Não que eu seja obrigado a gostar de alguma coisa, ou qualquer coisa. E nem é porque eu queria gostar porque sim… Mas é que eu realmente não consigo gostar. E aqui eu explico os motivos.
Você já se sentiu mal por não gostar de um filme?
Nem falo de um caso em que você esperava algo realmente legal porque seria legal se fosse legal (?), tipo um Batman vs. Superman da vida. Falo mesmo daquele filme que você não gostou por uma série de razões, mas um monte de gente que você gosta e confia gostou e aí você até tenta enxergar o que eles viram pra ver se muda de opinião ou, pelo menos, se perdeu alguma coisa, mas não dá, aí você se sente culpado?
Esse aí sou eu e a minha demora pra escrever sobre John Wick 3: Parabellum, filme que estreou mundialmente nesse último fim de semana, tirou Vingadores: Ultimato do topo das bilheterias e que eu não consegui gostar. De maneira nenhuma.
Eu vou falar porque não gostei nos próximos parágrafos, mas... Eu sinto uma vontade enorme de pedir desculpas. Se minha terapeuta lesse isso, ela provavelmente diria que eu não preciso fazer isso. Então não vou fazer. Mas que eu sinto essa vontade, eu sinto.
Tudo começou em 2014. Um filme, que no Brasil recebeu o equivocadíssimo título de De Volta ao Jogo, contava a história de um cara que teve um carro roubado e seu cãozinho morto por uma galera que passou a ser perseguida no EXATO momento em que saiu daquela casa.
Quem os perseguia era John Wick, um camarada que costumava fazer grandes criminosos de Nova York tremerem só de OUVIR seu nome. Não era à toa ele era conhecido como Baba Yaga, o BICHO PAPÃO.
Seria só mais um filme de ação com um ator famoso lançado diretamente em DVD se, por um acaso, De Volta ao Jogo não fosse tão bom, em todos os sentidos que um filme pode ser bom. Estética, fotografia, coreografia, direção, roteiro. Havia todo um universo sob a busca de vingança de John Wick que só ajudou a tornar o filme mais rico, mais interessante e, claro, uma franquia.
Em 2017 estreou, agora sim com algum barulho por aqui, John Wick: Um Novo Dia para Matar, inventando uma maneira de finalizar o arco do primeiro filme e continuar da maneira que bem entendesse — o que, no caso, significa desenterrar aquele submundo apresentado no primeiro filme e trazê-lo para os holofotes, o que em 2h fica bem difícil de fazer. O resultado é uma história simplista, utilizada apenas e tão somente pra mostrar Keanu Reeves chutando milhares de bundas (quase literalmente, aliás) e enlouquecer o público, enquanto deixa um cachorro no hotelzinho e desperdiça pessoas maravilhosas, como o sommelier interpretado por Peter Serafinowicz, que merecia muito mais do que aqueles 5mins de tela.
Chegamos então a John Wick 3: Parabellum, que em latim significa “prepare-se para a guerra”, mas tem a ver também com uma pistola 9mm (ou foi isso que o Google me disse). O filme começa exatamente onde o anterior terminou, com John Wick correndo contra o tempo — odeio ter de usar isso aqui, mas é literalmente o que acontece –, antes de ser excommunicado e ter sua cabeça posta a prêmio por US$14 Milhões. Não sei se é coincidência, mas é exatamente nesse momento que os problemas do filme começam, mesmo que seja com uma treta maravilhosa numa biblioteca.
John Wick, nesse terceiro capítulo, explica porque quer continuar vivo. É algo a se pensar e levar em consideração quando se tem depressão e ideações suicidas, mas aquele não é o mundo real. Ele foge de quem quer matá-lo, que parece ser LITERALMENTE todo mundo, não tem nenhum descanso... Ele e nós.
Se tem uma coisa que John Wick 3: Parabellum faz bem é cansar. É nos fazer torcer pra que acabe logo. Aliás, é capaz até de o filme AINDA estar sendo exibido na sessão que eu fui — prefiro não conferir. Fica o questionamento: será que não tá na hora de deixar o cara descansar?
Há um momento em que claramente ele não suporta mais — e nem é porque boa parte dos três filmes se passam em uma única semana. Na treta com Yayan Ruhian e Cecep Arif Rahman, indonésios que estiveram em The Raid 2, é bastante ridículo o tempo que demora entre os chutes que ele toma e o salto que dá pra trás, onde destrói uns vidros — uma cena bonita, mas nada além disso, completamente o contrário do que se viu no primeiro filme, em que além de tudo LINDO, era tudo MUITO bem coreografado. A violência tinha razão de existir, fazia sentido. Não era só espetáculo pelo espetáculo, como acabou se tornando.
John Wick não precisa disso. Nem o personagem, nem a franquia.
Ao seguir desenterrando o universo daquela irmandade de assassinos, temos gente como Anjelica Huston comandando uma espécie de outra irmandade que só existe durante aqueles poucos minutos de tela. Tal qual uma simples ferramenta de roteiro, a VENCEDORA DO OSCAR Anjelica Huston serve só pra mandar John Wick pro Marrocos (e fazer ele sofrer mais um bocado), onde um encontro com um novo personagem, Barrada, vivido por Jerome Flynn, dura pouco demais pra todo o potencial que existia naquela interação.
Sabe quando o Ed Sheeran participa de Game of Thrones, só por ser fã? Parece que é isso. E é legal vê-los em cena, mas seria MUITO mais legal se eles tivessem alguma importância como personagens, também.
E aí tem a Halle Berry, responsável por uma sequência ESPETACULAR envolvendo dois cachorros, mas que também desaparece tão rápido quanto surge, mesmo ela tendo alertado pra algumas consequências BEM sérias que teria de enfrentar caso ajudasse John Wick. É como se nada daquilo importasse, no fim. E talvez não importe mesmo. Então por que tá lá?
Tá, tudo bem, podemos questionar algumas coisas que estejam sendo reservadas para o futuro — essa outra IRMANDADE comandada pela Anjelica Huston, nem o Common e nem Ruby Rose aparecem mortos, tem a tal da Juíza (vivida por Asia Kate Dillon), que fez o favor de contratar MARK DACASCOS pra matar John Wick... E tem o Bowery King do Laurence Fishburne, né?
Mas aí era o caso de fazer uma série, e não um filme (ou dois) sem final — e isso não é uma piada com o fato de que sim, o filme ainda não acabou, mais de uma semana depois de eu tê-lo assistido.
Já sabemos que em 21 de Maio de 2021 o Capítulo 4 dessa história chega aos cinemas. John Wick não cumpriu o acordo com o Ancião (que, putaquemepariu, é mais novo que o John Wick e comanda uma irmandade de assassinos de uma tenda no meio do deserto do Marrocos?), mas agora tem uma nova motivação. YAY, MAIS UM FILME!
Mas aí ele vai matar todo mundo que precisa matar, vai escapar de quem quer que esteja querendo matá-lo e vai acabar em um outro cliffhanger? Teremos então um 5o filme, que vai repetir a fórmula só porque sim?
Podiam ter terminado lá no primeiro filme. Resolveram esticar, dar toda uma sobrevida à essa história que nunca teve lá muito pra onde ir, apesar de riquíssima e genial e maravilhosa. É uma descendente a qualidade dos filmes, como filmes e como partes de uma história maior.
Talvez fosse o caso de deixar o cara descansar, né?