Quando o vilão é o grande protagonista de um filme da Marvel | JUDAO.com.br

A gente não queria usar uma imagem do Thanos na nossa resenha de Vingadores: Guerra Infinita, só pra fugir do lugar comum… Mas não teve jeito. O filme é dele.

Fim do primeiro filme dos Vingadores, ano de 2012. Depois de fecharem o rombo interdimensional aberto pelo Loki, era óbvio que os Maiores Heróis da Terra teriam de enfrentar uma ameaça realmente grande no futuro — a questão seria o quão grande. Foi o meu primeiro pensamento assim que o filme acabou.

Eis que um enorme queixo roxo aparece na tela todo felizão ao ouvir que “desafiar os humanos é cortejar a morte”... Ok. Me parece que Thanos é uma ameaça grande o suficiente. Li, aceito, desejo continuar, sabendo que Thanos está vindo, ainda que sem informações sobre como exatamente, onde ou mesmo por que.

Quer dizer, sabemos pelo que vimos em Guardiões da Galáxia que ele tava atrás das Joias do Infinito; quem leu Desafio Infinito sabe também que ele destruiria metade da vida do universo só pra alegrar sua amada, a Morte, assim que conseguisse as seis Joias, “com um estalar de dedos”.

Vingadores: Guerra Infinita enfim chegou aos cinemas e, com ele, o Titã Louco numa versão que supera em diversos níveis a sua versão dos quadrinhos. A base de Desafio Infinito está lá, mas Thanos agora tem uma motivação um pouco mais, vamos dizer assim, VÁLIDA para querer reunir as Joias e matar metade dos seres que vivem em todo o Universo. Uma ideia que, de uma maneira ou de outra, em algum momento, todos nós conseguimos nos identificar e que, também de uma ou outra maneira, filmes como Thor e Pantera Negra já apresentaram anteriormente no Universo Marvel dos Cinemas.

Thanos é obviamente um ser desprezível, fascista, um péssimo pai, escroto em diversos níveis. Mas também tem camadas suficientes para que consigamos acreditar na dor que ele sente por fazer o que faz. Não que seja aceitável, veja bem! Mas é algo que Josh Brolin fez não parecer tão absurdo assim, com uma interpretação tão assustadora quanto vulnerável, num trabalho magnífico de captura de movimentos e design, que deixam o ator e sua atuação por cima de todas as horas de renderização — o que não pode ser dito dos outros membros da Ordem Negra, que se parecem todos com algum personagem de algum videogame que todos nós já jogamos, um PADRÃO dessa coisa de “vilões de CGI”.

Não é à toa que, depois de todos os créditos e cenas, o filme avise que “THANOS retornará”, em detrimento d’Os Vingadores. A verdade é que esse é um filme do vilão, seja por ele roubar a cena, seja porque é o que ele faz e diz que realmente importa no fim das contas.

É quase como se todos aqueles oitocentos heróis atrapalhassem o que o filme tem de melhor.

Nenhum personagem tem tempo de tela suficiente pra desenvolver sua história. Alguns você já sabe como estão por conta dos outros filmes, com destaque ao Thor, o grande SUPER-HERÓI de toda essa bagunça; outros simplesmente não precisam de muita coisa pra serem quem são, como o Drax; tem aqueles que a gente queria ter visto mais, especialmente o pessoal de Wakanda, e aqueles que poderiam nem ter aparecido já que servem mais de muleta pra que algo aconteça do qualquer outra coisa, como o Groot adolescente ou mesmo o Homem-Aranha (de Ferro) e o próprio Homem de Ferro, que agora se transforma na armadura, graças à “nano tecnologia”, vendida pra nós desde o início do filme — eu não comprei não. :P

Mais de duas horas de batalha é legal? Bem, até pode ser se num filme como esse ver super-heróis saindo na porrada é o que te importa. Não chega a ser uma porradaria gratuita, há muita coisa em jogo claramente e aqui é um dos poucos lugares em que usar o uso do termo “épico” faz sentido. Mas acho que é seguro dizer que a quantidade de personagens acabou atrapalhando a profundidade que cada um deles e a história merecia. Porque, quando existe interação sem ser com os punhos entre os personagens, ela é muito legal, funciona bem. Poderia ter sido algo mais equilibrado — Robert Downey Jr. e Tom Holland aparecendo mais tempo sem suas máscaras, mesmo no meio das tretas, é a prova de que as coisas precisavam ter sido um pouco diferentes.

Vingadores: Guerra Infinita, nesse sentido, não se sustenta sozinho e acaba dependendo DEMAIS de Capitão América: Guerra Civil, Doutor Estranho, Guardiões da Galáxia Vol. 2, Homem-Aranha: De Volta ao Lar e Thor: Ragnarok pra existir, além de outros dez anos de produções ultra bem sucedidas.

As tretas acontecendo em pelo menos três frentes distintas através do Universo, com versões bastante aleatórias de equipes, que servem essencialmente pra costurar tudo o que aconteceu pelo Universo Marvel, CULMINANDO em um clímax faltando no máximo 15mins pra acabar, o que pode ser ao mesmo tempo considerado corajoso por parte da Marvel e dos Irmãos Russo, e decepcionante por quem esperava um filme com uma história fechada de fato. Porque, vamos falar abertamente aqui, o próximo filme será uma CONTINUAÇÃO e não uma nova história.

São quase 2h de uma sensação de “AGORA VAI!” que, quando acaba indo de fato, o filme acaba. Isso acabou me deixando infinitamente (sem trocadilho aqui!) mais interessado no que acontecerá em Vingadores 4 (ou Guerra Infinita Parte 2, como era originalmente chamado), um filme que tem TUDO pra ser o melhor de todos esses 19 lançados até agora.

“Se a Marvel tivesse escrevendo um livro nos últimos 10 anos, esse seria o último capítulo. É o grande final”, afirmou Anthony Russo, um dos diretores do filme, em entrevista ao Hello Giggles. Fato. Vingadores: Guerra Infinita nos deixa absolutamente perdidos com o que virá a seguir — o que os diretores chamam de “realismo emocional”, uma constante muito legal no trabalho deles. Ao mesmo tempo em que MUITA coisa se torna óbvia que irá acontecer.

É seguro dizer que a quantidade de personagens acabou atrapalhando a profundidade que cada um deles e a história merecia. Nesse sentido, Guerra Infinita não se sustenta e acaba dependendo DEMAIS dos outros 18 filmes lançados até agora

Vingadores: Guerra Infinita vai ganhar todo o dinheiro do mundo por ser a reunião de algo que funciona e MUITO bem há dez anos. Por ter um milhão e oito personagens pelos quais as pessoas aprenderam a se importar em diversos níveis. Não é, porém, um filme que se arrisca. Ainda que o filme seja ousado em diversos momentos, sabemos que esses mergulhos no desconhecido serão alterados no futuro, voltando pro óbvio. A sequência final até já dá uma pista de COMO. Há, de fato, poucas novidades.

E não, você NÃO precisa ser leitor de quadrinhos pra sacar parte disso. Sim, se você lê gibis da Marvel há algum tempo, parte do impacto final se dissipa porque o seu cérebro imediatamente monta o restante do quebra-cabeça. Mas se você vem assistindo aos filmes da Casa das Ideias nos últimos anos e, principalmente, sabe de seus planos para as telonas daqui pra frente, o “Oh!” rapidamente se torna um “Ah!”.

Porque ESTE tipo de ousadia é muito legal. Mas só tem impacto real quando existe TAMBÉM a coragem de se sustentar.