Stranger Things 3 é tão boa quanto as duas primeiras temporadas | JUDAO.com.br

A série, atual QUERIDINHA do Netflix e de seus fãs, continua extremamente ruim como série, com os mesmos defeitos das temporadas anteriores. A diferença agora é que é tudo no verão e colorido, o que pelo menos dá espaço pra respirar… :P

Logo no início de Stranger Things 3, enquanto a série ainda redefine seu universo em algo quente, colorido e longe da escola, uma mulher casada, mãe de três filhos, não consegue deixar de contribuir para o aumento da umidade relativa do ar sempre que o jovem e descamisado guarda-vidas da piscina pública assume seu posto.

Da parte dela, não é nada além de uma coisa platônica, saudável até, em que ver e ser visto faz parte de um jogo no qual todos ganham de um jeito ou de outro. Da parte dele — um jovem, inconsequente e bonito — porém, transformar aquilo em algo mais... PALPÁVEL talvez seja mais interessante. E não é como se fosse difícil de convencer uma mulher casada, três filhos, de que realmente é.

Um encontro é marcado naquele mesmo dia, à noite. Ele pega o seu CARANGO IRADO e vai ao lugar marcado; ela se arruma, se maquia, se sente bonita, até perceber o marido caído de sono abraçado com a filha mais nova no sofá. O momento é ENTRECORTADO por um acidente de carro, com o tal jovem que está lá dentro. É quando tudo começa a degringolar para a história, dentro e fora dela, e nós nunca mais temos qualquer mínima referência à mulher casada, com três filhos, que por muito pouco não traiu a relação com seu marido.

Falando assim não tem significado muito grande, é só um recurso do roteiro pra colocar o garoto na estrada aquela hora da noite. Funciona mesmo. O problema é que a tal mulher casada e mãe de três filhos é a Sra. Wheeler (Cara Buono), mãe da Nancy e do Mike, dois dos protagonistas da série. Era de se esperar que algo tão grande e importante assim tivesse alguma importância e grandiosidade pra trama... Mas não. Resumiram tudo a uma maneira simples pra mostrar que o tal moleque — Bill (Dacre Montgomery), o irmão da Max — saiu de casa.

Fizeram a mãe do Mike e da Nancy quase trair o pai deles pra tirar o moleque de casa e fazê-lo sofrer um acidente... E é isso aí mesmo. Não há consequências, é como se aquilo não fosse nada de mais. É o equivalente (ainda que em BEM menor escala) ao episódio 7 da segunda temporada: péssimos roteiristas tendo ideias com as quais não sabem lidar.

Stranger Things 3 repete os exatos mesmos erros das duas primeiras temporadas. Com uma escrita ridiculamente fraca, a série usa de muleta desde o seu primeiro episódio as referências e “homenagens” aos anos 80 pra contar sua história.

Nessa terceira temporada, porém, conseguiram diminuir um pouco essa dependência, mesmo com um tipo Terminator causando pela cidade e o Hopper se vestindo de Magnum P.I. Dessa vez são os anos 80 como um todo que servem de muleta para a série, que continua dependendo de tudo isso pra contar sua história fraca e arrastada. É como os monstros que a série apresenta a cada nova temporada: cortando a ligação com o “cérebro”, os bichos simplesmente caem e morrem.

Tirou referências, tirou anos 80, a série vira um filme de no máximo 40mins. Aliás, me questiono se Stranger Things não deveria ter sido JUSTAMENTE isso...

É inegável, porém, que o Verão de 1985 ajuda a pelo menos fazer a série respirar. Com toda cor e calor, Stranger Things conseguiu se expandir em termos de localizações, mesmo inventando um núcleo que passa a maior parte do tempo enfiado a trocentos metros abaixo da terra.

Esse núcleo, aliás, é o mais divertido e interessante da série — e me faz perguntar se isso foi de propósito. Dustin (Gaten Matarazzo), Steve (Joe Keery), Robin (Maya Hawke, filha da Uma Thurman YOU CAN’T UNSEE THAT) e Erica (Priah Ferguson) formam o grupo mais aleatório do universo mas, ainda assim, funcionam todos juntos e muito bem. Talvez sejam mais um alívio cômico? Talvez. Mas todos os outros núcleos são meio assim... Só esse que funciona de verdade.

Por exemplo, o do Hopper (David Harbour) e da Joyse (Winona Ryder) pra mim continua contendo um pai abusivo, um homem com sérios problemas de raiva, e uma mulher tendo de lidar com tudo isso — deixando, aliás, de ser a personagem perturbada da primeira temporada. Mais fácil escrever alguém sem muitas camadas?

Aí tem o que eu vou chamar de núcleo principal, da molecada, ainda que em Stranger Things 3 eles não estejam tão principais assim. Lucas (Caleb McLaughlin) e Max (Sadie Sink) são os melhores em DIVERSOS sentidos; o Will (Noah Schnapp), coitado, parece que resolveram deixar ele fazer alguma coisa ENFIM, mas não adianta muito. A ÚNICA coisa realmente importante que sobra pra ele, bem, o menino costuma silenciar sobre. Aí fica difícil, né?

Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton) completam esse núcleo, inicialmente com uma historia própria, que poderiiiia ir a lugares interessantes mas adivinha só? É um show de horror o roteiro dessa série, putaquelamerda. São trocentas histórias acontecendo ao mesmo tempo, se unindo nos dois últimos episódios... Sendo que a maior parte delas passa por vários episódios pra andar muito pouco ou quase nada; são trocentos capítulos em que os personagens mal mudaram do início pra agora. Talvez só a Eleven (Millie Bobby Brown) tenha alguma evolução mais clara, mas isso porque ela saiu de alguém que não falava e não tinha cabelo pra alguém que beija e com cabelo comprido. Fora isso?

Stranger Things conta, desde o início, uma história realmente simples. Tudo o que poderia ser adicionado a ela, porém, vai para as referências e ambientação, o que acaba funcionando com a maioria das pessoas — essa nostalgia festiva é REALMENTE uma coisa.

A série, verdade seja dita, até tentou alguns OUTROS caminhos, como no S02E07 ou mesmo nos assuntos de feminismo / relacionamento dessa terceira temporada. Mas, no fim, são todas apenas e tão somente ideias jogadas ali, algumas servindo pra dar um ou dois passos na história, mas todas sem nenhum retorno, sem nenhum payoff, sem nenhuma razão. São diversas ideias jogadas fora pra poder fazer uma coisa simples de monstro acontecer.

Se mais alguém, como eu, não compra a ideia da nostalgia, a série fica completamente vendida, sobra muito pouco. Muito mesmo. Quase nada... Então, pra que continuar, né? Prometo que, se rolar essa quarta temporada (a gente sabe que vai), escalamos alguma outra pessoa pra escrever sobre ela aqui no JUDAO.com.br.

Por mim, já deu. :P