Mais uma vez, artistas se juntam para homenagear uma lenda. Dessa vez Hayao Miyazaki, o grande criador japonês e as obras primas do Studio Ghibli.
Uma das primeiras coisas que uma criança ~aprende~ a fazer na vida é desenhar. Você nem sabe andar, quanto mais falar, e já está lá, segurando com todos os dedinhos, rabiscando um papel, uma parede, o nariz do papai. Giz de cera, canetinhas, lápis de cor, tintas não tóxicas, feijão, papinha… Qualquer coisa servia para fazer aqueles desenhos que eram o orgulho dos pais corujas.
O tempo vai passando e alguns largam isso de lado para fazer outras coisas, outros continuam e vão, aos poucos, mostrando algum talento nisso. Desses, a primeira coisa era desenhar os personagens favoritos. Todo desenhista começou sua carreira copiando personagens, colocando um pouco — ou muito — de seu próprio talento naquilo. Eu sei como é, cresci com um irmão artista e conheci tantos outros ao longo da vida.
E quando esses caras, se juntam para relembrar os velhos tempos, e resolvem homenagear personagens e criadores que mexem tanto com eles, o resultado é nada menos que sensacional.
Essa onda, que começou com os famosos MSP 50 (coleção de histórias curtas, com os personagens de Mauricio de Sousa, feitas por cinquenta artistas brasileiros), e depois se espalhou com outras homenagens, que levam o nome de “Collabs”. Quando postamos uma dessas colaborações que homenageava a obra máxima de Akira Toriyama — Dragon Ball Z —, também contando com cinquenta artistas, já sabíamos qual seria o próximo grande criador a ganhar um projeto assim.
E não podiam ter escolhido melhor.
Existem alguns seres humanos que estão num olimpo inalcançável. Homens que criaram universos e personagens, imprescindíveis na formação do caráter de muita, muita gente. Além de Tolkien, Mauricio de Sousa, Akira Toriyama e Walt Disney, está um gênio contador de histórias chamado Hayao Miyazaki. (Acho que incluiria aí o Shigeru Miyamoto também, para não ser injusto). Eles criaram e possibilitaram tantas histórias fantásticas que a obra ganhou vida própria. São aqueles casos em que a obra se torna um patrimônio emocional dos fãs.
A obra de Miyazaki é gigantesca, com um carinho e um amor dignos da Pixar. Eu aliás, costumo chamar a Pixar de Studio Ghibli do ocidente, porém a menina dos olhos de John Lesseter ainda tem que trabalhar um pouco para conseguir o que Miyazaki conseguiu. Sim, ele é gigante a ESSE nível, e quanto a isso, acredito eu, há pouquíssimo espaço para discussão.
Como eu citei lá em cima, quando conversei com o Vencys Lao sobre o projeto DBZ 50, ele me disse que aguardasse o próximo ‘projeto’. Só que dessa vez seriam mais artistas e um formato diferente. Tentando não ter um troço, no ínterim, esperei calmamente, até ser chamado para entrar no grupo onde os artistas iam, as poucos, mostrando o progresso das artes, sugerindo mudanças e pedindo dicas e críticas. É bem legal ver um trabalho verdadeiro de colaboração entre artistas tomando forma. Os quadrinistas independentes no Brasil se mostram, cada vez mais, unidos, como uma classe que se ajuda em busca de diversão e boas oportunidades para todo mundo. “Eu tive uma experiência incrível e quero ajudar outros artistas novos assim como me ajudaram.” contou Gustavo Borges, um dos novos artistas que participam do projeto.
O JUDÃO conseguiu com exclusividade alguns dos desenhos — que estão ilustrando esse post —, que será oficialmente lançado amanhã, 12 de Abril.
“Primeiro vem essa necessidade de homenagear o artista, um modo de agradecer pela inspiração.” Foi o que disse Vencys Lao, um dos idealizadores dessa homenagem a Hayao Miyazaki, junto com Thiago Heinrich.
Dessa vez são 70 artistas, nacionais e internacionais, que estão participando do projeto. Setenta impressões pessoais e releituras de personagens e obras do grande mestre. Entre os artistas, temos alguns nomes como os irmãos Vitor e Lu Cafaggi, Eduardo Damasceno (um dos autores das novas Graphics MSP), e Mário Cau. Além do pessoal um pouco rodado, temos novos artistas como Gustavo Borges, Fernando Peque, Rodrigo Pascoal, Julio Almeida, Yuri Suematsu — com uma aquarela linda de morrer –, Mika Takahashi, João Bosco — que, com toda certeza, tem uma das artes mais incríveis do projeto — e mais muita, muita gente boa.
Participam também alguns artistas de fora. “Temos o português com alma brasileira, Afonso Ferreira. Ele trabalha com quadrinhos e ilustrações por lá. Jerrod Maruyama, que faz trabalhos de ilustração pra Disney e comanda toda parte de arte do blog The Pixar Times.” disse Vencys “Temos ainda o tailandês Kasidej Hempromaraj, que tem um trampo lindo demais com cores.”
Se me colocassem para escolher 3 artes, ou artistas, para sei lá, contratar ou comprar algo deles, eu pediria demissão e fugiria para o fundo do mar. É impossível. De todos os ‘Colabs’ por aí, esse é, na minha opinião, o melhor. O nível é absurdamente alto e babei em praticamente todos os desenhos que eu vi surgirem no grupo de facebook do projeto. Para você entender como eu fui privilegiado por ver isso e por poder entender um pouco de como é uma cacetada de gente talentosa trabalhando ~junto.
Conversamos um pouquinho com alguns dos artistas, Fernando Peque — veja o trabalho dele e comece a entender um pouco do nível desses artistas — que contou um pouco de como é seu processo criativo.
“Eu sempre começo com alguma inspiração. Se eu já tenho algo bem claro na minha cabeça eu aqueço 30 min a uma hora com uma pintura ou desenho, poses de fotos da internet. Logo após, mergulho no assunto que quero desenhar ou pintar.”
Peque também falou da exposição que um trabalho assim pode dar a um artista, mas com uma ressalva “Pra mim é difícil pensar em fazer parte de uma ‘colab’ só pra servir como vitrine, sem gostar do assunto sabe?” Ele completou dizendo que prefere muito mais fazer um trabalho que o deixa feliz do que simplesmente um que só iria fazer sucesso em redes sociais.
Um velho conhecido nosso, Vitor Cafaggi, falou da importância de projetos assim “Não deixa de ser uma vitrine pra todo mundo que está participando. Conheci o trabalho de muita gente boa com as collabs do Dragon Ball, a do Cartoon Network (que tá incrível) e com uma do Game of Thrones que acabou de sair. Do mesmo jeito que eu vi, editores e editoras podem ver esses desenhos.” É realmente a junção de muita coisa boa junto. Desenhistas talentosos, personagens eternos, obras com milhões de fãs fanáticos. Tudo isso junto, não tem como dar errado.
Cafaggi também disse que apesar de ser divertido, a qualquer momento, desenhar seus personagens favoritos, você acaba procrastinando e o desenho vai ficando de lado. “Esses projetos de colaborações são bem legais pra isso. Eles fazem com que essa vontade de desenhar determinado personagem se torne uma realidade.” disse ele.
Um dos novos artistas, que fazem parte dessa homenagem, é Gustavo Borges. Quadrinista independente que está começando a aparecer para um público maior agora — você pode conhecer mais do trabalho dele aqui –, e as ‘Colabs’ são uma ótima porta de entrada. “Acredito que para qualquer quadrinista, com pouco tempo de mercado, uma oportunidade dessas é ouro, ainda mais sendo que a grande maioria dos artistas presentes no “Colab” são artistas de peso!” Gustavo também afirmou que espera que o projeto atinja um sucesso imediato, até pelo tamanho e alcance que a obra de Miyazaki.
Lembrando mais uma vez, o projeto será lançado amanhã, 12 de abril, na FanPage e no Tumblr. A cada dia, durante uma semana, 10 novas artes serão postadas. Uma maneira inteligente de manter todo mundo de olho, porque sinceramente, o nível vai surpreender muita gente que acompanhar o projeto.
Não deixe de acompanhar, mostrar pra todo mundo. E principalmente, que esse tributo à obra do genial Miyazaki, te dê vontade de ir atrás para conhecer mais de sua obra e a do Studio Ghibli. Das criações, das participações e da vida dele.
Ele diz que se aposentou após Vidas ao Vento, mas a gente torce para que, mais uma vez, ele desista disso e nos brinde com outra obra-prima.