O Pai do Chris falou ao senado americano sobre ter a carreira ameaçada por ter revelado abuso sexual e processado seu abusador
AVISO DE GATILHO! Esse texto contém descrições de assédio sexual e suas consequências emocionais
No ano passado, em meio à explosão de denúncias contra grandes nomes de Hollywood e o #MeToo, vimos algo pouco comum: um homem falando abertamente sobre já ter sido atacado. Terry Crews, o Pai do Chris, inspirado pelo movimento, resolveu desabafar e, em seu Twitter, declarou já ter sido apalpado por um executivo de alto nível. “Pulei e perguntei ‘o que você está fazendo?’ Minha esposa viu tudo e olhamos para ele como se fosse um maluco. Ele só deu um sorrisinho”. Terry contou que considerou em bater em seu agressor, mas pensou duas vezes, já que a cobertura da mídia tende a ser… tendenciosa. “‘Homem negro de 100 quilos espanca figurão de Hollywood’ seria a manchete do dia seguinte.”
Descobrimos, depois, se tratar de Adam Venit, produtor, agente e chefe da agência WME. Crews fez uma queixa contra os atos que foi ARQUIVADA, já que, segundo o delegado que cuidou disso, a acusação passou do prazo de prescrição — os eventos ocorreram em 2016, a denúncia foi feita um ano depois. Além disso, de acordo com a Variety, um dos advogados de defesa escreveu em uma planilha que não houvera crime, “já que o suspeito não tocou a pele da vítima quando agarrou suas genitais e não há nenhuma restrição envolvida”. O ator, então, seguiu com um processo contra Venit e a WME.
Maaaas esse processo incomodou. DEMAIS.
Nessa semana, Pai do Chris foi chamado para falar em uma audiência no senado americano que discutiu a Carta de Direitos para Sobreviventes de Crimes Sexuais, criada por Amanda Nguyen (que foi INCLUSIVE nomeada ao Nobel da Paz). Lá, ele contou que o produtor de Os Mercenários, Avi Lerner, teria ligado para seu agente pedindo para que ele desistisse do processo contra seu agressor, caso contrário, ele não apareceria no quarto filme da franquia. “Abusadores protegem abusadores, e eu tive que decidir os meus limites ali. Se faria parte disso ou se tomaria uma posição. Assim, tive que negar minha participação em alguns projetos.”
“Você geralmente é levado a pensar que esse tipo de comportamento é esperado, parte do trabalho. É levado a pensar que [tolerar] assédio, abuso e até estupro faz parte da sua função”, disse. Por fim, afirmou ter visto outros colegas tomando coragem para contar suas histórias: “Desde que eu contei meu caso, vários outros homens me disseram ‘isso aconteceu comigo também. Mas nunca me senti confiante ou seguro o suficiente para contar’. Porque se você entrar em alguma lista negra, sua carreira corre perigo. Depois disso, ninguém quer trabalhar com você.”
O mito da masculinidade nos diz que homens devem aguentar “de tudo”. Durões, não choram, não são vítimas de nada, tudo deve ser fácil e reclamar sobre situações que feriram seus sentimentos e traumatizaram é sinal de fraqueza. É coisa de “mulherzinha”, né? E é feio isso. O feminino é inferior. Por isso é POTENTE ver um cara que carrega o estereótipo do ~machão~ se abrindo sobre esses pensamentos tóxicos e os problemas que isso traz. O machismo atrapalha todo mundo e, abrindo o jogo, Terry vira exemplo para todos aqueles que foram vítimas de ataques sexuais mas têm vergonha de contar JUSTAMENTE por medo de serem vistos como “fracos demais”.
Você pode assistir ao discurso completo de Terry Crews clicando aqui.