisava de um pouco mais de independência e espaço para lidar com alguns problemas pessoais, incluindo o que parecia ser uma grande crise de ansiedade.

Talvez ele precise se afastar de Gambino, que se tornou algo maior do que ele, e começar do zero. Enxergar a música do lado de fora mais uma vez. Por que, para ser experimental como ele vinha sendo como Childish Gambino desde então, para poder continuar surpreendendo como foi com esta entrega viajandona recente ao funk psicodélico setentista, ele mesmo precise sair desta “caixa” na qual se colocou. E causar estranheza mais uma vez.

E vamos combinar que esta não foi a primeira persona que Glover incorporou musicalmente. Ao lado de Danny Pudi, seu parça em Community, ele já tinha lançado o dueto Troy & Abed’s Christmas Rap, em 2011. E sob o codinome mcDJ, ele produz música eletrônica, uma parada TOTALMENTE diferente do Gambino, que Glover já chegou a liberar aqui e ali neste mundão internético totalmente de graça.

Enquanto a gente espera pra ver que outro coelho este camarada vai tirar de sua cartola musical, já se sabe que ele terá uma agenda bastante atarefada nas outras atividades de seu currículo. Na TV, além do retorno de Atlanta, ele e o irmão Stephen tão preparando uma série animada adulta do Deadpool pro canal FXX. E no cinema, além de interpretar a versão jovem do icônico Lando Calrissian em Solo: A Star Wars Story, é ele quem vai dar a voz ao Simba adulto no novo Rei Leão live-action (?), a ser dirigido por Jon Favreau.

Há quem espere que, depois da aparição como Aaron Davis em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, justamente o tio de Miles Morales nos quadrinhos — é, aquele mesmo Miles que teve o próprio Glover e sua campanha para ser o novo Peter Parker antes de Andrew Garfield assumir o papel como inspiração declarada do próprio Brian Michael Bendis — possa existir um futuro pra Glover também no MCU.

O que não vai faltar pra ele, Glover e não Gambino, é ocupação. E inspiração.