As emoções e sacrifícios da volta aos palcos de Beyoncé no Coachella de 2018 aparecem de um jeito muito, MUITO especial em Homecoming
“Custava NADA a Beyoncé deixar o Beychella no ar pra gente ver”. Eu tuitei isso no dia 2 de Março deste ano. Eu tava morta de vontade de rever o show que a Beyoncé havia feito no Coachella 2018 e não achava NADICA além de vídeos de fãs no YouTube.
MAL sabia eu — e todo mundo — o que Bey estava preparando pra nós.
Homecoming: a film by Beyoncé foi anunciado pouco mais de uma semana antes de sua estreia oficial. E, para espanto de todos, não seria nenhum conteúdo exclusivo TIDAL, e sim um documentário para o Netflix. O longa conta um pouco da história de criação do conceito do show que ela apresentou no ano passado, ensaios e detalhes sobre a vida de Beyoncé naquele ano.
O filme tem dois momentos: o show EM SI e as cenas de bastidores entre alguns pedaços. A montagem de tudo é bem interessante: as imagens de apresentação mesclam os dois dias, mostrando todos os figurinos, momentos e esfregando NA CARA da gente que tudo é tão, mas tão bem ensaiado que dá pra misturar tudo e ainda ter uma continuidade perfeita.
Os momentos de bastidores têm uma estética que, a princípio, não entendi bem. Mas logo deu pra sacar que as imagens um pouco granuladas, experimentação com o foco e a voz de Beyoncé sempre abafada colocam o espectador no lugar de voyeur. Estamos olhando a vida da cantora pelo buraco da fechadura, ouvindo suas conversas pegando na linha do telefone. É como se estivéssemos quebrando um pedaço da aura de perfeição que ela carrega e enxergando, mesmo que só um pouquinho, sua vulnerabilidade.
Bey fala sobre como ensaiou e criou o espetáculo durante seu PUERPÉRIO — que é, pra quem não sabe, o período pós-parto, antigamente chamado de “resguardo” ou “quarentena”. Esse é um momento de mudanças físicas e psicológicas muito fortes. E a cantora quer MUITO mostrar o tantão que ela se esforçou pra superar tudo e voltar aos palcos. Em um certo momento, inclusive, dá pra ficar com o coração na mão ao se perguntar se ela precisava MESMO fazer aquilo naqueles termos. Será que não dava pra esperar um pouco mais? Um aninho que fosse?
Em um outro ponto, ela fala sobre seu ganho de peso pós-gravidez e decide explicar sobre sua dieta pré-show. Nada de carboidratos, laticínios, carnes, açúcar ou álcool. O problema tá em como ela fala isso, deixando implícito que fora uma decisão só dela. Muito provavelmente ela tem um profissional de nutrição que cuida de tudo ali, mas não falar que suas restrições eram APROVADAS por um médico é bem ruim. Uma garota que assiste à Homecoming e quer ter o corpo da Beyoncé pode simplesmente seguir cegamente essas regras – o que não é nada seguro. Dava pra ter ficado sem essa, viu?
A sede dela em voltar tinha motivo: em 2017, tava tudo combinado pra Beyoncé se apresentar no mesmo festival. Maaaas ela descobriu que estava grávida e a data do parto coincidia justamente com o show. Em Homecoming, então, descobrimos mais detalhes sobre esse momento: ela se afastou, descobriu que teria gêmeos, teve uma gravidez de risco, precisou de uma cesariana de emergência… e vamos combinar que ver um relato tão íntimo dessa mulher que praticamente não dá entrevistas é algo bem especial.
Ela, com três filhos pra tomar conta, precisou se afastar daquele lado mais performático que mostra nos palcos. Então, mesmo se recuperando de uma cirurgia, mesmo precisando descansar, mesmo querendo ficar com seus bebês, ela ensaiou. Os vídeos mostram uma vontade GIGANTE de voltar logo que parece ser mais do que comercial. O palco é posto como a segunda morada de Beyoncé e ela precisava, desesperadamente, voltar para sua casa longe de casa.
Aliás, esse é o segundo sentido do conceito de Homecoming. Esse termo, que significa “retorno ao lar”, é o nome dado à uma tradição de boas-vindas dos ex-estudantes de universidades e alguns colégios americanos. É uma festa para celebrar a instituição e seus valores e é BEM importante por lá.
O conceito todo do show é celebrar as HBCUs (Historically Black Colleges and Universities), faculdades especiais para educar estudantes negros. Os elementos visuais e sonoros, as letras gregas que formam os nomes de fraternidades e sororidades, a banda, as dançarinas, os arranjos… tudo aquilo é típico de um homecoming em uma HBCU. Apresentar uma parte da cultura negra americana ao mundo é importante, mas o objetivo principal era outro: Beyoncé quer mais e mais jovens negros em faculdades.
Em entrevista ao Market Watch, a estudante de uma HBCU, a Universidade Spelman de Atlanta, disse que o Beychella impactou DE VERDADE a vontade dos jovens de entrarem no ensino superior. Quando conversou com meninos e meninas que estavam se formando no colégio, percebeu um interesse bem maior. “O Coachella apareceu bastante nessas conversas!”
E aí, como uma cereja no topo de um bolo, o Spotify ganhou o álbum Homecoming: The Live Album, com a performance do Beychella e, no dia 23 de abril, FINALMENTE teremos Lemonade em todas as plataformas digitais.
O Beychella é, sem dúvidas, um marco na história da música pop e Beyoncé sabia disso desde o comecinho. Assim como sabe que, usando a força e o poder de sua imagem, vai conseguir impactar o mundo cada vez mais. <3