Santo linguajar, Menino Prodígio!
De longe, talvez uma das melhores reações ao recém-lançado primeiro trailer da série Titans tenha mesmo vindo da roteirista de quadrinhos Gail Simone, conhecida não apenas pelo ótimo trabalho mas também pelo senso de humor. “Querido trailer dos Titans... você é sombrio. Eu fiz um pouco de chocolate quente com pequenos marshmallows que talvez você goste”, disse ela, no Twitter.
Aí já mandaram uns RTs com mensagens do tipo “nem a Gail gostou” e ela logo tratou de corrigir. “Eu não disse isso. Gosto do elenco. Mas foi uma surpresa. Estou intrigada”, afirmou em outro tweet, para depois completar: “Titans pode ser uma série incrível. Eu vi os trajes de perto ontem à noite e me pareceram bem mais legais do que o que as imagens mostravam antes. Mas este trailer foi mesmo uma surpresa”.
Minha sensação foi rigorosamente a mesma. Gostei, até. Mas não esperava ESTA pegada.
Primeira série original do novo serviço de streaming da DC, a produção do premiado Akiva Goldsman, cujo roteiro e o desenvolvimento criativo estão a cargo de ninguém menos do que Greg Berlanti, o homem por trás das séries DC do canal CW, tem um tom, pelo menos NESTE trailer, surpreendentemente DARK — que pegou de surpresa não apenas os leitores dos gibis originais acostumados a uma leitura talvez mais leve dos jovens heróis como também quem tava acostumado com as últimas versões que andamos vendo deles nas telinhas.
Claro, dá pra entender BEM o recado aqui: se você decidir assistir a esta série, é bom esquecer a zoeira explícita e descarada de Os Jovens Titãs em Ação — que, aliás, tá chegando com um longa-metragem que promete ser nada menos do que genial em termos de metalinguagem e autoconsciência. Também dá pra entender que os produtores estão claramente tentando tirar do Robin (Dick Grayson), vivido aqui por Brenton Thwaites, o estigma de “garoto multicolorido que é só sidekick e sparring do Homem-Morcego” que quem não acompanha o herói nos gibis e o conhece só da dupla com o Batman muito provavelmente pode pensar. Na principal cena do vídeo, quando ele dá uma surra na bandidagem, além do já icônico “Fuck Batman” (vou mandar estampar isso numa camiseta), tudo tem tintas violentas bastante carregadas. Ele chega a parecer bem mais Damian Wayne do que que Dick Grayson, até.
Mas não duvido, aliás, que no meio da série ele resolva deixar este “fardo” de parceiro do Cavaleiro das Trevas de lado e acabe assumindo o manto de Asa Noturna, pra mostrar que tem identidade própria e pode seguir em frente sem depender da sombra pesada do homem que o criou.
E, sim, obviamente os produtores também estão mandando um baita “leva a gente sério, porra!” pra galera que sacaneou um bocado o visual da Estelar (Anna Diop) e do Mutano (Ryan Potter) naquelas imagens que vazaram do set série, uns meses atrás. Aliás... a princesa alienígena de Tamaran tá, nesta primeira aparição, maravilhosa e majestosa como bem se imaginava. Mas, no fim, falaram tanto e os uniformes/visuais se parecem rigorosamente com aquilo que a gente acompanha semanalmente no bom e velho #Arrowverse, quer isso signifique pra você que este recado é uma coisa boa ou então uma verdadeira porcaria.
A história vendida pelo trailer, que parece num primeiro momento se centrar em Grayson e na menina Ravena (Teagan Croft), filha do terrível demônio multidimensional Trigon que vem pedir proteção ao jovem órfão da família circense, tem cara de girar em torno do conceito de “demônios internos” — não só os que ela mesma carrega, por natureza, mas também os que cada um dos jovens heróis que acabam inadvertidamente formando um time também têm dentro de si. Estes “segredos” podem ser o seu elo de ligação. Faz sentido, até.
Mas, mesmo assim, em termos gerais, talvez me incomode um pouco esta opção pelo lado mais SOMBRIO, uma coisa na qual a DC dos cinemas vinha insistindo de maneira pentelha nos últimos anos e que, vejam vocês, era renegada justamente pela versão televisiva da DC, muito mais solta e iluminada, muito mais focada no aspecto heroico da coisa toda. Tá bom, isso aqui não é o #Arrowverse, já entendemos. Mas, ainda assim, estamos meio de saco cheio de justiceiros que caminham na linha fina entre o bem e aquele mal que eles mesmos enfrentam, né? Os anos 90 já passaram tem um tempinho... ;)
Pode ser que os Titãs sejam assim só no começo e, aos poucos, em meio ao sangue e aos palavrões, vão descobrindo juntos que ser um herói é mais do que surrar putaço da vida um bando de criminosos, mas sim ser algo que o mundo anda precisando MUITO? Pode ser. Aliás, TOMARA que seja. E alguém diga pro Berlanti, por favor, que tá liberado acender a luz.