Um Monstro que podia ser do pântano, do córrego, do riacho ou da lagoa | JUDAO.com.br

Seria legal se fosse Alan Moore. Tá bom, não foi. Mas pelo menos podia ter se decidido, ao longo destes 10 episódios, o que diabos queria ser, né?

SPOILER! Eu sempre considerei o Monstro do Pântano como se fosse algo como o Surfista Prateado da DC — ou, trazendo para a nossa realidade brasileira, o Horácio da casa do Superman. Um personagem que nasceu de um jeito mas depois se transformou narrativamente de tal forma que acabou se tornando uma espécie de filósofo informal. Aquele personagem dentro de uma ambientação clássica de HQs que permitia discutir assuntos mais amplos, profundos, cabeçudos, cabeludos, sobre a vida, o mundo ao nosso redor, sobre quem somos nós e para onde vamos.

Por isso enxerguei na série do monstrengo na DC Universe, logo de cara, uma abordagem que desperdiçava o grande potencial que o personagem tinha. Tá bom, admito, depois de uma loucura como foi a série da Patrulha do Destino, eu esperava que os produtores / roteiristas fossem mesmo se dar ao luxo de se soltar mais. O começo foi BEM do morno, conforme escrevi aqui. Mas, OK, fui teimoso e continuei acompanhando a bagaça.

Pra quê, mesmo?

Bom, vejam. Se a série tivesse tentado manter a pegada mais de horror, retomando os primórdios do personagem e também a experiência do produtor estrelado James Wan, que assina alguns dos filmes mais “vendáveis” do gênero nos últimos anos, juro que eu aceitaria numa boa. Continuaria achando um desperdício do material original, em especial da fase do Alan Moore que os responsáveis pela série diziam que iam adaptar? Continuaria sim, aquilo tinha potencial de piração pura, pra ser ainda mais piração do que a Patrulha. Mas, OK, a vida não é só como a gente quer, segue o jogo. Que fosse um terror mais pop, um terror mais Supernatural, com o monstro da semana, coisa e tal, tá tudo bem.

O grande caso é que não foi nem isso. Quer dizer, o grande problema é que a série não conseguiu se decidir o que queria ser, atirando para todos os lados e infelizmente tornando Alec Holland num monstro genérico — do tipo que a gente podia trocar de nome e colocar no ar que, sinceramente, daria no mesmo.

Uma pena.

Monstro do Pântano, quando anoitecia, se esforçava pra ser meio terror, subia a música, colocava coisas escondidas se mexendo no fundo, dando uns sustos meio forçados aqui e ali. Mas o esforço durava pouco porque, a seguir, queria retratar a criatura misteriosa dos pântanos de Marais como um super-herói, que usava seus poderes para salvar o dia da escuridão sem muito nome ou explicação que começou a surgir nos bosques úmidos e enlameados da pequena cidade.

Só que se o lance era então ser super-herói de vez, por mais cagado que isso fosse, por que então não assumir de vez? Entra de cabeça nesta ideia aí, pô. Era muito pouco tempo pra tentar fazer tantos testes narrativos e, no fim, falhar miseravelmente em todos eles.

Isso sem falar, claro, nas MUITAS tramas paralelas que, vamos ser honestos, não acrescentaram em rigorosamente NADA ao andamento total. Vejam, eu AMO o personagem nos gibis originais, a escolha do Ian Ziering pra papel foi maravilhosa, mas tinha necessidade ALGUMA da construção da aparição do Demônio Azul? Precisava mesmo? A tal “salvação” era só aparecer, matar um monte de capangas espalhando os membros dele pela sala com muito sangue e sumir? Era isso mesmo?

E aí, no fim da série, Dan Cassidy some de um jeito tão repentino quanto entrou. Sem fazer falta. Era uma aposta para uma futura série spin-off, tal qual Rapina e Columba em Titans? Simplesmente não dá pra saber.

O mesmo vale para o policial Matt Cable sendo o “filho bastardo” do milionário escroto Avery Sunderland. Para as poucas e enigmáticas aparições da Madame Xanadu. E principalmente para Macon Blair interpretando um alguém esquisito que pinta pra fazer o Demônio Azul cumprir sua promessa, pra fazer pirar o Monstro do Pântano, um alguém que EM TEORIA seria associado ao Vingador Fantasma e que some simplesmente sem deixar vestígios.

Sabe o que parece, no fim? Que esta bagunça toda eram os produtores querendo deixar vários pequenos ganchos para serem desenvolvidos nas próximas, assim mesmo, no plural, temporadas. E esta é, sejamos honestos, uma das tragédias do mercado do entretenimento — pensar sempre no plural, num filme que fará parte de uma vindoura franquia ou então de um universo estendido, de uma série que vai ter múltiplas temporadas, num gibi que vai ter dezenas de desdobramentos. Aí, ao pensar tanto no macro, os caras não conseguem entregar o micro, que é uma boa história fechada, com começo, meio e fim. O que fica é um milhão de pontas soltas que são apenas gordura no roteiro.

No final, ainda foram COVARDES e nem sequer fizeram a Abby e o Monstro do Pântano darem uma porra dum beijinho sequer. Ah, PELAMADRUGADA. “Estamos juntos para continuar combatendo as forças do mal”. PORRA, GALERA. Já sabiam até que a série ia acabar, por que não ousar um pouco mais, então?

Ah, sim, pera: tem a tal da cena pós-créditos no episódio final. Uma que os produtores disseram que era incrível, maravilhosa, sensacional. Mas que os leitores de gibis já tinham certeza absoluta de qual era. E que os não-leitores de gibis também meio que já imaginavam à medida que o capítulo de encerramento vai se desenvolvendo. Nada de muito UAU. Mas vejam: temos um vilão potencial (o Homem-Florônico, pra gente dar logo nomes aos bois) bem interessante que, conforme a tal cena sugere, é menos um cientista louco perdido em devaneios sobre um mundo ~melhor e mais um monstro de dentes afiados, um devorador de gente. Sério? Outro desperdício supremo, logo de um dos poucos atores que brilharam na série (Kevin Durand merecia um abraço por isso).

Bom, melhor, então, que tenha acabado assim, evitando outra catástrofe. Mais sorte na próxima, menino Wan.