Depois daquela temporada 4 simplesmente perfeita, os caras suaram pra entregar uma temporada 5 que a gente teve que suar pra ver. Nesta 6a, portanto, dava pra ter aprendido com os erros passados? Pois é, mas nem deu.
SPOILER! Dia destes, conforme a temporada de número 6 de Agents of SHIELD se aproximava de seu season finale, um transeunte aqui do JUDAO.com.br me procurou com um questionamento. “Escuta, assim como vocês são um dos únicos sites de cultura pop que fala recorrentemente de Legion, vocês também foram os poucos que se mantiveram falando de AoS. Mas este ano, nem sinal, nem quando a série estreou o novo ano. O que rolou?”.
Eu prometi que falaria a respeito publicamente. Assim: GERALMENTE, o que no entanto não é uma regra escrita em pedra, a gente costuma escrever no site sobre as estreias das temporadas das séries que acompanhamos e, lá na frente, então falamos sobre o ENCERRAMENTO daquele ano. Em alguns casos, se tivermos algo legal rolando nos episódios que rolam pelo meio, novos personagens, uma mensagem importante, um desenvolvimento narrativo legal, a gente retoma o assunto. Rola com o Arrowverse, com Legion, com Preacher, agora tá rolando com as séries do DC Universe. Mas, como eu disse, não é REGRA.
Não é regra porque, vamos lá, precisamos ter o que dizer, né? Não adianta escrever um texto só por escrever, pela obrigação da coisa toda. Então, assim: eu acompanhei os treze episódios desta sexta temporada de Agents of SHIELD, semana a semana. O primeiro, que foi BASICAMENTE “olha, trouxemos o Coulson de volta só que como vilão”, não foi nada além disso. Aí pensei: “ah, vou esperar os três primeiros episódios, então, pra fazer um apanhadão”. Mas não rolou, gente. E não rolou basicamente nada até agora. O que é, de verdade, uma pena. Porque esta sexta temporada teve minimamente BOAS IDEIAS. Mas não soube, nem de longe, executá-las.
“Heróis somos nós que sobrevivemos à essa 5a temporada”, disse o Borbs no texto a respeito do ano anterior, que de fato foi duro de aturar. “Como é que conseguiram fazer uma quinta temporada TÃO ruim depois daquela quarta que beirou a perfeição?”, completou ele, lembrando da lentidão extrema que acabou se revelando um retorno tenebroso à dependência do MCU lá nas telonas, para tentar criar uma conexão com Vingadores: Guerra Infinita.
Deste mal, minimamente, AoS não sofreu nesta sexta temporada, é bom que se diga. Não existe uma referência sequer aos snaps do Thanos ou mesmo um blip, nada do tipo. Decidiram, como na temporada 4, caminhar com as próprias pernas, criar suas próprias tramas — e chegando a fazer um arco que não conversa com rigorosamente NADA visto até o momento nos gibis, algo que se conecta com os tais MONOLITOS das outras temporadas e revela um povo sem corpo de uma outra dimensão que gostaria de fazer da Terra a sua morada, assumindo OS NOSSOS CORPINHOS, tudo mais, tal e coisa, coisa e tal. Meio esquisito, mas até que fazia sentido. NA TEORIA.
Mas o segredo pra entender o imenso NHÉ desta sexta temporada tá no vídeo que o Borbs fez pra falar da quarta temporada. Assiste aí e depois a gente continua conversando.
Então: onde AoS errou desta vez, por mais que tenha feito inclusive uma temporada quase 10 episódios MENOR do que a anterior, foi em se esquecer do tal do desenvolvimento de personagens. A temporada 4, com a divisão por pods/arcos, tornou tudo mais dinâmico? Claro que sim. Mas isso de nada teria adiantado se os roteiros não estivessem focados muito mais nos personagens do que na ambientação. Este sexto ano de Agents of SHIELD pegou um monte de boas ideias, as tornou complicadas pra cacete e resolveu trazê-las para o papel de protagonistas. Se isso não é uma cagada, olha...
Mais do que tornar tudo bastante cansativo com uma história principal que demandava mais e mais explicações e explicações para fazer um mínimo de sentido, criando camadas intermediárias de compreensão que só atrapalharam todo o desenvolvimento (“não, não são morcegos alienígenas, na verdade são seres que nos transformam em zumbis sem alma para então preparar os nossos corpos para os bichos que vêm de outra dimensão e que...”), personagens como a Agente May e a Daisy/Quake passaram quase que a totalidade destes 13 episódios totalmente jogadas pra escanteio.
Aí temos o Sarge, o Coulson maligno vindo de outro lado da galáxia ou algum porra assim, que trouxe consigo três novos personagens que eram totalmente WHATEVER, mas que tomaram um tempo tamanho sendo contextualizados e explicados quando se podia gastar muito mais tempo com OUTRAS coisas. Isso sem falar num triângulo amoroso bem do esquisito que inventaram pra Yo-Yo e pro Mack — que teria sido um diretor INCRÍVEL, caso tivesse o devido destaque na trama para a sua posição de liderança. Valia bem mais tê-lo interagindo com o cientista cabeça-dura que apareceu em pouquíssimos episódios, alardeado como a solução pros problemas da equipe, e depois fez PUFT quase que sem explicação, né?
Sabe quando AoS acertou a mão MESMO? Quando Fitz e Enoch foram parar na Las Vegas interplanetária de Kitson, numa mistura de ação e humor num clima quase Guardiões da Galáxia. Quando Deke Shaw enfim reapareceu, se tornando um dos novos personagens mais interessantes até o momento, e descobrimos que ele se tornou um milionário com sua start-up de tecnologia só com materiais que ele trouxe do futuro e/ou da própria SHIELD. E quando tivemos o maravilhoso episódio 6, Inescapable, no qual as mentes de Fitz e Simmons se conectaram, compartilhando memórias de seus tempos de faculdade, quando começaram a trabalhar juntos, num episódio divertido e emocionante... Ali eu pensei: “pô, agora vai”. Mas foi só até o fim do episódio mesmo...
Sim, sim, você entendeu direitinho, esta temporada teve novamente Fitz e Simmons, basicamente (além de seu neto, né, já que os diálogos de Zeke e Fitz eram um oásis neste deserto de péssimas ideias), como principais personagens. O que era de se esperar, já que ambos foram os que mais cresceram ao longo dos últimos anos, justamente os que melhor se desenvolveram. Mas vamos ser francos: estes momentos funcionaram porque foram aqueles nos quais tivemos mais foco nos personagens. Na verdade, estamos falando de pedaços de trama que não estavam EM NADA ligados à trama principal, dos morcegos aliens que entravam pela boca das pessoas, do Sarge e da rainha maléfica dos cabelos cor de rosa...
E aí que Agents of SHIELD encerra a sua sexta temporada rumo à sétima e ÚLTIMA, a derradeira, com a nave Z1 transformada numa máquina do tempo e levando nossos heróis para a Nova York dos anos 1930. E dando a entender que os Chronicoms, os seres sintéticos da mesma raça de Enoch, agora sem lar, vão caçar os agentes da SHIELD ao longo da história. Viagem no tempo não te lembra nada? Talvez, assim, um filme recente dos Vingadores?
OHBOY. E lá vamos nós de novo retomar as correntes com o MCU. Daí pra termos um encerramento totalmente melancólico é um pulo.
E pensar que tivemos AQUELA temporada, senhoras e senhores. AQUELA.