E além de relançar o seu primeiro e único disco, eles já tão prestes a lançar um EP com versões regravadas e, quem sabe, possam até mesmo colocar material inédito na rua
Quando a gente fala de atores/atrizes que também tem carreiras na música, inevitavelmente pensamos em uma porrada de nomes. Desde os mais óbvios, como Jack Black, Jared Leto e Juliette Lewis, passando pelo rock ‘n blues de Bruce Willis & The Accelerators, pelo rock alternativo do Dogstar (com Keanu Reeves na formação) e pelo country-folk de Kevin Bacon na dupla com o irmão Michael. Mas você já tinha imaginado que dá pra colocar um cara como o Ben Stiller nesta honrosa lista? Não, sem dúvida ele não tem esta pinta toda de rockstar. Mas digamos que até bem pouco tempo ele também não tinha uma banda, de qualquer maneira.
Quer dizer, na real, Stiller teve uma banda aos 17 anos de idade, né. Lá em 1982, ele e mais três amigos da escola nova-iorquina Calhoun School formaram um grupo bastante barulhento batizado de Capital Punishment. Embora nunca tenham feito um show de verdade (o único do qual o quarteto se lembra foi em pleno ginásio, sob o nome de Rent a Gong, numa esquisitíssima pegada meio jazz instrumental experimental), eles chegaram a lançar um disco, Roadkill, hoje uma verdadeira raridade especialmente por ter o nome de Stiller envolvido — nas baquetas, no caso. Sim, Ben Stiller não é o cantor, mas sim o baterista.
“O lançamento na época foi basicamente a gente indo de uma loja familiar até a outra em Manhattan, colocando o álbum em consignação”, explica o aspirante a documentarista Kriss Roebling, amigo de Ben e outro integrante da banda, numa entrevista pra Rolling Stone. “Foi exatamente assim. E foi assim que as pessoas eventualmente encontraram isso 30 anos depois, certo?”, completa Stiller.
Mas por que diabos Stiller, Roebling e os camaradas Peter Zusi (professor de literatura tcheca em Londres) e Peter Swann (juiz da Suprema Corte do Arizona) estão falando sobre isso 36 anos depois? Bão, porque eles voltaram a tocar juntos. E acabaram de relançar seu primeiro e único disco via Captured Tracks, incluindo faixas que nunca chegaram a ver a luz do dia no primeiro lançamento. Aliás, até sacanagem chamar de “relançamento” porque, vamos combinar, a parada nunca foi REALMENTE lançada. E pra complementar, no dia 23 de Novembro, eles colocam na rua um EP de releituras de suas próprias canções, que atende pelo simpático nome de This Is Capital Punishment.
A primeira canção divulgada é justamente uma releitura de Confusion, que também esteve na bolacha inaugural mas acabou ganhando uma versão ainda mais estranha, psicodélica, despirocada, repleta de barulhinhos sinistros.
“É muito divertido que isso esteja acontecendo”, afirma Stiller, que agora em novembro completa 53 anos. “É a última coisa no mundo que pensei que pudesse acontecer, então a natureza absolutamente inesperada disso tudo é realmente muito legal. E a melhor parte desta história é que nós, como amigos, possamos nos reencontrar e tocar juntos de novo. Esta é, de longe, a melhor parte de tudo isso”.
Embora o interesse mútuo pelo rock ‘n roll tenha começado com caras como David Bowie, Brian Eno, Daniel Lanois (que produziu The Joshua Tree e Achtung Baby pro U2) e Robert Fripp (guitarrista do combo inglês progressivo King Crimson), logo eles passaram a se interessar por umas paradas mais obscuras e alternativas, tipo os ingleses do Cabaret Voltaire – e suas performances inspiradas no dadaísmo – e seus compatriotas do Throbbing Gristle (considerados os pioneiros da chamada música industrial), além dos americanos do Chrome, devotos adeptos da boa distorção.
O resultado acabou gerando algo que dá pra se tentar definir como um pós-punk que chega a flertar com esta coisa toda industrial. “Eu sinto que, neste disco meio pateta, nosso foco estava nos sons. A ideia era mais ficar brincando com as sonoridades e os barulhos do que efetivamente compor alguma coisa”, explica Roebling. “Nós sentamos e experimentamos como fazer sons”. Para Stiller, na verdade, a única experimentação era tentar aprender como tocar o diacho da bateria. “Nenhum de nós sabia o que diabos tava fazendo ali. E esta era parte da diversão. Tipo, como isso funciona? Espera, vamos gravar a gente tentando descobrir isso”, complementa o parceiro.
E no melhor esquema faça você mesmo, sim, eles se meteram a gravar o tal do primeiro disco. A principal lembrança do ator premiado é justamente estar MUITO nervoso. “Porque eu realmente não tocava quase nada de bateria. Eu lembro de só querer muito fazer aquilo e conseguir tocar algo que fosse minimamente usável. Eu não era muito bom naquilo, dá pra perceber quando você escuta. Aliás, nem precisa ouvir com muita atenção pra sacar”.
Mas esta reunião significa que podemos esperar algo de fato INÉDITO vindo por aí, em breve? Roebling afirma que eles têm muitas novas faixas que, se tudo der certo, serão lançadas em breve. “E aí a ideia é que a gente saia numa turnê tocando todo o nosso catálogo, como os Eagles, e possamos nos aposentar em cinco anos”, finaliza Stiller.
Isso sim é um bom plano de carreira.