Dias de um Futuro Esquecido: a HQ que inspirou o novo filme dos X-Men | JUDAO.com.br

Aproveitando a estreia do longa-metragem, resolvemos relembrar a HQ que deu origem a tudo

Hoje (22) estreia o novo filme da saga mutante nos cinemas, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Como você sabe (ou imagina), a produção é inspirada em um dos mais famosos arcos da equipe da Marvel nos quadrinhos. Mas... Você conhece a HQ?

Claro, nenhum texto nosso substitui a leitura do clássico oitentista, mas aqui vai um relato judônico (com SPOILERS!) da saga – pra não só te preparar pro filme, mas te instigar a ler o gibi. ;)

Antes, claro, uma contextualização: os X-Men antes do final dos anos 70 era uma equipe de segundo (quiçá terceiro) escalão da Casa das Ideias. Criados nos anos 60 por Stan Lee e Jack Kirby como uma alegoria para a questão dos negros nos EUA, os mutantes sempre tiveram menos atenção dos leitores que Vingadores, Quarteto Fantástico e Homem-Aranha, por exemplo. Tanto é que, em meados dos anos 70, a editora parou de produzir histórias novas e passou a republicar HQs antigas com o grupo.

Isso mudou a partir de 1975, com a introdução dos All-New, All-Different X-Men por Len Wein e Dave Cockrum – agora com integrantes de todas as partes do mundo – foi a energia que o título precisava. Em seguida, veio o roteirista Chris Claremont. Tempos depois, o artista (e, depois, co-roteirista) John Byrne. Nascia a fase mais épica dos X-Men.

Essa história, com mais detalhes, nós contamos ano passado aqui no JUDÃO, nos 50 anos do lançamento de X-Men #1.

Chegamos em 1981. O relacionamento entre Claremont e Byrne já não era o dos melhores. Dá pra dizer que, de certa forma, aquela união foi o equivalente dos quadrinhos a Lennon-McCartney. Havia diversos pontos de tensão entre eles. Alguns mais simples, como o fato do Byrne querer dar destaque para o Wolverine enquanto Claremont queria ver a Tempestade como protagonista.

Só que o problema mais grave era outro. Depois de algum tempo trabalhando juntos, ficou decidido que ambos criariam o plot da história juntos. Depois, Byrne desenharia a história e Claremont fecharia o roteiro final antes da publicação. Só que, basicamente, era Claremont que definia o que entrava ou não, o que era dito ou não.

O auge de uma era e dos problemas

Ainda assim, os dois se aturavam. Tanto é que a ideia do que depois seria Dias de um Futuro Esquecido surgiu de John Byrne ainda durante a Saga da Fênix Negra. O plot inicial foi imaginado, mas, antes da publicação – mais exatamente em Uncanny X-Men #140 – Byrne pediu pra sair. Ele ficou indignado ao ver que Claremont havia escrito um diálogo que mostrava a dificuldade do Colossus ao arrancar uma árvore – enquanto ele havia desenhado isso de uma forma que demonstrava a facilidade do ato. Foi a gota d’água.

Assim, Dias de Um Futuro Esquecido se tornou a última página da mais importante fase dos X-Men em toda a história. Claremont-Byrne até assinaram mais uma edição, mas, sinceramente, nem conta. Esse foi o fim – justamente em uma HQ inicialmente imaginada por John Byrne.

Bom, chega de blábláblá. Hora de falar da HQ em si.

X-Men #141

Um futuro negro

Em Uncanny X-Men #141 somos apresentados ao ano de 2013 – sim, em janeiro de 1981, esse era um futuro distante. Os Sentinelas dominam um futuro caótico e os mutantes são caçados, presos em campos de concentração e, eventualmente, mortos. Nem os super-humanos, não mutantes, sobreviveram a isso, já que também acabaram sendo caçados pelos robôs. Personagens como Professor Xavier, Ciclope, Homem-Aranha, Demolidor, Capitão América, Homem de Gelo, Anjo, Fera, Feiticeira Escarlate, Sr. Fantástico e tantos outros estão mortos.

Magneto, Rachel e Franklin

Magneto, Rachel e Franklin

Os Sentinelas saíram do controle até dos humanos – que, então, lançam o último plano para derrotá-los: uma bomba nuclear. Os X-Men de 2013, formados por Rachel, Franklin Richards (filho de Sue e Reed Richards), Wolverine, Colossus, Kate Pryde, Tempestade e Magneto (preso a uma cadeira de rodas, tal qual Xavier no passado) descobrem esse plano e resolvem agir, sob o risco de toda a vida na Terra ser dizimada com o desastre nuclear.

O plano que surge é desesperado, com duas linhas de ataque. Na primeira, Rachel usa seus grandes poderes para mandar a mente de Kate para 30 de outubro de 1980. Antes do caos. Antes da destruição. Antes da ascensão dos Sentinelas.

No passado, a mente da velha Kate encontra o corpo da jovem Kitty Pryde, ainda usando o codinome Ninfa. A troca de mentes a joga diretamente numa sessão de treinamento na Sala de Perigo. O resultado da viagem no tempo é deixar a mutante confusa, quase morrendo no treinamento.

A partir daí, a história se divide. No futuro, conhecemos a segunda linha de ação: defender o corpo da velha Kate com a mente da jovem Kitty. Além disso, os X-Men precisam agir para impedir que a bomba atômica seja utilizada. Não é um trabalho simples – tanto é que, logo no começo do processo, Magneto morre.

Em 1980, Kate precisa convencer os antigos companheiros de que veio do futuro – e que precisam impedir que o Senador Robert Kelly, professor Charles Xavier e Moira MacTaggert sejam mortos por uma nova versão da Irmandade de Mutantes durante uma sessão do senado sobre o perigo mutante. Essas mortes iriam aumentar o ódio contra o homo superior e, em 1984, um presidente anti-mutante, daria poder aos Sentinelas. Seria o começo do fim.

Uncanny X-Men #142

Ainda desconfiados, os X-Men vão até Washington para prevenir Xavier e salvá-lo, além da Moira e de Kelly. Descobrimos, então, quem é a grande líder da nova versão da Irmandade: Raven Darkhölme, a Mística. Com o poder de ser qualquer pessoa, ela tem acesso fácil a todos no Senado. Além dela, fazem parte da equipe os vilões Sina, Blob, Pyro e Avalanche.

Quando Kelly vai ser morto, os X-Men aparecem. Na confusão, a Mística faz de Xavier e Moira reféns. Sina, que consegue prever o futuro, nota que algo está diferente do que deveria ser – apesar de não saber da presença de Kate Pryde ali.

Wolverine MORRE

Wolverine MORRE

No futuro, os X-Men chegam no Edifício Baxter, antigo lar do Quarteto Fantástico e que se tornou a base do controle dos Sentinelas. O ataque procede de forma épica, mas sem muito resultado. Um dos robôs, ao ser atacado por Wolverine, percebe a presença do mutante e o incinera na hora – deixando apenas um esqueleto de adamantium no lugar. Tempestade é morta em seguida, também de surpresa. Colossus também morre. Com Kitty Pryde nos braços, Rachel chora. Os X-Men estão mortos.

A esperança do futuro estava no passado.

Em 1980, a luta entre X-Men e Irmandade de Mutantes continua. Com a confusão no Senado, a Guarda Nacional aparece, piorando tudo. Mostrando a preferência dos roteiristas, Wolverine e Tempestade têm os maiores destaques na luta. Ainda assim, isso não impede de ser jogado uma semente para um plot futuro: Noturno confronta a Mística, que nota uma semelhança entre ambos. Sim, a Mística é mãe do Noturno – ou, na concepção original do Claremont, o pai, com a Sina sendo a mãe. Eu sei, é complicado e a ideia acabou sendo abortada.

No meio da confusão, esqueceram justamente do Kelly – e da Sina. A vilã está prestes a matar o senador, quando Kate aparece e usa seus poderes para atrapalhar. Sina erra o tiro, Kelly não morre e, na mesma hora, a mente de Kate volta ao futuro. Trabalho concluído. Ou quase.

Anjo pergunta para o Professor X se eles conseguiram mudar o futuro. “Apenas o tempo dirá”, responde o mentor. E assim acaba a história.

Mudanças do original

Vale dizer que nem tudo da ideia original de John Byrne foi mantido. Como ele já havia deixado a publicação, Claremont se sentiu mais livre para fazer mudanças. Entre elas, reestabeleceu a ideia original de Rachel ser Rachel Summers, filha de Scott e Jean Grey – na época morta pela dupla após uma decisão de cima da Marvel no final da Saga da Fênix Negra.

Além disso, Claremont alterou o final, dando a entender que o futuro caótico não foi evitado. Tanto é que Kelly depois se lança candidato a presidente justamente apoiando o uso dos Sentinelas.

Crédito: Guia dos Quadrinhos

Crédito: Guia dos Quadrinhos

No Brasil

Apesar de ser um arco curto – apenas duas edições de Uncanny X-Men, as de número 141 e 142, demorou um bom tempo para a Abril fazer a publicação, por conta do longo delay que existia entre Brasil e EUA na época. Foi apenas em Superaventuras Marvel #45 e #46, de março e abril de 1986. Na época, a editora aproveitou a capa para fazer uma referência ao filme O Exterminador do Futuro, que foi lançado em 1984.

Depois, ocorreram poucas republicações. Uma em 1990, em X-Men Especial #2 (Abril), outra em 2003, em X-Men: Edição Histórica #3 (Mythos) e em 2007, no especial Marvel: 40 Anos de Brasil (Panini). Ou seja: se você quiser ler o arco, vai ter que correr em algum sebo ou torcer pra achar o especial de aniversário da Casa das Ideias em alguma comic shop perdida...

Continuações

Um dos efeitos de Dias do Futuro Esquecido, entre outros, foi colocar as viagens temporais e a mudança da linha do tempo no cânone mutante.

Em 1990, o mesmo Chris Claremont escreveu ao lado de Louise e Walter Simonsen o crossover Dias de um Futuro Presente, no qual Rachel Summers está no presente em um plot que envolve o jovem ameaças à vida de Franklin Richards e Nathan Summers (filho de Scott com Madalyne Pryor, clone da Jean Grey). Rachel acabou ficando no presente e se tornou parte da equipe Excalibur, que chegou a viajar para o futuro caótico dela.

Em 1991, na edição 282 de Uncanny X-Men, Whilce Portacio e Jim Lee introduziram Bishop, outro mutante do futuro. Inspirado (de uma forma não muito correta) no legado do Xavier, Bishop fazia parte de uma equipe que prendia e levava os mutantes renegados até a Justiça, criada após os próprios X-Men acabarem. Ao descobrir que a mítica equipe foi destruída por um traidor de dentro, ele viaja ao passado para evitar isso.

Anos depois, em 1995, foi a vez do presente ser mudado a partir do passado, levando aos acontecimentos da saga A Era do Apocalipse. Por fim, mais recentemente, os X-Men originais foram trazidos ao presente do Universo Marvel no gibi All-New X-Men.

No novo filme, quem viaja ao passado é o Wolverine

No novo filme, quem viaja ao passado é o Wolverine

Adaptações

Antes do novo filme, Dias de um Futuro Esquecido já teve versões para outras mídias. Uma delas foi para a série animada X-Men, exibida em meados dos anos 90, que mesclou a história do Bishop com a HQ de Claremont e Byrne – o mutante viajou para o passado para evitar que o traidor dos X-Men levasse o mundo ao domínio dos Sentinelas. Já a série Wolverine e os X-Men também aproveitou elementos da HQ para construir a sua primeira temporada.

Há quem diga que James Cameron usou também Dias de Um Futuro Esquecido como inspiração para o filme O Exterminador do Futuro. Não é verdade. Na verdade, a ideia surgiu a partir de Doctor Who. Sério. Foi mais exatamente de Day of the Daleks, arco de episódios exibida em 1972.