A Inteligência Artificial já está em Hollywood e nem Steven Spielberg pensou tão longe | JUDAO.com.br

Como diria o profeta Julinho da Van, “é tudo computador essa porra”

O cinema é um universo mágico em que existe uma quantidade enorme de trabalho e muito investimento. Apostar em qualquer filme em Hollywood exige muita pesquisa de público, baseado no que o estúdio quer fazer e no tipo de retorno que um material desse tipo já teve. Por isso, ao longo dos anos, setores da indústria se especializaram em conhecer todos os pontos que podem fazer um sucesso de bilheteria ou uma bomba financeira.

Agora existem empresas oferecendo serviços que podem evitar esse tipo de erro. E se você é dessas pessoas que reclama da falta de criatividade, é bom estar preparada.

Sediada em Los Angeles, a Cinelytic é uma das empresas que prometem que a inteligência artificial será o melhor produtor de um estúdio. Com um banco de dados recheado de históricos das performances de filmes ao longo dos anos, a empresa cruza informações sobre temas e nomes chave, usando algoritmos para extrair padrões ocultos nos dados. Esse software permite que um produtor insira um elenco e depois troque atores para ver como isso afetaria as bilheterias projetadas para determinados longas.

Basicamente, essas empresas podem tornar as produções cinematográficas uma espécie de Football Manager, em que eles podem escalar a melhor equipe analisando os dados de cada “jogador” e criar algo teoricamente imbatível.

Em uma entrevista para a Verge, o CEO e co-fundador da Cinelytic Tobias Queisser afirmou que o software permite uma comparação com um elenco inteiro e diferentes cenários com diversos atores e atrizes, por exemplo. “Modele os dois cenários com Emma Watson e Jennifer Lawrence, e veja, para este filme em particular... que tem melhores implicações para diferentes territórios”, completou.

Nos últimos anos, surgiu uma quantidade considerável de empresas com serviços semelhantes à estúdios em diferentes setores. Fundado na Bélgica em 2015, o ScriptBook diz que seus algoritmos podem prever o sucesso analisando apenas o roteiro. Fundada no mesmo ano, a startup israelense Vault promete prever quais dados demográficos assistirão aos seus filmes – entre outras coisas – pelo rendimento dos trailers online. Já uma empresa chamada Pilot oferece análises parecidas, prometendo receitas de bilheteria até 18 meses ANTES do lançamento com “precisão inigualável”.

Mas os estúdios estão começando a usar inteligência artificial por conta própria. Em Novembro de 2018, a 20th Century Fox explicou como usava a inteligência artificial para detectar objetos e cenas dentro dos trailers e prever qual “microssegmento” de uma audiência acharia aquele filme mais atraente. Isso significa que os estúdios estão prontos para oferecerem temas específicos para públicos cada vez mais específicos. Mas esses métodos da 20th Century Fox foram apontados como imprecisos por levantarem tags inúteis, como “carro”, “barba” e até “árvore”. Claro, como toda tecnologia, esta também precisa de aprimoramentos.

Isso significa que todas as produções montadas a partir destes sistemas serão sucessos garantidos de bilheteria? Não, porque o gosto do público é bastante mutável e nada é 100% confiável quando falamos sobre sociedade. As empresas entrevistas pela Verge se recusaram a fazer qualquer previsão sobre os longas que entrarão em cartaz nos próximos meses.

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Em 2016, um artigo acadêmico afirmou que previsões confiáveis sobre lucratividade podem facilmente serem feitas usando informações básicas, como o tema e o elenco. Mas o artigo também confirma que essas estatísticas podem ter falhas. Por exemplo, não precisam fazer uma análise aprofundada sobre o sucesso de Tom Cruise, certo? Fora que algoritmos analisam apenas o que funcionou no passado, não conseguindo explicar mudanças culturais que ainda acontecerão, o que pode tornar o próprio algoritmo ultrapassado.

Por outro lado, o ScripBook compartilhou previsões bem sucedidas feitas em 50 filmes lançados entre 2017 e 2018. Enquanto a indústria conseguiu uma taxa de precisão de 44% baseadas nos seus próprios algoritmos, o ScripBook “adivinhou” corretamente o que um filme ganharia em 86% do tempo. Mas, apesar do software acertar o sucesso, nem sempre ele acerta os números em bilheteria, como foi o caso de Corra!, de Jordan Peele. Enquanto a empresa previu U$ 56 milhões, o terror arrecadou U$ 176 milhões. E aí, pensando nisso de padrões e no elenco e significado do filme, fica bem ÓBVIA a raiz do erro, né? :)

Apesar desse processo ainda ser olhado com certo ceticismo por parte de Hollywood, a situação parece estar mudando quando empresas como Netflix se gabam da sua programação baseada em análise de dados. Reconhecidamente, a empresa de streaming monitora as ações dos seus assinantes e sabe que tipo de material eles querem ver.

Se esse realmente for o futuro da produção cinematográfica, essa inteligência artificial pode ser usada como uma ferramenta complementar e não o responsável pela decisão final sobre um filme. Imagine se todos os estúdios decidiram usar os mesmos algoritmos nos mesmos temas e com o mesmo tipo de elenco? Isso abre espaço para uma pasteurização ainda maior da indústria cinematográfica. E definitivamente não queremos isso.