Dois mil e dezoito e ainda Rubens Ewald Filho com microfone aberto na TV. Já deu.
Eu não assisto à transmissão brasileira de premiações há alguns anos, já que tomei uma das grandes decisões da minha vida adulta e cortei o cabo. Quando ainda gastava centenas de reais por mês pra assistir a Storage Wars e Trato Feito, eventualmente assistia à algumas premiações pela TNT, sempre, invariavelmente, com a tecla SAP.
O grande problema pra mim era a tradução simultânea, eu nunca me preocupei com os comentários — o que, sinceramente, eu nunca entendi exatamente por que existem, ainda que estejam em absolutamente todas as transmissões nacionais. Talvez faça sim sentido colocar um especialista pra dizer algumas coisas sobre os filmes, atores, músicos, séries e o que mais tiver na tela, especialmente quando vemos o público da TNT votando em Meryl Streep como “Melhor Atriz” em 2018.
Mas precisa mesmo ser o Rubens Ewald Filho?
Já dissemos isso aqui há algum tempo: o cara é uma “verdadeira enciclopédia viva do cinema”, viu filme pra caralho e em algum momento teve uma carreira respeitável. Ok, tá de parabéns. Mas não adianta muito assistir a todos os filmes do universo se sua cabeça, com o passar dos anos e ao contrário do que o fato de assistir a filmes indicaria, fica cada vez mais mole.
Silvio Santos diz o que diz, faz o que faz, mas é o dono daquilo tudo, compreende-se ele não sair do ar e, principalmente, continuar fazendo. Mas qual é exatamente a desculpa para a TNT manter o Rubens Ewald Filho contratado?
Assim como os comentários na internet, ignorar seus comentários não o farão desaparecer. Não adianta simplesmente não ler o que dizem ou usar a tecla SAP. Em um nível pessoal, sim, faz todo sentido; mas muita gente não entende inglês o suficiente pra ouvir o áudio original e, infelizmente, comentários como “essa moça na verdade é um rapaz”, proferido no momento em que Uma Mulher Fantástica ganhou o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira — se referindo à atriz Daniela Vega, uma mulher trans — continuam sendo feitos.
E o problema aqui é justamente esse: o comentário poder ser feito, não poder não ser ouvido.
No twitter, a TNT Brasil tentou corrigir — ou, pelo menos, dar uma aliviada — o que foi dito na TV, afirmando que “sim, Daniela Vega é uma mulher. E que mulher!”, mas como você muito provavelmente imagina, isso não é o suficiente TAMBÉM.
Vivemos em 2018. Usando apenas e tão somente o Oscar como exemplo, outro dia a discussão era sobre as perguntas feitas para as mulheres no tapete vermelho, passou ao fato de ser essencialmente um monte de brancos festejando e nesse momento fala-se sobre a representação feminina em cada uma das categorias que não separam por gênero AND sobre o tempo de abusos que acabou. Hollywood, arte... Em teoria, espera-se SEMPRE o máximo de progresso.
E empatia, claro.
É um PARADOXO ter Rubens Ewald Filho com um microfone aberto hoje em dia em qualquer lugar que não seja aquela Live sem Lacre que aquela galera resolveu fazer — e, eu imagino, poderá ser usado pra quem quiser fazer e servir TORTA DE CLIMÃO. Isso se eles não se rasgaram, ou sei lá.
O fato é que entra ano, passa ano, o mundo anda pra frente, com a cultura pop e a arte em geral ajudando a puxar esse bonde. Entra ano, passa ano, os ratos saem dos bueiros e eles são nojentos e machucam e, em alguns momentos e lugares, acabam dominando. Mas são só ratos. Não faz sentido dar alimento pra esses ratos.
E é exatamente isso o que a TNT faz, entra ano, passa ano, mantendo Rubens Ewald Filho no ar.