Em seu primeiro longa como diretora, Bárbara Paz mistura saudade, amor e admiração pelo homem com a admiração pelo cineasta e é difícil delinear onde começa um e termina o outro, em uma celebração à carreira e vida de Hector Babenco muito difícil de não ser compartilhada.
Antes da sessão maravilhosamente cheia na Mostra de SP, encontrei a atriz e diretora Bárbara Paz circulando de óculos escuros no Cinearte. Me bateu vontade de dizer: “ei, estou indo ver seu filme!”, mas achei melhor ficar quietinha e ir para a fila. Antes do filme começar, Paz se dirigiu à plateia – claramente maravilhada por ver a sala cheia – para dizer que esse era um filme sobre amor. E que amor.
Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou se aprofunda lindamente nos últimos anos de vida de um dos cineastas mais importantes da história, com comentários feitos pelo próprio diretor sobre a (sua) vida, a (sua) morte e o (seu) cinema. Com o próprio Babenco conversando sobre si mesmo, o diretor expressa seus medos mais profundos e se coloca em uma posição única antes de sua morte ao falar sobre suas memórias pessoais e profissionais, fazer reflexões sobre seu trabalho e expôr suas fantasias do pré e pós-morte.
Em uma decisão tomada em conjunto com o diretor quando ele ainda estava vivo, Paz optou por um filme em branco e preto que realmente colaboram para nos mergulhar nas memórias de Babenco. Com uma edição que intercala filmes do diretor e suas reflexões, o documentário mostra como ele usou o cinema para expandir sua própria vida e se tornar eterno.
Segundo ele mesmo, Babenco sobreviveu pelo cinema.
Com uma edição bastante precisa e lindamente estilizada, o documentário soube usar os filmes do diretor para nos contar sua própria vida antes da morte. Suas produção estão inteiramente ligadas à sua história pessoal e o documentário faz um incrível trabalho em usar o seu cinema para nos conduzir em suas ponderações.
Em seu primeiro longa-metragem como diretora, Paz teve muita delicadeza em mostrar os momentos mais íntimos de Babenco na luta contra sua doença. O documentário mostra algumas cenas do diretor hospitalizado e lidando com suas dores, diversos remédios e perda de força física, apesar de ainda mostrar muita lucidez.
Porque além de uma celebração merecida à sua carreira fantástica, esse documentário extraordinário é principalmente uma celebração à sua vida pelas lentes de alguém que o ama profundamente. Existe um encanamento que é difícil não compartilhar com a diretora e nos faz sofrer novamente por sua perda. Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou é um documentário lindíssimo, doce e profundamente triste sobre a perda de um cineasta brilhante e, principalmente, a perda de um grande amor. Esse misto de saudade, amor e admiração pelo homem se mistura com a admiração pelo cineasta e é difícil delinear onde começa um e termina o outro.
Esse amor está presente em cada imagem capturada por Paz e, consequentemente, em cada cena dirigida por Babenco introduzida no filme. Foi impossível segurar as lágrimas quando o desejo do diretor em ter um grande jantar entre amigos para se despedir da vida se realiza mesmo depois de sua morte. Assim como o filme, o jantar é uma celebração à quem ele era e sempre será a partir dos seus filmes. Assim como ele sempre quis.
No fim da sessão, Paz estava no canto da sala escura, ouvindo o público bater palmas pela segunda vez ao seu filme. Novamente, me bateu a vontade de dizer: “Ei, vi seu filme! Obrigada por isso.”