Quase tivemos uma versão de Jurassic Park sem Ian Malcolm | JUDAO.com.br

Dá pra imaginar a cultura pop sem a sexy, irritante e, portanto, icônica performance de Jeff Goldblum como o matemático e teórico do caos que diz que é melhor não brincar de Deus? Pois é. Mas quase rolou.

Jeff Goldblum é tipo uma instituição sagrada do cinema hollywoodiano. Incrivelmente bem-humorado e com uma imensa capacidade de rir de si mesmo, o ator sacou já tem uns bons anos o seu potencial de gerador humano de memes e transforma não apenas seus filmes, mas também cada uma de suas entrevistas em um acontecimento. E o mais legal é que ele faz de um jeito absolutamente único, humano, natural, sem nunca parecer forçado.

Depois de sua estreia como um dos ladrões arrombadores que levam chumbo de Charles Bronson na pancadaria clássica Desejo de Matar, em 1974, Jeff teve seu primeiro grande momento como o excêntrico cientista no filme A Mosca (1986), de David Cronenberg. Mas foi de fato sua performance como o matemático Ian Malcolm no primeiro Jurassic Park, de 1993, que o catapultou de vez para o sucesso e para o nosso imaginário popular.

Devoto da teoria do caos, Malcolm era de longe o mais insuportável e ao mesmo tempo mais interessante integrante da excursão pelo parque temático do milionário John Hammond em Isla Nublar. Cheio de atitude e sem papas na língua, Malcolm era cool, com uma pose de rock star, sempre de jaqueta de couro e óculos escuros, disposto a todo custo a provar que “a vida sempre encontra um caminho” e que toda aquela experimentação com DNA podia dar merda. E, bom, o cara tava certo e a merda foi dada e COM ESTILO.

Dá pra imaginar, portanto, uma versão de Jurassic Park SEM a existência de Ian Malcolm? Pois é, mas isso quase aconteceu. E quem conta é o próprio Goldblum, numa entrevista para a Vanity Fair na qual fala sobre sua carreira e, obviamente, seu mais recente filme, Isle of Dogs, a terceira colaboração com o diretor Wes Anderson (depois de O Grande Hotel Budapeste e A Vida Marinha com Steve Zissou).

“Eu li o livro do Michael Crichton e aquele Ian Malcolm, wow! Esperto, divertido, um personagem bem interessante”, explica o ator, relembrando como se preparou para seu primeiro encontro com Steven Spielberg, pra discutir o papel. “Spielberg foi um doce, mas disse ‘sabe, tem um tipo de movimento em andamento, conforme escrevemos uma nova versão do roteiro... para remover essa parte do roteiro. Então, como tivemos essa reunião, há uma pequena chance de que isso se torne irrelevante’. Então, eu meio que disse: ‘bem, caramba!’. Me senti motivado a lutar por minha inclusão!”.

A ideia, em certo momento, era juntar os papeis de Ian e do paleontólogo Dr. Alan Grant, o grande protagonista não-réptil da produção, numa coisa só. E Goldblum (que ainda mandou um “bom, não acho que eu entenda tanto sobre contar histórias quanto você, mas tenho que dizer” pro Spielberg) achava esta uma péssima ideia, já que os dois representavam tipos totalmente distintos de preocupações sobre os dinossauros.

“Não acho que Sam Neill já estava escalado pro papel, mas de qualquer forma existia esta ideia sobre Alan Grant — e eu disse ‘não, não, não!’. Eu realmente achava que tínhamos que manter o personagem. E foi assim que aconteceu”.

Além de se manter no filme, Goldblum meio que virou o protagonista da continuação, O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997), além de já estar confirmado no elenco de Reino Ameaçado, continuação de Jurassic World que estreia este ano e na qual a ex-gerente de operações do parque, Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) cria uma organização para tentar salvar os dinossauros de Isla Nublar de uma erupção vulcânica.

Vale lembrar que, nos livros de Crichton, o destino de Malcolm – notadamente inspirado no físico americano Heinz Pagels e em seu trabalho com a Teoria do Caos – acabou sendo ligeiramente diferente. No primeiro, que já estava sendo devidamente sondado por Hollywood antes mesmo de ser lançado, o matemático se fere gravemente durante o ataque de um tiranossauro e passa a maior parte da obra morrendo aos poucos. Até que, no epílogo, tudo leva a crer que ele morreu, assim que o resgate chega para buscar os sobreviventes na ilha.

Porém, que rufem os tambores, em 1996 sairia a continuação, O Mundo Perdido, praticamente um ano antes de sua versão filme. E adivinha quem está surpreendentemente de volta? Em uma trama que pouco lembra a da continuação nos cinemas, com uma investigação sobre uma tal Isla Sorna, na qual a InGen chocava e desenvolvia externamente os dinossauros para o parque? Ele mesmo.

Na verdade, em termos canônicos, Malcolm estava apenas “aparentemente morto” e, inclusive, a parte da imprensa que “o odiava” chegou a noticiar a sua passagem para a terra dos pés juntos — mas levou apenas seis meses para que ele se recuperasse plenamente do incidente. Em defesa do autor, muitos fãs dizem que a notícia da morte de Ian é dada sob o ponto de vista dos OUTROS personagens, que apenas ACHAVAM que ele tinha falecido graças ao seu estado gravíssimo.

De fato, o sucesso estrondoso do primeiro filme do Spielberg, que ainda incentivou o escritor a mandar ver numa continuação que ele nem planejava fazer, junto com a performance consagradora de Jeff Goldblum como Ian Malcolm, não tiveram nada a ver com a decisão.

MAS É CLARO. ;)